Aquecimento global e as denominações de origem: mudanças à vista?

O aquecimento global é um fenômeno evidente para quem acompanha de perto o mundo do vinho. E ele não se resume apenas ao aumento nas temperaturas médias, muitas vezes acompanhado de queda no volume de chuvas. Também cresceu a incidência de fenômenos climáticos extremos, como chuvas de granizo ou geadas fora da época. Um exemplo foi a forte geada que impactou fortemente os vinhedos da Borgonha e de outras regiões francesas em 2021.

Neste contexto, não faltam medidas sugeridas ou colocadas em prática para ajudar os vinicultores negativamente afetados pelas novas condições climáticas. Parte delas conta com a participação das autoridades responsáveis pelas regras que definem as denominações de origem. No caso da França, um encontro realizado recentemente ajudou a identificar novos caminhos para minimizar os impactos do aquecimento global.

Ampliação dos rendimentos após safras difíceis

Praticamente todas as denominações de origem contam com normas específicas que regulam o rendimento máximo dos vinhedos, de forma a garantir uma melhor qualidade de seus vinhos. No entanto, dá casos onde existem disposições que permitem que estes limites sejam ampliados em safras posteriores àquelas com queda na produção significativas decorrentes de condições climáticas desfavoráveis.

Foi o caso da Borgonha e Champagne em 2022. Após a forte quebra na safra anterior causada pelas geadas no início de abril, os produtores receberam autorização para trabalhar com limites mais flexíveis, ou seja, rendimentos maiores. Na Borgonha, esta remoção do teto de produção permitiu uma produção adicional de 13.000 hectolitros, o equivalente a 1,75 milhão de garrafas. “Foi uma medida muito útil” disse Thiebault Huber, presidente da confederação de denominações e viticultores da Borgonha (CAVB). “Em anos quando há belas uvas, temos que usá-las”, acrescentou Maxime Toubart, presidente da união geral dos viticultores de Champagne.

Por conta do sucesso desta medida, já existem diversas denominações de origem solicitando regulamentação mais flexível para os rendimentos máximos. A ideia é que perdas excepcionais em uma safra sejam passíveis de compensação na colheita seguinte, como na Borgonha ou Champagne. Isso proporcionaria a recuperação dos estoques e menor pressão sobre os preços.

Autorização para vinhedos em novas áreas

No Hemisfério Norte, diversas denominações de origem consideram aptos para a elaboração de vinhos de qualidade apenas os vinhedos que têm maior exposição solar, permitindo uma melhor maturação fenólica das uvas. Com isso, muitos vinhedos de face norte são excluídos. Porém, por conta do aquecimento global, isso pode mudar.

“Estamos avançando, não há uma denominação que não trabalhe na sua adaptação às mudanças climáticas”. Estas foram as palavras de Jérôme Bauer, presidente da Cnaoc, a confederação francesa de sindicatos de denominações de origem controlada. “Vamos rever a diretiva de delimitação para permitir a integração de áreas frias ou voltadas para o norte nas áreas demarcadas”, anunciou Christian Paly, presidente do comitê nacional de vinhos AOC do INAO, sem dar mais detalhes. Já sindicatos, incluindo o de Saint-Chinian, pedem uma revisão de sua área para reintegrar setores considerados mais frios no passado.

Novas uvas?

Uma alternativa mais controversa, porém, é a possibilidade de utilização de novas uvas em adição àquelas historicamente permitidas nas denominações de origem. Neste sentido, existem dois caminhos distintos. De um lado, a possibilidade de cultivo de uvas mais adaptadas a climas mais quentes ou com maior resistência à doenças, como aprovado nos últimos anos em Bordeaux e Champagne.

Um caminho alternativo passa pela valorização de uvas historicamente presentes nas denominações de origem, mas reprovadas pelas regras atuais. Por exemplo, no passado era comum o plantio de diversas variedades no mesmo vinhedo, geralmente permitindo ao vinicultor a co-fermentação de várias uvas diferentes. Esta estratégia permitia blends variáveis, que se adequavam às condições de cada safra. Assim, obtinha-se mais equilíbrio nos vinhos, com potenciais excessos climáticos sendo minimizados pelo uso de uvas de características diferentes.     

Fonte: Vitisphere

Imagem: Couleur via Pixabay

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