Conheça a Rioja, principal referência do vinho espanhol

A Espanha é um país de longa tradição na vinicultura e produção distribuída por quase toda a península. Mesmo com tanta diversidade, porém, é difícil discordar que a Rioja continue como a principal referência do vinho espanhol. Foi a primeira denominação de origem (DOC) da Espanha, criada em 1925 e ratificada em 1932. Também foi pioneira em atingir o status de Denominación de Origen Controlada Calificada (DOCa), em 1991, posição que atualmente divide com a Priorat DOCa.

Seus vinhos, tanto tintos como brancos e rosados, conquistaram não somente o mercado espanhol, mas também apreciadores de vinho ao redor do mundo. Por exemplo, no mercado inglês, considerado um dos mais importantes, sofisticados e imparciais do mundo (por não ser um grande produtor), os vinhos da Rioja têm uma posição de destaque. Entre todas as denominações de origem do mundo, a Rioja é aquela com maior presença, com vinhos disponíveis em cerca de 84% das lojas especializadas.

O mapa da Rioja

História milenar

A Rioja tem uma longa tradição na elaboração de vinhos. Com a chegada dos fenícios à região do rio Ebro em torno do século X antes de Cristo, a viticultura teria dado seus primeiros passos. Foram, porém, os romanos, após a conquista desta parte da Península Ibérica no século II AC, quem deram maior impulso à produção de vinhos, sobretudo para consumo local.

Assim como em outras regiões europeias, a chegada de ordens religiosas à Rioja na Idade Média trouxe novos rumos à viticultura. Um marco importante foi a fundação de dois monastérios em San Millán de la Cogolla (Suso e Yuso), ambos com extensas áreas de vinhedos. A primeira menção do nome Rioja data de 1092, possivelmente como referência ao rio Oja, um dos afluentes do Ebro, principal rio da região.

O vinho local começava a ganhar projeção, inclusive internacional. A presença de mercadores holandeses e ingleses evidencia a exportação de vinhos da Rioja para estas áreas já a partir do final do século XIII. Outro evento de destaque foi a criação da Real Sociedad Economica de Cosecheros de Rioja, em Fuenmayor (Rioja Alta) em 1787.

O boom do século XIX

Todavia, o marco decisivo do vinho na Rioja, ao menos dentro da ótica que conhecemos hoje, ocorreu no século XIX. O início da fase de ouro do vinho da Rioja foi consequência de três eventos: a chegada do oídio à França e Galícia na década de 1850, da filoxera na França na década seguinte e a expansão das ferrovias na Espanha. Haro, em especial a área próxima da sua estação de trem (Barrio de la Estación), rapidamente se tornou um dos principais centros da vinicultura na Europa a partir da década de 1870.

Dois nomes marcaram o vinho da Rioja para sempre: Marqués de Murrieta e Marqués de Riscal. Os dois nobres, por conta das guerras carlistas (1833-1876), foram exilados e passaram tempo na região de Bordeaux. De lá, além do gosto pelo vinho de alta qualidade, trouxeram importantes ensinamentos. Tanto novas técnicas de cultivo como de produção foram implantadas na Rioja, seguindo o modelo dos Châteaux bordaleses. Nascia a Rioja que conhecemos hoje.

As consequências da filoxera nos vinhedos franceses fez a demanda por vinho importado explodir. Como poucas regiões, a Rioja se posicionou para aproveitar este momento. Assumiu uma posição de destaque, como uma das principais áreas de produção de vinhos da Europa. O resultado? Vinhos clássicos e refinados, com um estilo até hoje presente nos tintos, brancos e rosados da Rioja.

A denominação de origem

Como em boa parte das principais regiões vinícolas de prestígio da Europa, no período incluindo o final do século XIX e início do século seguinte, os produtores da Rioja contaram com um desafio. O crescimento das fraudes e falsificações levou a um movimento de organização dos produtores, visando proteger a identidade dos vinhos locais. Estes esforços culminaram com o reconhecimento oficial da Denominación de Origen Rioja, em 6 de junho de 1925. Foi a primeira DOC espanhola, movimento que seria rapidamente seguido por outras regiões produtoras da Espanha.

A Rioja foi novamente pioneira ao ser a primeira a receber, por conta de seus controles qualitativos e quantitativos mais estritos na produção de vinhos, a classificação Denominación de Origen Calificada (DOCa) em 1991. Até 2009, foi a única denominação de origem espanhola neste patamar, quando passou a contar com a companhia da Priorat DOCa.

Localização e geografia

A Rioja está localizada no centro-oeste da Espanha, contando tanto com influência oceânica como continental. De um lado, recebe influência do Atlântico (Haro fica a cerca de 100 km da Baía de Biscaya) e, de outro, do Mediterrâneo. Sua área de vinhedos está dispersa entre três regiões administrativas espanholas distintas: La Rioja (com cerca de 69% da área regulamentada), País Basco (20%) e Navarra (11%).

A área da denominação de origem se situa em uma faixa de terra em ambas as margens do rio Ebro, que corre no sentido noroeste-sudeste, cobrindo cerca de 100 km de extensão do maior rio da Espanha. Sua posição geográfica é privilegiada, cercada por cadeias de montanhas que a protegem de eventos climáticos extremos tanto a sul (Sierra de la Demanda e Sierra de Carneros) como a norte (Montes Obarenes e Sierra de Cantábria). É uma área de verões quentes e secos, com ampla exposição solar. Se caracteriza por uma amplitude térmica significativa.

Os vinhedos são plantados em altitudes entre 300 e 850 metros, com a maioria situada entre 500 a 550 metros. O perfil de solos varia entre as suas sub-regiões, com predominância de solos argilo-calcários na Rioja Alavesa, argilo-ferrosos e bolsões de calcário na Rioja Alta e predominância de solos aluviais e argilosos na Rioja Oriental.

Os solos da Rioja

A classificação da Rioja

E como são os vinhos da Rioja? De forma geral, os vinhos produzidos nesta região podem seguir dois modelos distintos. De um lado, há os vinhos que respeitam as regras do Consejo Regulador e que, portanto, podem ser engarrafados como parte da DOCa Rioja. Os vinhos brancos, rosados e tintos, neste sistema, são classificados de acordo com uma escala hierárquica que leva em conta o tempo de estágio do vinho com carvalho (geralmente americano) como fator principal.

Para os tintos, por exemplo, aqueles que não tem contato ou ficam menos de um ano em barricas são engarrafados como Genérico, Joven ou Sin Crianza. Caso o tempo mínimo em madeira seja de um ano (com dois anos no total, incluindo o tempo em garrafa), temos um Crianza, enquanto um Reserva deve passar pelo menos 12 meses no carvalho, como parte dos seus 36 meses de envelhecimento. Por fim, um Gran Reserva deve envelhecer por pelo menos 60 meses, dos quais 24 meses em carvalho.

Por conta deste sistema hierárquico, a Rioja conta com um dos maiores parques de barricas do mundo. Estima-se que a região tenha quase 1,4 milhão de barricas em suas adegas. No entanto, nem todos os produtores seguem este modelo. Sobretudo nos últimos anos, os vinhos não rotulados como DOCa Rioja (por não seguirem o modelo e/ou regras da DOCa) ganharam mais espaço. Em resposta a isso, o Consejo Regulador decidiu lançar um modelo adicional de hierarquia, baseado na especificidade dos vinhedos.

Área e comercialização

A denominação de origem Rioja conta com uma área plantada de cerca de 66,6 mil hectares, dividida entre suas três sub-regiões Rioja Alta (42% da área), Rioja Oriental (chamada de Rioja Baja até 2018, com 37%) e Rioja Alavesa (21%). A título de comparação, sua área é bastante inferior à maior denominação de origem da Espanha (La Mancha, com 154 mil hectares), mas bem maior que a “rival” Ribera del Duero (cerca de 25 mil hectares).

A comercialização de vinhos da DOCa Rioja atingiu 2,54 milhões de hectolitros em 2021, o que equivale a cerca de 338 milhões de garrafas. Os vinhos tintos representaram 85,6% da produção total, seguidos pelos brancos (9,6%) e rosados (4,8%). Levando em conta a classificação dos vinhos, 43% eram engarrafados como Genérico, 35% como Crianza, 18% Reserva e 3% Gran Reserva.

Uvas principais

A Tempranillo segue sendo a uva-símbolo da Rioja. Em 2021, com 53.220 hectares plantados, ela correspondia a 79,9% dos vinhedos totais desta denominação de origem, com uma parcela de 89% entre as uvas tintas. E esta proporção era ainda maior na Rioja Alavesa, onde atingia 96% dos vinhedos plantados com uvas tintas.

A Garnacha, com 4.480 hectares de vinhedos, era a segunda variedade mais plantada na Rioja. Correspondia a 6,7% da área total plantada, com destaque para a Rioja Oriental, onde aparecia como a uva de maior plantio. Entre as demais tintas, vale mencionar Graciano (1.380 hectares, 2,3% do total), Mazuelo (1.173 ha, 1,9%) e Maturana (260 ha, 0,45%).

Entre as variedades brancas, o principal destaque fica com a Viura, que é como a Macabeo é conhecida na Rioja. Com 4.091 hectares e 6,1% da área total, era a terceira uva mais plantada na região, correspondendo a 68% das uvas brancas. Com áreas menores apareciam Tempranillo Blanca (762 ha, 1,1%), Verdejo (322 ha, 0,5%) e Sauvignon Blanc (247 ha, 0,4%).

Vinhos e produtores

O perfil dos vinhos que fazem parte da denominação Rioja varia relativamente pouco, embora haja diferenças significativas por conta do tempo de contato com o carvalho. Os vinhos Genérico devem ser consumidos jovens, enquanto os Crianza adquirem mais equilíbrio e complexidade com mais algum tempo de garrafa. Já os Reserva e Gran Reserva são vinhos encorpados e potentes, que ganham elegância e profundidade após anos (muitas vezes décadas) em garrafa.

Os vinhos tintos, em geral, são cortes, contando com a Tempranillo como uva principal (60% ou mais), com parcelas menores de Garnacha, Graziano e Mazuelo. Esta regra se aplica sobretudo aos vinhos da sub-região da Rioja Alta, com a proporção de Tempranillo aumentando na Rioja Alavesa e a Garnacha assumindo papel preponderante na Rioja Oriental. No caso dos brancos, a Viura domina, como monovarietal ou mais de 90% do corte, enquanto nos rosados a Garnacha costuma ser a uva principal.

No total, são mais de 550 produtores na Rioja, porém alguns merecem menção especial. Na sub-região da Rioja Alta, os principais destaques são as tradicionais López de Heredia (Tondonia), La Rioja Alta, Marqués de Murrieta, Muga, Bodegas Bilbainas e CVNE, além da Roda, esta última com vinhos de estilo mais moderno. Também a Rioja Alavesa conta com nomes de peso, como Bodegas Faustino, além de produtores de médio porte, como Remirez de Ganuza, Artadi, Palacios Remondo, Remelluri, Baigorri e Lanzaga.

Fontes: Rioja Wine; The Wines of Spain, Julian Jeffs; Spanish Wine Scholar Manual; Guia Peñin; Rioja – Introducing Spain´s Most Famous Wine Region, Sarah Ewans MW; Vinos y Bodegas de Rioja

Mapas: Rioja DOCa; Rioja – Introducing Spain´s Most Famous Wine Region, Sarah Ewans MW

Imagem: Haro Turismo

O post Conheça a Rioja, principal referência do vinho espanhol apareceu primeiro em Wine Fun.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *