O Jura conta não somente com alguns dos mais lindos cenários da França. É também origem de vinhos cada dia mais disputados no mercado, seja pela qualidade como pela escassez. E, tanto falando de beleza como de vinhos, um vilarejo do Jura chama a atenção. Situado no alto de uma escarpa rochosa e em torno das ruínas de um monastério medieval, Château-Chalon é um dos mais charmosos vilarejos da França.
Seus vinhos representam a tradição do Jura. Criada em 1936, a denominação de origem Château-Chalon permite apenas a elaboração de um estilo de vinho, a partir de uma única uva. É a parte do Jura onde o Vin Jaune reina soberano, colocando em destaque este vinho oxidativo elaborado a partir da Savagnin, uma das uvas ancestrais do continente europeu.
Longa história
As primeiras menções ao vilarejo se referem à abadia das monjas de Château-Chalon em 869 d.C., embora a fundação da abadia seja anterior a esta data, possivelmente ainda no século VII. A história da vinicultura na região também tem ligação com esta instituição religiosa. Além da qualidade dos vinhos (basta lembrar da tradição das ordens religiosas em áreas próximas, como a Borgonha), contava também o network das religiosas.
Para fazer parte desta abadia, as monjas beneditinas deveriam fazer parte da nobreza e isso também ajudou na disseminação dos vinhos produzidos em Château-Chalon. Por conta disso e de sua qualidade, os vinhos, na época conhecidos como Vin de Garde ou Vin de Gelée, eram consumidos por diversas famílias nobres ao redor da Europa, criando uma reputação que dura até hoje.
Com a Revolução Francesa de 1789 (que confiscou as terras das Igreja) e, sobretudo, após a filoxera na segunda metade do século XIX, a produção de vinhos registrou forte queda. A recuperação veio somente no século XX, contando com a criação, em 14 de maio de 1933, do sindicato dos produtores de Château-Chalon e o reconhecimento da denominação de origem em 31 de maio de 1936.
Localização e denominação de origem
Château-Chalon fica na área central do Jura, a cerca de 25 quilômetros de Arbois, principal cidade da região. Outros pontos importantes de referência são Beaune (já na Borgonha, cerca de 100 quilômetros a noroeste) e Genebra (na Suíça, aproximadamente 110 quilômetros a sudeste). A área total da denominação de origem inclui cerca de 50 hectares de vinhedos, distribuídos pelas communes de Château-Chalon, Domblans, Menetru-le-Vignoble e Nevy-sur-Seille.
Apenas um estilo de vinho é produzido, o Vin Jaune, com uma produção anual de cerca de 1.600 hectolitros. Vale lembrar que os vinhos são engarrafados como Château-Chalon somente em boas safras. Por exemplo, os vinhos das colheitas de 1974, 1980, 1984 e 2001 não atingiram os critérios mínimos e receberam classificação Côtes du Jura AOC. Estes critérios são rigorosos e determinados por uma comissão especial, chamada de Les Porteurs de Mémoire, em três etapas. São elas: controle dos vinhedos, avaliação dos vinhos-base e, finalmente, degustação dos vinhos após o período de envelhecimento ou seja, já como Vin Jaune.
Os vinhos
Os Vins Jaune, símbolo da região de Château-Chalon, são vinhos especiais. São elaborados a partir da Savagnin, utilizando o processo chamado de sous voile. Ele consiste em deixar o vinho em barris de carvalho não totalmente preenchidos (com uma quantidade de ar dentro) por pelo menos seis anos. Sem que o vinho seja movimentado, com o tempo (algumas semanas ou meses), uma camada de leveduras se desenvolve entre o vinho e o ar existente dentro do barril. Esta camada recebe o nome de voile, em francês.
Por conta deste processo de elaboração e envelhecimento, os Vin Jaune adquirem características próprias. Podem ser mantidos por décadas em garrafas (o que explica serem chamados de Vin de Garde no passado). No visual, mostram coloração amarela/dourada intensa, daí o nome atual (usado somente a partir do século XX) de Vin Jaune. São vinhos secos, complexos, poderosos e muito persistentes, com aromas de frutas secas, especialmente nozes, frutas cristalizadas e especiarias (curry, canela, noz-moscada, baunilha).
Outra peculiaridade dos vinhos de Château-Chalon é formato da garrafa. Recebe o nome de clavelin, é arredondada e sua capacidade é de apenas 620 ml. Reza a lenda que a diferença da quantidade de vinho deste recipiente para a garrafa tradicional de 750 ml seria a “parte nos anjos”. Na verdade, o volume de vinhos nos barris cai bastante por conta da evaporação durante o longo tempo de envelhecimento e os produtores optaram por uma garrafa de menor porte. Mais uma particularidade: somente os clavelins de Château-Chalon recebem um selo com o nome do vilarejo.
Produtores de destaque
Um dos principais responsáveis pelo sucesso dos vinhos de Château-Chalon nas últimas décadas foi Jean Macle. Ele dirigiu a Domaine Macle por muitos anos e foi também prefeito do vilarejo por mais de duas décadas. Falecido em 2021, passou o controle da vinícola para seu fillho Laurent e, além de elaborar vinhos de alta qualidade, batalhou por critérios rigorosos para os vinhos da região.
Além da Domaine Macle, são cerca de 180 viticultores atuando nesta denominação de origem, muitos com pequenas parcelas de vinhedos. Embora boa parte venda suas uvas para a Fruitière Vinicole de Voiteur (cooperativa local) e para Maison du Vigneron, há outros produtores elaborando vinhos próprios de alta gama na região. Destaques para Domaine Berthet-Bondet, Domaine Jean-Claude Crédoz, Jean Bourdy, Philippe Butin, Daniel et Pascal Chalandard, Franck Guigneret, Domaine de la Pinte e Domaine Salvadori.
Fontes: Cahier des Charges de l’Appellation d’Origine Contrôlée Château-Chalon; Jura Wine, Wink Lorch; Jura Vins; Domaine Rolet
Imagens: Arquivo pessoal e Comité Interprofessionnel des Vins du Jura. © Jérôme Genée
Mapa: Wine Scholar Guild
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