Apesar de preconceito injustificado, vinhos com tampa de rosca conquistam espaço

Embora com uma aceitação ainda relativamente lenta em países como o Brasil, os fechamentos screw cap, ou tampas de rosca, seguem ganhando cada dia mais espaço no universo do vinho. Estimativas indicam que cerca de 40% dos vinhos engarrafados atualmente em escala global recebem tampas de rosca. E esta proporção sobe ainda mais em países do Novo Mundo.

Embora tenha sido criado na França no final da década de 1950, foi a partir da Oceania que este fechamento conquistou o mundo. Este movimento ganhou força a partir da década de 2000, após estudos confirmarem sua eficiência, inclusive para vinhos de guarda.  Atualmente 95% dos vinhos da Nova Zelândia e 70% daqueles da Austrália usam este sistema, colocando as tradicionais rolhas de cortiça em segundo plano.

Rolha ou rosca?

Há diversas vantagens em fechamentos com as tradicionais rolhas de cortiça. Um destaque é a troca de ar que ocorre ao longo do tempo, que adiciona características desejáveis ao vinho. Mas também há diversos aspectos negativos relativos ao uso de rolhas. Além de mais caras e de reciclagem mais difícil, problemas com vinhos contaminados por TCA, os chamados vinhos bouchonées, ainda assombram tanto produtores como consumidores.

Embora a incidência de TCA tenha caído muito nos últimos anos, as estatísticas mostram que os vinhos com fechamentos com tampa de rolha seguem sendo mais seguros. Além disso, o fechamento com tampas de rosca de alumínio é mais barato e com maior possibilidade de reciclagem. O alumínio é o material mais reciclado ao redor do mundo atualmente.

Fenômeno global

Embora os países da Oceania liderem de longe as estatísticas de vinho usando screw caps, o mundo gradualmente vem se rendendo a este sistema, considerado mais barato e seguro. A proporção de vinhos com este fechamento passou de 29% em 2015 para 34% em 2021 na Europa Ocidental. Isso representa um importante avanço, considerando o perfil mais tradicionalista da região, sobretudo no caso de países produtores.

O maior avanço foi visto em vinhos brancos e rosés, com os vinhos tintos ficando um pouco para trás. Neste caso, pesa a percepção (incorreta) de que as tampas de rosca não oferecem as condições ideais de evolução de longo prazo. Estudos mostram que, se existia a probabilidade de problemas de redução nas primeiras versões das tampas de rosca, isso mudou. Novas tecnologias foram usadas, garantindo que os vinhos recebam a quantidade ideal de oxigênio para envelhecimento, inclusive para o desenvolvimento de aromas e sabores terciários.

Se na Europa muitos produtores de vinho tinto ainda parecem reticentes, aqueles dos mercados pioneiros da screw cap já abandonaram estas preocupações. Em 2001, a neo-zelandesa Vila Maria se tornou a primeira vinícola de maior porte a usar screw cap para 100% de seus vinhos, incluindo seus tintos mais caros e de maior capacidade de evolução. O movimento foi seguido por muitos outros, com resultados acima do esperado.

Resistência e preconceito

O crescimento deste sistema de fechamento só não é maior por conta do preconceito de muitos consumidores, colocando produtores de diversas regiões em posição delicada na hora de “inovar” e usar as tampas de rosca. Por exemplo, independentemente da discussão sobre o potencial de evolução dos vinhos com este fechamento, algumas regiões seguem quase que como território proibido para os screw caps.

Um exemplo é a Borgonha. Certamente lançar vinhos tradicionais e de grande potencial de guarda como vários Premier Cru e Grand Cru tintos poderia causar uma controvérsia desnecessária. Porém, em uma região onde as uvas brancas dominam a maioria dos vinhedos, é praticamente impossível encontrar vinhos com este fechamento, em qualquer faixa de preço. Não faz sentido, por exemplo, que sub-regiões produtoras de vinhos brancos mais acessíveis, como Chablis e o Mâconnais, sigam à margem deste processo.

De qualquer forma, independentemente das opções de consumidores ou produtores, o fechamento com tampas de rosca representou um dos principais avanços no mundo dos vinhos nos últimos anos. E mesmo aqueles que seguem fiéis às rolhas de cortiça se beneficiaram deste processo. O aumento da competição levou os fabricantes de rolha a investir pesado na busca de maior qualidade e alternativas para reduzir a incidência de vinhos bouchonées. E isso resultou em vinhos mais estáveis e com melhor potencial de evolução, com ganhos para todas as partes envolvidas.      

Fontes: Robb Report; Guala Closures Group; Wine News

Imagem: Nicky via Pixabay

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