Com um rápido avanço nos últimos anos, a França assumiu a liderança mundial no que diz respeito a videiras de cultivo orgânico. Com quase 160 mil hectares de vinhedos certificados no final de 2021, a proporção de vinhedos orgânicos atingiu quase 20% da área total de vinhas na França. Porém, o avanço varia bastante entre suas diversas regiões.
E uma das regiões onde a proporção de vinhedos com certificação orgânica é mais baixa é a Champagne. Apesar de ser a região francesa com maior preço médio por hectare de vinhedos, as condições climáticas da região dificultam este modo de agricultura. O clima mais frio, menor quantidade de horas de sol e umidade são propícias para o desenvolvimento de doenças fúngicas, em especial o míldio. Por conta disso, são poucos os produtores que se arriscam a suspender o uso de fungicidas sintéticos, algo proibido na certificação orgânica. Jonny Simms, embaixador da Perrier-Jouët, chegou a afirmar em 2021 que a viticultura orgânica na região seria “quase impossível”.
No entanto, por conta do esforço de diversos produtores reunidos em torno da Association des Champagnes Biologiques (ACB), este quadro vem mudando nos últimos anos. Fundada em 1998, a ACB reúne atualmente cerca de 115 produtores independentes e maisons, com o objetivo principal de difundir a agricultura orgânica na região. E os resultados são promissores.
Certificação em crescimento
Com cerca de 34 mil hectares de vinhedos, 16.200 viticultores e 4.300 produtores, a Champagne é um dos destaques da viticultura francesa. Porém, quando se leva em conta a agricultura orgânica, o quadro é distinto. No final de 2021, a produção de Champanhes orgânicos envolvia 598 propriedades e 2.751 hectares de vinhedos, incluindo 1.790 hectares em conversão.
Em termos relativos, os viticultores com certificação orgânica eram apenas 3,9% do total, com cerca de 8,0% da área plantada. No entanto, embora estes valores ainda sejam muito inferiores aos de outras denominações, correspondem a um aumento da superfície de 34% em relação a 2020. Os maiores avanços ocorreram na região de Marne, que viu a área certificada orgânica crescer 37%, para 2.085 hectares, ou 9,2% dos vinhedos totais.
Passos intermediários
Há uma outra forma, porém, de avaliar os esforços da região de Champagne rumo a vinhedos mais sustentáveis. Em uma reunião realizada em dezembro de 2022, a Association Viticole Champenoise (AVC) comprometeu-se a tornar-se neutra em CO2 até 2050 e eliminar o uso de herbicidas até 2025, a não ser em situações de extrema necessidade. O corresponsável pelo Comité Champagne, Maxime Toubart, deixou claro que “a proibição de herbicidas não será incluída nas especificações da Champagne AOC”.
Para muitos viticultores, estes avanços são tímidos. Desde o anúncio do plano, há protestos por parte de viticultores e produtores, culminando com uma carta aberta de 125 viticultores ao jornal francês Le Monde. Eles exigem a adesão compulsória às metas estabelecidas de não haver herbicidas. Jérôme Bourgeois, presidente da ACB, afirmou em entrevista ao Wine-Searcher que “é inaceitável que uma denominação de prestígio como Champagne volte atrás em uma importante promessa ambiental feita há cinco anos, especialmente nas condições climáticas atuais”.
Este debate evidencia de forma clara a queda de braço em relação aos rumos de formas mais sustentáveis de agricultura na Champagne. De um lado, diversas vinícolas independentes (contando com o apoio de alguns produtores de maior porte, como Drappier, De Souza e Louis Roderet) seguem comprometidas com a agricultura orgânica. De outro, boa parte das grandes maisons e dos viticultores que fornecem uvas para eles adotam uma postura mais conservadora, mantendo o Champagne na “zona de rebaixamento” em termos de sustentabilidade de vinhedos na França.
Fontes: CIVC; Association des Champagnes Biologiques; Meininger´s; The Drinks Business
Imagem: Myriams-Fotos via Pixabay
Gráfico: Association des Champagnes Biologiques
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