Blaufränkisch: conheça a uva tinta da Europa Central que vem conquistado espaço

Cada dia mais, tanto os viticultores como apreciadores de bons vinhos têm dado maior atenção a uvas autóctones cultivadas em suas regiões de origem. Se por muito tempo variedades mais internacionais, como Cabernet Sauvignon, Chardonnay, Syrah ou Merlot, ocupavam posições de destaque fora de suas áreas originais, este quadro está mudando. E não há como falar de vinhos da Europa Central, mais especificamente da Áustria, sem passar pela Blaufränkisch.

Esta variedade tinta, conhecida pela sua acidez intensa e taninos marcantes, está vivendo um verdadeiro renascimento na Áustria, especialmente em Burgenland. É nesta região de planície, situada próxima da fronteira com a Hungria, que a Blaufränkisch encontra seu lar na Áustria. Burgenland concentra cerca de 83% dos vinhedos desta uva no país de Mozart.

Origem e história

Embora seja cultivada atualmente de forma mais extensiva na Hungria (onde é conhecida como Kékfrankos) do que na Áustria, é provável que a Blaufränkisch tenha origem austríaca. Documentos indicam o cultivo desta variedade na Áustria já no século XVIII, possivelmente de onde foi levada para outros destinos, tanto dentro como fora do então Império Austro-Húngaro.

Além da Hungria, onde se adaptou muito bem, também ganhou importância na Alemanha. Lá é conhecida como Lemberger ou Limberger, em homenagem à cidade de Limberg, o antigo nome de Maissau, situada a norte de Viena. Suas características, incluindo sua resistência a climas mais secos, favoreceram seu cultivo também em outras regiões do Centro-Leste Europeu. Isso ajuda a explicar o motivo por que ela prosperou tanto na Hungria, sobretudo durante o regime comunista, levando em conta também sua alta produtividade.

Desde a década de 1990, porém, o foco dos produtores, sobretudo na Áustria, tem passado mais para a qualidade. Sendo uma uva de maturação tardia, acabou beneficiada pelo aquecimento global, que garante taninos menos verdes e acidez mais contida. Há também produtores (Claus Preisinger é um exemplo) apostando em macerações mais curtas e menos extração, o que coloca a Blaufränkisch em linha com o perfil de vinhos tintos mais procurado atualmente.  

Genética e parentescos

Por muito tempo a origem genética da Blaufränkisch foi motivo de controvérsia. Porém, análises genéticas recentes mostram que ela um cruzamento natural entre duas uvas atualmente pouco cultivadas. De um lado, ela tem a uva branca Gouais Blanc, conhecida nos países de língua alemã como Weisser Heunisch, como “mãe”. Isso a coloca como meia-irmã de uvas como Chardonnay, Gamay, Aligoté ou Melon de Bourgogne.

A segunda variedade identificada foi a italiana Sbulzina, uma uva tinta de maturação tardia plantada no Friuli, também chamada de Blaue Zimmettraube. A confirmação da origem genética da Blaufränkisch ajudou também no mapeamento genealógico de uvas que dela derivam, como a Zweigelt (variedade criada na década de 1920 e hoje uva tinta mais plantada na Áustria), Blauburger, Roesler e Ráthay.

Características e vinhos

 Os cachos da Blaufränkisch são grandes, com formato cônico e de média densidade, com grãos arredondados e de coloração negro-azulada. É uma variedade de grande resistência ao frio durante o inverno, mas que precisa de muito sol no verão, o que torna a Europa Central uma área bastante adequada. Ela é conhecida pela sua brotação precoce e maturação tardia, com alta produtividade.

O olfativo típico dos vinhos elaborados a partir da Blaufränkisch exibe notas intensas de frutas negras (ameixa e cereja negra), com notas de especiarias (sobretudo pimenta negra). No palato, são vinhos de alta acidez, frescor e taninos marcantes, o que leva alguns críticos a compará-la com versões mais recentes da Sangiovese.

Historicamente, seus vinhos são intensos, densos e adstringentes na juventude, mas desenvolvem facetas aveludadas quando suficientemente maduros, com ótimo potencial de envelhecimento. Porém, como citado anteriormente, há expressões mais leves e aptas para rápido consumo, por conta de colheitas mais prematuras e macerações curtas.

Área plantada

Segundo dados da OIV, a área plantada de Blaufränkisch ao redor do mundo, em 2015, era de 17.075 hectares. Apesar de estar muita associada à Áustria, sobretudo a região de Burgenland, tem uma distribuição bastante ampla. O principal destaque fica com diversos países da Europa Central e do Leste, que representam mais de 98% da área plantada no mundo. No entanto, ela vem ganhando espaço também no Novo Mundo, como na região australiana de Adelaide Hills. Também tem presença nos Estados Unidos, com cerca de 100 hectares plantados, sobretudo em Finger Lakes, Califórnia e no estado de Washington (onde é chamada Lemberger).

Tendo a Europa Central como origem e refletindo suas condições climáticas e históricas, a Hungria mostra a maior área plantada de Blaufränkisch, com 7.229 hectares. Com extensos vinhedos na região de Sopron, isso corresponde a cerca de 42,3% do total mundial. A seguir, vem Áustria, com 3.011 ha (17,6%), seguida por Alemanha (1.846 ha, ou 10,8%), Eslováquia (1.641 ha, 9,6%), República Checa (1.142 ha, 6,7%), Romênia (729 ha, 4,3%) e Eslovênia (680 ha, 4%).

Nomes alternativos

Por conta da diversidade de regiões produtoras, a Blaufränkisch recebe uma grande quantidade de nomes. Alguns deles são usados nas regiões de maior produção, como Kékfrankos (Hungria), Limberger (Alemanha), Frankovka (República Checa), Frankovka Modra (Eslováquia), Modra Frankinja (Eslovênia), Gamé (Bulgária) e Franconia (Itália.)

Os demais nomes, segundo o catálogo da Universidade da California – Davis, são: Blanc Doux, Blau Fraenkisch, Blau Fraenkische, Blauer Lemberger, Blauer Limberger, Blaufränkisch, Blaufranchis, Blaufranchisch, Blue French, Burgund Kekfrankos, Burgund Mare, Cerne, Cerne Skalicke, Cerne Starosvetske, Cerny Muskatel, Chirokolistny, Cierny Zierfandler, Crna Frankovka, Crna Moravka, Fernon, Fraenkische, Fraenkische Schwarz, Franconia nera, Franconia nero, Franconien bleu, Franconien noir, , Frankinja Modra, Frankovka Cerna, Frankovka Crna Fruehschwarze, Grossburgunder, Imberghem, Imbergher, Jubilaeumsrebe, Karmazin, Kekfrank, Kek Frankos, Kekfrankos, Lampart, Lemberger, Limberg, Limberger blauer, Limberger noir, Limburske, Maehrische, Modra Frankija, Modra Frankinja, Modry Hyblink, Moravka, Moravske, Muskateller Schwarz, Nagyburgundi, Neskorak, Neskore, Neskore Cierne, Noir de Franconie, Oporto, Orna Frankovka, Portugais Lerouse, Portugais Leroux, Portugais Rouge, Portugieser Rother, Pozdni, Pozdni Skalicke Cerne, Schwarz Limberger, Schwarz Fraenkische, Schwarzer Burgunder, Schwarzgrobe, Serina, Shirokolistnyi, Sirokolidtnyj, Sirokolstnii, Starosvetske, Starovetsky Hrozen, Szeleslevelue, Teltfuertue Kekfrankos, Teltfurtu Kekfrankos, Vaghyburgundi, Velke Bugundske e Vojvodino.

Fontes: Foundation Plants Services Grapes, UC Davis; Distribution of the World´s Grapevine Varieties, OIV; Austrian Wines; Jancis Robinson; Taste of Hungary; Wine Anorak

Imagem: Foundation Plants Services Grapes, UC Davis

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