Côte de Beaune: sub-região ou denominação de origem da Borgonha?

A Borgonha é uma região cheia de peculiaridades, o que torna um pouco mais desafiador entender perfeitamente o que está, por exemplo, estampado nos rótulos de seus vinhos. Se, de um lado, esta região francesa tem um sistema de classificação de vinhedos extremamente organizado, por outro dá margem a alguma confusão, por conta do uso de certos termos ou locais. E um deles é Côte de Beaune.

Uma das primeiras coisas que aprendemos quando começamos a estudar a Borgonha é que a Côte d’Or, sua principal região produtora de vinhos, pode ser dividida em duas partes. Ao norte, fica a Côte de Nuits, que recebe este nome em função de seu principal vilarejo, Nuits-Saint-Georges. Já a fração sul é chamada de Côte de Beaune, por conta da cidade de Beaune, considerada como a capital do vinho da Borgonha. Porém, existem outros usos para a expressão Côte de Beaune.

Côte de Beaune-Villages AOC

Se o termo Côte de Beaune serve para dar nome a uma sub-região da Côte d’Or, incluindo diversos vilarejos e denominações de origem (como Beaune, Pommard, Volnay e tantas outras), há também um segundo uso, agora na forma de uma denominação de origem: Côte de Beaune-Villages AOC. Os produtores de 14 denominações de origem da sub-região de Côte de Beaune têm a opção de engarrafar seus rótulos com o nome de sua denominação village (Meursault ou Puligny-Montrachet, por exemplo) ou como Côte de Beaune-Villages.

Mas por que algum produtor faria isso, já que as apelações individuais de cada vilarejo têm uma recepção melhor no mercado? Em geral, o termo Côte de Beaune-Villages é usado para vinhos elaborados com blends de uvas de diferentes vilarejos. Por exemplo, um vinho feito com uvas de Beaune e de Chorey-lès-Beaune não pode ser engarrafado como nenhuma das duas denominações. Restam as opções Côte de Beaune-Villages AOC, Bourgogne Côte d’Or AOC ou Bourgogne AOC. E, destas três, Côte de Beaune-Villages carrega melhor reputação, pois não é uma denominação regional.

Côte de Beaune AOC

Há ainda um terceiro uso para o termo Côte de Beaune, desta vez para dar nome a uma outra denominação de origem, chamada Côte de Beaune AOC. Ao contrário do uso amplo do termo nas anteriores, neste caso a denominação Côte de Beaune é bem mais específica. Esta denominação de origem foi criada em 1936, em paralelo ao estabelecimento da Beaune AOC. Ela inclui alguns vinhedos de maior altitude do que aqueles da Beaune AOC, todos eles situados nas encostas da Montagne de Beaune.

Se nos casos anteriores o uso dos termos era para vinhedos em diversos vilarejos, ou communes, as áreas da Côte de Beaune AOC ficam concentradas em apenas uma commune: Beaune. Com uma área restrita, produz tanto vinhos tintos (Pinot Noir) como brancos (sobretudo Chardonnay).

Os vinhedos da Côte de Beaune AOC (em marrom)

A denominação de origem

Apesar de tecnicamente independente da Beaune AOC, a Côte de Beaune AOC mantém vínculos próximos com ela. Em primeiro lugar, sua localização, com seus vinhedos situados nas encostas superiores da Montagne de Beaune, logo acima das parcelas Premier Cru (em rosa escuro no mapa acima) da Beaune AOC. São áreas com altitudes entre 300 a 370 metros, com solos ricos em calcário.

A segunda ligação entre as duas denominações de origem é, de certa forma, bizarra. Um produtor da Beaune AOC tem também a opção de engarrafar seus vinhos como Côte de Beaune AOC, se desejar. Mesmo cobrindo áreas diferentes, portanto, existe a possibilidade de “desclassificar” um vinho da denominação de melhor reputação para a outra. Coisas que só a Borgonha é capaz…

A Côte de Beaune AOC é uma denominação de pequeno porte, com área demarcada de 66,14 hectares. Porém somente 31,3 hectares deles estavam efetivamente plantados em 2018 (15,54 ha com uvas tintas e 16,78 ha com variedades brancas). A produção média fica na faixa de 374 hectolitros para os tintos e 401 hl para os brancos. A título de comparação, isso corresponde a pouco menos de 6% da produção da Beaune AOC.

Vinhedos e produtores

A área de vinhedos inclui sete lieux-dits diferentes, todos classificados no nível Village (portanto, não há nem Premiers Crus nem Grands Crus na área). São eles: Dessus des Marconnets, La Grande Châtelaine, Les Mondes Rondes, Les Monsnières, Les Pierres Blanches, Les Topes Bizot e Montbatois. Os produtores podem optar ou não pelo uso destes nomes nos rótulos, obviamente desde que as uvas sejam provenientes destes vinhedos.

Os vinhos da Côte de Beaune AOC, em geral, se mostram mais frescos, com maior acidez e menos corpo e estrutura que os vinhos da vizinha Beaune AOC. São poucos produtores que elaboram vinhos desta denominação (pouco mais que dez), com destaque para três deles. Para quem quiser conhecer um pouco dos vinhos da Côte de Beaune AOC, vale a pena provar algumas cuvées de Emmanuel Giboulot  e Jean-Claude Rateau (ambos baseados em Beaune) e da Domaine Chantal Lescure, curiosamente sediada em Nuits-Saint-Georges.

Fontes: Vins de Bourgogne; Wine Scholar Guild; Inside Burgundy, Jasper Morris

Mapa: Les Vins de Bourgogne, Sylvian Pitiot & Jean-Charles Servant

Imagem: Arquivo pessoal

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