Beaune é a capital do vinho na Borgonha. Apesar de ser uma cidade com apenas 22 mil habitantes, é o coração da vinicultura da região, abrigando négociants, estabelecimentos de ensino, lojas, associações de produtores e uma enorme quantidade de outros players envolvidos com o vinho. Porém, além deste papel central no vinho da Borgonha, não podemos esquecer do papel de Beaune também na produção.
Sem possuir vinhedos classificados como Grand Cru, a cidade é centro de duas denominações de origem. De um lado, a obscura Côte de Beaune AOC, muitas vezes confundida com a denominação Côte de Beaune-Villages, que combina vinhedos em diversos vilarejos da Côte d’Or. De outo lado, a Beaune AOC, que concentra os melhores vinhedos em torno da cidade-símbolo do vinho da Borgonha.
Papel crescente ao longo da história
Beaune tem uma tradição milenar na produção de vinhos. Porém, seu papel no passado era menos central que o atual. Antes da Revolução Francesa, os principais atores na elaboração de vinhos na Borgonha eram as ordens religiosas e a nobreza (sobretudo os Duques da Borgonha), com atuação pulverizada na região como um todo.
Como centro urbano, Beaune passou a ganhar mais importância a partir da criação dos Hospices de Beaune em 1443. Gradualmente, Beaune se estabeleceu como o principal vilarejo da Côte d’Or, longe, porém, do tamanho e importância de Dijon, principal cidade da região. No entanto, sua posição central na área de vinhedos, ao contrário de Dijon (que fica mais ao norte) acabou garantindo sua especialização na vitivinicultura.
Os primeiros négociants começaram suas atividades em Beaune (entre ele Maison Champy em 1720 e Bouchard Père et Fils, em 1731), segmento que passou a dominar a cidade a partir do final do século XVIII e século XIX. Foi nessa época que nomes como Joseph Drouhin, Chanson, Latour e Louis Jadot ajudaram a colocar Beaune no centro do comércio de vinhos da Borgonha. A fundação do Lycée Viticole de Beaune em 1884 foi outro passo importante.
A denominação de origem
Criada em 1936, a denominação de origem Beaune tem suas peculiaridades. Embora não conte com vinhedos Grand Cru, esta apelação conta com 42 climats classificados como Premier Cru, que correspondem a aproximadamente 71% da área total demarcada. Esta é a maior proporção de toda a Borgonha, o que não é uma coincidência para muitos. Nenhuma região da Borgonha tem também uma parcela tão alta de vinhedos nas mãos dos poderosos négociants.
No total, em 2018 eram 414 hectares plantados, dos quais 355 hectares (86%) com uvas tintas (Pinot Noir, sobretudo) e o restante (58 hectares) com variedades brancas. A proporção de vinhedos Premier Cru entre aqueles plantados com uvas tintas atingia 76%, proporção que caía para 68% no caso das variedades brancas.
A produção média entre 2014 e 2018 foi de 13.018 hectolitros, que correspondia a cerca de 1,73 milhão de garrafas/ano ou 8,4% do total da Côte de Beaune no mesmo período. Desta produção, aproximadamente 75% tinham classificação de Premier Cru. A produção média de vinhos tintos no mesmo período foi de 11.048 hectolitros, o que corresponde a cerca de 1,47 milhão de garrafas, em comparação com 262 mil de vinhos brancos.
Beaune e seus vinhedos
Os vinhedos da denominação de origem Beaune estão concentrados em uma sequência de pequenas colinas a oeste da cidade, limitados, a norte, pela rodovia A6 e a sul, pela divisa com a commune de Pommard. São vinhedos, em sua maioria, com exposição sudeste e solos argilo-calcários e que podem ser divididos em três partes.
A norte, são vinhedos como solos mais arenosos, dando origem a vinhos mais leves e de menor estrutura. A faixa central, por sua vez, concentra os melhores vinhedos, inclusive o maior climat Premier Cru de Beaune, Les Grèves, e, consequentemente os vinhos mais disputados. Por fim, as parcelas mais ao sul mostram maior concentração de argila, resultando em vinhos de mais estrutura, porém menor tensão e frescor.
Climats de destaque
Embora não faltem críticas à proporção de vinhedos Premier Cru em relação a área total, não há dúvidas que Beaune possui vinhedos de altíssima qualidade. Boa parte deles está concentrada no bloco central, sobretudo aqueles no meio da encosta. Um dos principais destaque é Les Grèves. Além de uma área significativa (33,3 hectares), é avaliado com um dos melhores de Beaune. Seus vinhos são considerados como os mais complexos, estruturados e com maior potencial de guarda nesta denominação de origem. Uma das melhores áreas dentro deste vinhedo é a Vigne de l’Enfant Jésus, que dá origem a um vinho de mesmo nome.
No mesmo bloco onde fica Les Grèves, destaque também para outros climats, como Les Teurons, Aux Cras e Les Bressandes. Já na parte mais o sul, o vinhedo mais conhecido é, sem dúvida alguma, o Clos des Mouches. Com cerca de 25 hectares de vinhos, dá origem tanto a vinhos tintos como brancos, com destaque para os últimos.
Produtores em evidência
Beaune é conhecida pela grande participação de négociants. Com a exceção da Domaine Faiveley (baseada em Nuits-Saint-Georges) concentra os principais nome que atuam no négoce da Borgonha, como Bouchard Père et Fils, Joseph Drouhin, Louis Latour e Louis Jadot. Além disso, é sede para diversos micro-négociants de sucesso, como Domainhe de Bellene, Olivier Bernstein, Jane Eire, Le Grappin e Benjamin Leroux
O produtor mais tradicional de Beaune, porém, é uma instituição da cidade. Os Hospices de Beaune contam com mais de 60 hectares de vinhedos, muitos deles em Beaune e a maior parte fruto de doações desde sua fundação em 1442. Outros produtores de destaque são Domaine de la Croix, Nicolas Rossignol, Philippe Pacalet, Vincent Girardin e Camille Giroud.
Fontes: Vins de Bourgogne; Wine Scolar Guild; Inside Burgundy, Jasper Morris
Mapa: Vins de Bourgogne
Imagem: Arquivo pessoal
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