Comprando vinhos: cinco mitos que não devem influenciar sua escolha

Você e aquele paredão de vinhos da prateleira do supermercado: o que fazer na hora de comprar um vinho para o almoço da família? Relaxe, você não é o único que passou por isso. Comprar o vinho certo pode ser uma tarefa complicada para quem não tem tempo para estudar e analisar os melhores vinhos disponíveis na faixa de preços que você pode pagar.

Uma alternativa é buscar ajuda de quem tem o tempo e/ou recursos para provar. O segredo aí, porém, é identificar quais críticos ou “influenciadores” entendem do assunto e não “tem rabo preso” com importadoras ou produtores. Infelizmente, é comum no Brasil a atuação de “influenciadores” sem o conhecimento necessário e, pior, que promovem vinhos onde são parte interessada. Lamentável.

Porém, você pode optar por fazer suas próprias escolhas. Antes disso, todavia, existem alguns mitos do vinho que tem que cair por terra. Escolhemos cinco deles, narrativas incorretas que, de tanto serem repetidas, parece que se tornaram verdade para muita gente. Entender alguns conceitos básicos certamente vai te ajudar a tomar melhores decisões.

1 – Visibilidade do produtor

Muita gente ainda acredita que vinho de produtor conhecido não tem erro. Não há dúvida que optar pelo produtor certo pode fazer uma enorme diferença na hora de escolher um vinho. Porém, produtor conhecido não é, nem de longe, sinônimo de bom produtor. Muitas vinícolas são amplamente conhecidas não pela qualidade de seus vinhos, mas como resultado de contínuas e bem-sucedidas ações de marketing.

Para facilitar seu raciocínio, pense em um restaurante. Quantos dos melhores restaurantes do mundo gastam dinheiro para se promover? De forma geral, são conhecidos por conta da qualidade da comida e serviço. Por sua vez, quem não se destaca nestes critérios acaba tendo que investir em publicidade para chamar a atenção.

Com o vinho, a mesma lógica se aplica. É sempre importante lembrar que a forma mais comum de fazer um vinho ficar conhecido não é fazer publicidade tradicional, com anúncios. Infelizmente, é recorrente a ação de alguns dos tais “influenciadores” do vinho. Estes, em troca de viagens, descontos, jantares e outros “presentinhos”, acabam divulgando os vinhos para seus seguidores. Obviamente, existe muita gente séria e isenta neste mercado, mas a quantidade de “agraciados” por importadoras e produtores chama a atenção. Portanto, já ter ouvido falar muito de um vinho muitas vezes não tem qualquer relação com sua qualidade.

2 – Região de origem

Outro mito é que aquele que sempre associa a qualidade de um vinho com a região de sua produção. De novo, o diabo está nos detalhes. Sim, há regiões conhecidas por produzirem vinhos incríveis, mas isso não implica que todos os vinhos desta região sejam de alta qualidade. Um exemplo típico é a Borgonha.

Esta região francesa dá origem a alguns dos melhores vinhos do mundo. Porém, também produz muito vinho medíocre e que, pior, “pega carona” na fama da região e é vendido a preços elevados. Posso te garantir que a probabilidade de comprar um vinho barato desta região que realmente faça jus à reputação é pequena. Beber Borgonha de alta gama é caro, desconfie quando aparecem vinhos desta região com preços muito baixos. Não há almoço grátis, já dizia o ditado.

Obviamente, Borgonha não é única região que você precisa ficar de olho. Infelizmente, é muito comum no Brasil a tentativa de associar vinhos medíocres com grandes regiões. Há importadoras ou lojas online especializadas em divulgar narrativas fantasiosas e criativas, oferecendo vinhos medianos como se fossem grandes achados. Fique de olho e não compre deste pessoal.

3 – Rótulo atrativo

Não há como negar que rótulos chamam a atenção. E há rótulos para todos os gostos. Existem aqueles de regiões e vinhos mais clássicos, onde rótulos austeros ou com referências a castelos ou palácios remetem à nobreza e sofisticação, conquistando uma parcela dos degustadores. Por outro lado, há também os rótulos descolados ou divertidos, imensamente populares para outro público-alvo.

Porém, a realidade é crua e nua: não existe relação entre o rótulo e a qualidade do vinho. Aliás, se existir alguma relação, o que parece improvável, seria em sentido inverso. É só pensar que um produtor que não consegue elaborar um vinho de qualidade pode investir um pouco mais nos rótulos, para conseguir novos consumidores. Portanto, não caia na armadilha dos rótulos clássicos, aristocráticos, divertidos, fofinhos ou chamativos. O que conta no vinho está dentro da garrafa, não fora dela.

4 – Peso da garrafa

Falando em garrafa, outro erro comum é associar qualidade do vinho ao peso da garrafa. Embora custem muito mais caro e também tenham um impacto negativo maior sobre o meio ambiente, as garrafas pesadas não têm relação com a qualidade do vinho. Não passam da forma que alguns produtores encontraram para associar seus vinhos com um conceito bastante duvidoso de “sofisticação e qualidade”.

Obviamente, existem garrafas mais pesadas com justificativa. Por exemplo, por conterem líquido sob maior pressão, as garrafas de Champagne e outros espumantes devem ser mais resistentes, normalmente resultando em maior peso. Mas é só. Quem sai ganhando com garrafas mais pesadas é fabricante de vidro, ninguém mais.

5 – Cor do vinho

Na mesma linha dos rótulos, a própria cor do vinho passou a ser um instrumento de marketing. Um exemplo claro é no segmento de vinhos rosé. Por conta do alto padrão de qualidade de vários produtores da região francesa da Provence (nem todos, diga-se de passagem) aquela corzinha de salmão pálido, para algumas pessoas, se tornou referência de qualidade para vinhos rosés. Mas isso não é necessariamente verdade. Também no segmento de vinhos naturais há um exagero na percepção da relação da cor com qualidade do vinho.

Porém, é sempre importante ter em mente que, embora não haja evidência de cor com qualidade, pode haver uma relação entre cor e tipicidade. Por exemplo, suspeite se encontrar um Pinot Noir retinto, da mesma forma que pode ser uma surpresa achar um Tannat ou Malbec translúcido. Isso, porém, tem mais a ver com a região de produção e, sobretudo, com as técnicas de vinificação adotadas pelo produtor. Os vinhos podem até ter um aspecto diferente de similares (mesma uva, por exemplo), mas novamente, isso não indica pior ou melhor qualidade.

Imagem: Anja via Pixabay

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