Aquecimento global e seca: estudo avalia opções contra o estresse hídrico dos vinhedos

Uma das principais manifestações do aquecimento global, ao menos quando estamos falando de vinhedos na Europa, é a seca. O ano de 2022 foi extremamente seco em boa parte do Velho Continente, trazendo temores de uma forte quebra na safra. Felizmente, algumas regiões receberam chuvas na hora certa, permitindo que as videiras evitassem um quadro de déficit hídrico extremo.

Porém, o quadro de seca intensa parece se repetir na safra 2023. Deste modo, a possibilidade de ações para tentar minimizar os impactos da falta de água nas videiras ganham maior urgência. A solução mais direta, introduzir a possibilidade de irrigação (atualmente proibida em grande parte dos vinhedos europeus) voltou a ser discutida. Todavia, embora possa resolver o problema de vinhedos individuais, não funciona como solução geral: simplesmente não há água suficiente.

Com o intuito de buscar soluções alternativas para a seca, o Institut Français de la Vigne et du Vin, instituição francesa que investe em pesquisa relacionadas à vitivinicultura, divulgou os resultados de diversos estudos preliminares. As conclusões indicam alguns caminhos, mas, de forma geral, ainda não conseguem trazer soluções efetivas para atacar os impactos da seca.

Atuando nas videiras

Uma opção testada foi reduzir a quantidade de uvas (como, por exemplo, usando poda verde). Em situações de estresse hídrico moderado a alto, esta medida não parece ter efeito suficiente para compensar os efeitos da seca. Além disso, esta estratégia traz impacto sobre a maturação das uvas. Ela tende a aumentar a concentração de açúcares nas uvas em situações em que a maturação precoce já é um problema.

Outra opção proposta foi alterar a altura da vegetação. Esta possibilidade também mostrou baixo impacto no que diz respeito ao combate ao estresse hídrico.

Manejando o solo

A falta de água traz grande impacto sobre os solos, que se tornam mais secos, afetando o desenvolvimento das videiras. Para buscar a melhoria da condição hídrica do solo, foram testadas duas estratégias. A primeira consiste em limitar as perdas de água por evaporação direta através do uso de coberturas superficiais nos vinhedos. Neste caso, a aplicação de uma camada de cerca de 10 cm de sobras de madeira na superfície dos vinhedos trouxe pouca alteração no padrão de evaporação.

A segunda estratégia consiste em tentar aumentar o potencial de retenção de água dos solos, através da alteração de sua composição físico-química. Quando a opção foi pelo uso de substâncias orgânicas, o resultado foi animador no que diz respeito à qualidade do solo. Porém, não houve redução na probabilidade de estresse hídrico. O ponto principal é que esta medida teve pouco impacto nos níveis mais profundos de solo, de onde as raízes buscam água. Resultados melhores, todavia, foram obtidos quando se usou biochard, que consiste no uso de material orgânico queimado.

Controlando luz e calor

Uma terceira alternativa passa pela limitação da luz e do calor que incidem sobre as videiras. Diferentes soluções para sombreamento dos vinhedos estão sendo implementadas, principalmente usando redes de sombreamento ou painéis fotovoltaicos. Diversos estudos estão em andamento para estudar o efeito do período e da intensidade do sombreamento.

Ao contrário das demais alternativas testadas, o efeito do sombreamento sobre o estresse hídrico é significativo e duradouro. Nas uvas, o sombreamento induz um atraso na maturação do açúcar e na data de colheita de cerca de 7 a 10 dias. Porém, é acompanhado por uma diminuição na intensidade da cor das uvas, o que deve ser mais bem avaliado de acordo com a variedade ou tipo de vinho.

Conclusões

Os estudos indicam, de forma geral, que não há muitas opções técnicas viáveis para limitar os efeitos das alterações climáticas nos vinhedos. Essas ações, tomadas individualmente, não parecem ser muito eficazes, com exceção do aumento na retenção de água no solo com biochard, ou do uso de sombreamento.

Porém, os efeitos induzidos pelo atraso na maturação são numerosos e devem ser avaliados considerando a tipicidade dos vinhos produzidos e os possíveis riscos de atrasos nas colheitas sobre o rendimento ou qualidade das uvas. Deste modo, o impacto de uma única estratégia parece bastante limitado. É necessário, portanto, avaliar o impacto da soma dessas ações individuais como estratégia de adaptação frente às mudanças climáticas.

Além disso, em um contexto em que os recursos hídricos são limitados, a otimização das quantidades de irrigação utilizadas combinada com essas opções técnicas deve ser avaliada. Dentre essas opções, o manejo do solo, a relação folha/fruto ou as densidades de plantio representam caminhos possíveis. Por outro lado, estudos para a escolha das parcelas de vinhedos mais adequadas e/ou a possível mudança das variedades usadas são mais relevantes do que nunca.

Fontes: Institut Français de la Vigne et du Vin; InfoWine

Imagem: Francisco Muñoz Mendieta via Pixabay

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