Certificação francesa HVE anuncia mudanças e polêmica muda de lado

Sustentabilidade é uma expressão em voga neste momento, e não poderia ser diferente quando falamos do mundo do vinho. Preocupados em conter os excessos no uso de fertilizantes, pesticidas e herbicidas sintéticos, viticultores ao redor do mundo começaram a adotar práticas mais sustentáveis, com o apoio e certificação de órgãos específicos.

No caso da França, além das certificações orgânica e biodinâmica, existe também uma terceira alternativa, considerada a mais simples e fácil de ser obtida.  A certificação Haute Valeur Environnementale (HVE) foi lançada pelo governo francês em 2012, constituindo uma espécie de passo intermediário entre a agricultura convencional e os regulamentos mais estritos das certificações orgânica e biodinâmica.

No entanto, a certificação HVE vem sendo alvo de críticas desde então, por ser considerada como pouco efetiva. Para muita gente, ela é mais uma peça de marketing, dentro de um conceito conhecido como green washing, do que um arcabouço eficiente para garantir maior sustentabilidade no cultivo de vinhedos. Mas as autoridades francesas decidiram agir, impondo regras mais rigorosas. E agora as críticas mudaram de lado.

Mudanças e reação

As autoridades francesas anunciaram em novembro algumas mudanças nas regras desta certificação, válidas a partir de 2023 e com período de adaptação por parte dos viticultores até a safra de 2025.  De forma geral, a nova regulamentação HVE coloca um foco maior na biodiversidade microbiológica, proíbe os pesticidas sintéticos mais perigosos e exige uma redução na fertilização nitrogenada. Estas condições, por exemplo, já são parte dos regulamentos da certificação orgânica. Existe agora um sistema de pontos, que premia os viticultores com maiores avanços e penaliza os que seguem usando fertilizantes e pesticidas sintéticos.

Os viticultores que já são certificados HVE terão algum tempo para se adequar ao novo padrão HVE, mas devem agir rápido para não perder sua certificação em 2025, caso as novas normas não sejam cumpridas. Isso criou uma comoção entre muitos produtores, que consideram a regra nova uma espécie de traição. Uma carta de Jean-Jacques Jarjanette, presidente da Associação de Desenvolvimento HVE para o Ministro da Agricultura francês, Mac Fesneau, mostra isso. A mensagem da carta é clara: “Isso não é um incentivo. É uma quebra de confiança”.

Qual o ponto de equilíbrio?

Nesta discussão, é difícil dizer qual o ponto de equilíbrio. De um lado, há viticultores que realizaram um trabalho intenso em tratar seus vinhedos de forma mais sustentável, boa parte dos quais indo além, buscando as certificações orgânica ou biodinâmica. Porém, mesmo nestes casos há controvérsias.

É o caso do uso de enxofre e cobre para combater doenças fúngicas, substituindo fungicidas sintéticos. Para alguns produtores, estes tratamentos em excesso (permitidos nas agriculturas orgânica e biodinâmica), podem ser ainda mais prejudiciais aos vinhedos do que uma eventual aplicação de fungicidas sintéticos, caso seja necessário. Por conta disso, alguns deles optaram por buscar apenas certificação sustentável, que dá maior margem de manobra no caso de eventos climáticos extremos.

Aliás, a maior ocorrência destes eventos extremos (geadas, chuvas de granizo, seca, excesso de chuvas e outros) é um dos argumentos daqueles que criticam as novas regras HVE. Por outro lado, há quem afirme que um bom trabalho nos vinhedos (que é mais caro e exige maior dedicação) consegue minimizar estes impactos. Onde fica o ponto de equilíbrio das regras de certificação? No caso da HVE o desafio mudou. Se antes podia ser vista como ineficiente e incompleta, o risco agora é perder espaço por conta da saída de muitos viticultores.    

Fontes: Ce que le nouveau référentiel HVE change en viticulture, Vitisphere; Les vignerons les plus investis dans HVE se sentent les plus trahis, Vitisphere; BK Wine

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