Bodega Akutain: uma expressão clássica da Rioja, integrando vinhedos e produção

A Rioja é uma região de referência do vinho espanhol. Ganhou enorme protagonismo a partir da segunda metade do século XIX, quando a filoxera devastou vinhedos por toda a Europa, sobretudo a França. Isso abriu espaço para novas regiões, que adotaram alguns dos princípios da vinicultura francesa. No caso da Rioja, isso se reflete na escolha de tintos com passagem em madeira, com clara inspiração nos vinhos de Bordeaux.

No entanto, o vinho da Rioja deve algo também a outras regiões francesas, sobretudo a Champagne. Ao contrário de Bordeaux, onde as vinícolas têm posse dos vinhedos, plenamente integrando a viticultura com a vinicultura, na Rioja predomina um modelo diferente. Em sua maioria, as grandes vinícolas (que até hoje dominam o mercado) compram uvas de pequenos viticultores, em um modelo próximo ao de Champagne.

Popular no passado também em outras regiões francesas, com a Borgonha, este modelo vem sendo gradualmente abandonado ao redor do mundo. Não há dúvida que há enormes vantagens em termos de qualidade ao integrar o trabalho dos vinhedos com a elaboração dos vinhos. E esta é a proposta da Bodega Akutain, que usa esta estratégia, porém mantendo o estilo tradicional dos vinhos da Rioja.

Orientação dos mestres

A Bodega Akutain foi criada na década de 1970, quando Juan José Peñagarikano Akutain adquiriu seu primeiro vinhedo (La Manzanera), na Rioja Alta. Juan José não tinha experiência como vinhateiro, mas muita proximidade com o mundo do vinho. Por muitos anos, vendeu equipamentos (sobretudo sistemas de refrigeração) para muitas das principais vinícolas da região, como CVNE e La Rioja Alta.

Apaixonado pelo vinho, decidiu criar sua própria vinícola em 1976. Para tal, porém, contou com a assessoria de alguns dos mais respeitados enólogos da região, que o ajudaram tanto na escolha dos melhores vinhedos como na própria elaboração dos vinhos. Entre eles, destaque para Basilio Izquierdo, que por muitos anos conduziu uma das fases áureas da CVNE. Nascia uma vinícola com foco em vinhos clássicos da Rioja, porém adotando um modelo de negócios que apresenta claras vantagens para a elaboração de vinhos de qualidade.

Juan José se aposentou e, a partir de 2023, transferiu o controle da vinícola para seu filho, Jon Peñagarikano Akutain. Desde então, Jon reforçou o modelo.  A Bodega Akutain hoje conta com vinhedos, instalações e equipamentos necessários para realizar todo o processo de produção de vinhos. Começa nos vinhedos, passando pela elaboração, envelhecimento, engarrafamento e rotulagem final.

O cenário da Rioja Alta

Vinhedos

A Bodega Akutain conta atualmente com cerca de 6,7 hectares de videiras, divididos em quatro vinhedos próximos da vinícola, entre um e dois hectares cada, além de uma pequena parcela dedicada a uma uva rara na Rioja, a Maturana Tinta. Todos os vinhedos são cultivados de forma sustentável nas encostas dos Montes Obarenes, na Rioja Alta. Não há uso de herbicidas e fertilizantes sintéticos, com utilização de calda bordalesa para doenças fúngicas (em linha com a agricultura orgânica) e ênfase na cobertura vegetal, para proteger os solos.

Por conta da maior altitude (entre 500 e 650 metros em relação ao nível do mar), ficam entre aqueles de colheita mais tardia de toda a Rioja, geralmente na primeira metade de outubro. A Tempranillo é a uva dominante, com mais de 90% da área plantada, seguida por Garnacha (5%), Viura (2%) e a já citada Maturana Tinta (2%).

Vinificação

Jon Peñagarikano é adepto dos princípios da microvinificação. Cada parcela é vinificada de forma individual, com coupage somente no final. Se coloca também com um produtor de baixa intervenção, com pequena adição de sulfitos, sem uso de outros aditivos. Seus vinhos tintos seguem um processo único de vinificação, com diferenças no tempo de permanência em inox ou barricas.

Após colheita manual, as uvas (100% desengaçadas) passam por maceração a frio de um a dois dias, com fermentação de cada parcela por cerca de 10 dias em tanques cilíndricos, metade de inox e fibra de vidro. Há uso apenas de leveduras indígenas e o vinho passa por remontage regular. A fermentação maloláctica ocorre em tanques, durando entre um a cinco meses (geralmente durante o inverno), com várias trasfegas. Boa parte dos vinhos segue para barricas, para posterior engarrafamento sem filtração.

Também na escolha das barricas, a Akutain segue os princípios tradicionais da Rioja, mas com preocupação com a qualidade. As barricas de carvalho americano predominam (70% a 80%), com o restante em barricas francesas. Predominam as barricas usadas, com máximo de 10% novas. Porém, para evitar o risco de contaminação com barricas de múltiplos usos, a Akutain adquire somente barricas novas e as mantêm na vinícola para envelhecimento.

Vinho de entrada

Com uma produção total na faixa de apenas 30 mil garrafas, a Bodega Akutain claramente se enquadra como uma vinícola artesanal. Sua linha regular de vinhos (chamada Akutain Classic) inclui quatro cuvées distintas, elaboradas de acordo com os princípios da pirâmide de classificação de acordo com o tempo de passagem por barricas da Rioja.

O Rioja Cosecha, elaborado a partir de vinhas mais jovens e de menor altitude de Tempranillo, não tem tempo de passagem por madeira e vai diretamente para garrafas após a maloláctica, É um vinho fresco e frutado, mas com capacidade de evolução entre quatro a cinco anos. Ao contrário da maioria dos produtores locais, que lançam seus Cosecha na primavera seguinte à safra, o vinho fica mais um ano em garrafa na vinícola. Com produção em torno de 10 mil garrafas, é o vinho de entrada da vinícola.

Crianza, Reserva e Gran Reserva

O Rioja Crianza é a cuvée, dentre aqueles com passagem em madeira, com maior produção, em torno de 10 mil garrafas ao ano. Corte de 93% Tempranillo, 5% Garnacha e 2% Viura, fica entre 15 a 20 meses em barricas, com trasfega a cada seis meses, seguidos por ao menos 12 meses em garrafa. O objetivo é manter a fruta, mas ganhar complexidade, profundidade e maior potencial de guarda, talvez até dez anos.

Com produção na mesma faixa e corte similar, o Rioja Reserva ganha mais complexidade e profundidade, por conta do estágio entre 20 a 30 meses em barricas. Não é produzido em todas as safras (uma média de duas de cada três), com produção média de 8.000 garrafas e pico de qualidade em torno de 10 anos a partir de sua safra. Por fim, o Rioja Gran Reserva é elaborado apenas uma ou duas vezes por década, somente em safras de alta qualidade. Alguns exemplos são 2004, 2015 e 2020. Seu momento de consumo ideal é até 20 anos após a safra.

Akutain Selection

Além de sua linha tradicional, a Bodega Akutain criou também a linha Akutain Selection, com vinificações específicas, limitadas a mil garrafas cada. Um dos exemplos de sucesso é o Rosado Gran Reserva. Este 100% Tempranillo rosé passa dois anos em barrica e seduz sommeliers pela sua qualidade. Chama a atenção também o Reserva Selección, seleção das melhores barricas, em outras safras destinadas ao Reserva Classic.

Esta linha, porém, não se restringe aos vinhos com passagem em madeira. O Cosecha Selección, conta com uvas de vinhas mais velhas e de mais altitude. É lançado somente cinco anos após sua safra, com passagem somente por inox e garrafa. Há também outros projetos em andamento, incluindo um Blanco Gran Reserva.

Nome da VinícolaBodega AkutainEstabelecida1975Website https://bodegaakutain.com/en/VinhateirosJon Peñagarikano Akutain, Ángel OlmosUvasTempranillo, Garnacha, Viura, Maturana TintaÁrea de Vinhedos6,7 haSede da VinícolaHaro (Rioja)Denominação de Origem Rioja PaísEspanhaAgriculturaSustentávelVinificaçãoBaixa IntervençãoImportador no BrasilTanyno

Fonte: Entrevista e site do produtor

Imagem: Bodega Akutain

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