Bordeaux: plano de extração de videiras para contornar grave crise gera controvérsias

Talvez nenhuma região do mundo evidencie tanto a elitização do vinho nas últimas décadas como Bordeaux. Enquanto o valor por hectare nas suas principais denominações de origem explodiu, refletindo também em preços mais altos para os vinhos mais caros, a situação é completamente distinta para a maioria dos produtores da região. E a solução proposta é simples: reduzir a produção, através da extração de uma grande área de vinhedos.

Esta medida extrema já havia sido proposta durante a crise causada pela COVID-19, mas agora ganha novas dimensões. A discussão foca tanto na área de vinhedos como no valor das indenizações. Os produtores pressionam por mais hectares e valores mais altos. Já as autoridades francesas e da região de Bordeaux oferecem valores considerados insuficientes e extração de áreas menores.

Protestos em 2022

No final de 2002 um grande protesto, possivelmente o maior em duas décadas, reuniu os produtores de Bordeaux. O objetivo foi pedir ajuda e compensação financeira adequada (algo na faixa de € 10 mil por hectare) ao governo francês, para um esquema de extração de videiras. Os produtores deixaram claro que mais de mais de 1.300 viticultores estão em dificuldades, compreendendo uma área total de vinhedos próxima a 35 mil hectares.

O objetivo é reduzir a oferta de vinhos da região, que vem sofrendo com uma variedade de problemas sérios. Do lado dos custos, os produtores são pressionados pelo aumento do preço de matérias-primas e insumos (equipamentos, garrafas etc.), além de maiores custos de logística e distribuição. Já em relação à demanda, a situação segue complicada. Houve forte queda nos embarques de vinhos para a China e existe uma tendência de menor consumo de vinhos tintos também na França. A consequência? Prejuízos para muitos produtores.

Ajuda proposta

O anúncio da resposta das autoridades ocorreu no início de março. Segundo a proposta, os produtores de Bordeaux receberão apoio financeiro para arrancar 9.500 hectares de videiras. Isso corresponde a menos de 9% da área total de 108 mil hectares. Os planos foram confirmados pelo ministro da Agricultura, Marc Fesneau, pelo presidente da região da Nova Aquitânia, Alain Rousset, pelo presidente do Conseil Interprofessionnel du Vin de Bordeaux (CIVB), Allan Sichel, e pelo vice-presidente do CIVB, Bernard Farges, durante uma conferência de imprensa na Feira Internacional de Agricultura, em Paris, em 1º de março de 2023.

O financiamento considera uma ajuda inicial de € 57 milhões, financiada, em parte, pelo governo francês (€ 38 milhões) e pelo CIVB, com € 19 milhões. Estes valores implicam um pagamento de € 6 mil por hectare. Este, porém, seria apenas o primeiro passo, segundo Bernard Farges. “Esses números iniciais são, sem dúvida, insuficientes.”

Reação dos viticultores

Os produtores deixaram clara sua insatisfação, reforçando seus pedidos originais. Segundo a publicação francesa Vitisphere, a pedida seria de € 10 mil por hectare, considerando a extração de 15 a 20 mil hectares de videiras, para um investimento entre € 150 e 200 milhões. “Não estamos satisfeitos, pensamos em um esforço maior, que realmente as autoridades tomariam consciência da gravidade da situação”, disse Didier Cousiney, presidente do Gironde Winegrowers’ Collective.

Os produtores reforçam que existem 35 mil hectares de vinhedos em dificuldade, divididos entre 1.320 vinícolas, concentradas sobretudo em Côtes de Bourg, Blaye, Entre-deux-Mers e Médoc. A proposta do governo não satisfez também os membros da Confédération Paysanne, que chama a proposta de um “micro-orçamento face a um grave problema industrial”. 

Este sindicato de produtores deixa clara sua insatisfação. “Este plano mostra claramente que o CIVB não tem consciência da magnitude do problema, pelo qual é a principal responsável. A economia de uma região está implodindo, e a resposta não está à altura. As vendas com prejuízo continuarão e as falências se multiplicarão”.

Fontes: Meininger’s; Vitisphere; VinoJoy

Imagem: Jane & Tony Ackerley via Pixabay

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