Conheça Rully: qualidade e variedade na Côte Chalonnaise

A Côte Chalonnaise, uma das quatro sub-regiões principais da Borgonha, certamente não tem a fama e o glamour da Côte d’Or ou mesmo o prestígio da sub-região de Chablis. Porém, não há como negar que esta sub-região seja origem de vinhos de alta qualidade, sobretudo quando provenientes de suas cinco principais denominações de origem.

Dentre estas cinco denominações (Bouzeron, Rully, Mercurey, Givry e Montagny), Rully possivelmente seja a mais diversificada e complexa. É mais conhecida pela produção de vinhos brancos tranquilos de muito frescor e tensão, mas também pelos seus tintos frutados e perfumados. É também uma das áreas mais tradicionais na elaboração de Crémant de Bourgogne. Sede de diversos dos melhores produtores da Côte Chalonnaise, é parada obrigatória para quem deseja conhecer esta sub-região da Borgonha.

Localização e tradição

Rully fica localizada ao norte da Côte Chalonnaise, próxima (menos de 10 quilômetros) das denominações de origem mais ao sul da Côte de Beaune, como Santenay e Les Maranges. O vilarejo fica diretamente ao sul da cidade de Chagny, entre Bouzeron e Mercurey. Sua área de vinhedos se estende por cerca de quatro quilômetros e se espalha por dois vales paralelos de orientação noroeste-sudeste. O vilarejo fica em posição central, com o Château de Rully na parte mais alta.

O climat Cloux

O vilarejo tem uma longa história, com evidências de ocupação já na época galo-romana. Em 853 o nome Rully apareceu pela primeira vez nos registros da Abadia de São Benigno, sediada em Dijon. Isso indica que esta poderosa ordem religiosa, proprietária de muitos vinhedos na Côte de Nuits, também atuava na Côte Chalonnaise.

No século XVII seus vinhos brancos já faziam parte da elite da vinicultura da Borgonha. Relatos da época colocam o rei Louis XIII como um de seus fiéis apreciadores. Nos séculos seguintes, mais precisamente a partir de 1822, os espumantes começaram a ganhar mais espaço, trazendo riqueza e prestígio à região. Pelo pioneirismo, Rully é considerada como o ponto de partida dos Crémant de Bourgogne.

Denominação de origem e geologia

A área delimitada da denominação de origem Rully, criada em junho de 1939, inclui cerca de 461 hectares. Destes, 415 hectares estão situados na commune de Rully, com os demais 49 hectares na vizinha Chagny. Do total da denominação de origem, 351,2 hectares (76%) têm classificação Village e 109,3 hectares (24%) Premier Cru. Esta é uma proporção considerada justa, ao contrário de algumas partes da Côte Chalonnaise, onde a parcela de Premiers Crus é vista como exagerada. Da área plantada de 368 hectares, 67% são cultivados com Chardonnay e os restantes 33% com Pinot Noir, duas únicas variedades admitidas nesta denominação de origem.

A produção total média entre 2014 e 2018 atingiu 16,9 mil hectolitros, cerca de 21% da produção dos cinco villages da Côte Chalonnaise. Isso equivalente a 2,25 milhões de garrafas/ano, pouco inferior ao produzido anualmente em Gevrey-Chambertin. Deste total, 11,6 mil hectolitros (68%) correspondiam a vinhos brancos, com o restante tintos. A parcela maior era de vinhos de classificação Villages (72,7%), com os demais 27,3% recebendo a classificação Premier Cru.

A qualidade de seus vinhos reflete dois fatores específicos de sua geografia. Seus vinhedos, situados entre 230 e 300 metros de altitude, são, em média, mais elevados que aqueles da Côte de Beaune. Além disso, os solos apresentam composição dominante de margas brancas e calcário, tanto do Jurássico médio como superior, perfil perfeito para vinhos que combinam frescor e profundidade.

Vinhedos e principais climats

No total, são 69 climats distintos, 46 dos quais classificados como Village e 23 como Premier Cru. Seus vinhedos Premier Cru (em laranja brilhante no mapa abaixo), à exceção de dois climats situados mais a norte, próximo a Chagny, ficam nas encostas a sudoeste do vilarejo de Rully e podem ser divididos em dois blocos distintos. Próximos ao vilarejo e em menor altitude, estão localizados vinhedos como Cloux, Rabourcé, Raclot, Pillot e Meix Caillet. Eles dão origem a vinhos com mais corpo, intensidade e textura, com destaque para os brancos, mas também com produção de tintos.

Vins de Bourgogne : appellation Rully

Já o segundo bloco fica mais ao sul (na parte inferior do mapa acima) e mostra maior altitude e inclinação, nas encostas do Mont Palais. Os principais destaques são Grésigny (que, com 6,4 hectares, é por muitos considerado como o melhor vinhedo da região), Vauvry, Montpalais e Margotés. Dominados por uvas brancas, dão origem a vinhos mais verticais, diretos e muita tensão.

Principais produtores

Rully tem uma alta de concentração de produtores de renome, sediando diversos dos melhores vinicultores da Côte Chalonnaise. Talvez o principal destaque seja a Domaine Dureuil-Janthial que, com 21 hectares de vinhedos (grande parte deles concentrados em Rully), elabora tanto brancos como tintos de alta qualidade.

Outros produtores baseados em Rully que também merecem muita atenção são P&M Jacqueson (que, além de Rully, explora vinhedos em Mercurey e Bouzeron), Domaine Belleville, Domaine Briday, Domaine Jaeger-Defaix, Albert Sounit, Jean-Baptiste Ponsot e Domaine Claude Jobard.

Fontes: Vins de Bourgogne; Wine Scholar Guild; Inside Burgundy, Jasper Morris; La Côte Chalonnaise – Atlas et Histoire des Noms de Climats et de Lieux, Marie-Hélene Landrieu-Lussigny e Sylvain Pitiot

Mapas: Vins de Bourgogne

Imagens: Arquivo pessoal

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