Coteaux du Layon Premier Cru Chaume: uma das pérolas do Vale do Loire

Os vinhos do Loire se destacam há séculos pela sua qualidade. Porém, ao contrário da Borgonha, houve poucos avanços no sentido de classificar os vinhedos como Grand Cru ou Premier Cru. São apenas duas denominações de origem com estas classificações, ambas intimamente ligadas: Quarts de Chaume Grand Cru e Coteaux de Layon Premier Cru Chaume.

Ambas estão situadas ao redor da aldeia de Chaume, na commune de Rochefort-sur-Loire, na sub-região de Coteaux du Layon. Chaume fica na margem direta do rio Layon e ao sul do rio Loire, a cerca de 27 quilômetros a sudoeste de Angers, principal centro urbano da região de Anjou.

A denominação Coteaux du Layon Premier Cru Chaumes

As duas denominações de origem também dividem o foco na mesma variedade e estilo de vinhos. São destes vinhedos que vêm alguns dos melhores vinhos brancos doces da França, elaborados a partir da Chenin Blanc. Além disso, estas duas denominações dividem uma longa história em comum.  

Longa tradição

Os vinhedos em torno de Chaume têm uma longa história, com pelo menos 1.200 anos de viticultura. Em 1028, o Conde de Anjou, o poderoso Foulques Nerra, doou à Abadia de Ronceray (localizada em Angers) terras nas margens do rio Layon, incluindo a aldeia de Chaume. Usando um modelo adotado em diversas partes da França, chamado de tenure paysanne, as freiras de Ronceray mantiveram a posse, mas repassaram o cultivo da terra aos camponeses locais.

Neste modelo, os agricultores repassavam ao proprietário das terras 25% da produção, geralmente o quarto de melhor qualidade. No caso de Chaume, os vinhedos usados para produzir os vinhos da abadia receberam o nome de Les Quarts, o que explica o nome atual da denominação Grand Cru. Os demais 75%, após algumas ampliações ao longo dos séculos, formam hoje a base da denominação Coteaux de Layon Premier Cru Chaume.

Mesmo depois da Revolução Francesa, que confiscou as propriedades da Igreja, os vinhedos mantiveram sua reputação. Porém, enfrentaram dificuldades a partir da segunda metade do século XIX. Foi quando a filoxera chegou à região, o que levou ao abandono de vários vinhedos plantados em encostas, como algumas parcelas em Chaume.

A denominação de origem

Foi somente em 1950 que ocorreu a aprovação da denominação de origem Coteaux de Layon, porém ainda sem as classificações Premier Cru e Grand Cru para os melhores vinhedos. Isso ocorreu somente em 2011, com a aprovação e definição das áreas de Quarts de Chaume Grand Cru e Coteaux de Layon Premier Cru Chaume. Enquanto a primeira tem um conjunto de regras (cahiers de charges) próprio, a segunda divide as regras (com algumas diferenças) com a denominação Coteaux de Layon, que, a partir de então, perdeu seus melhores vinhedos.

A denominação de origem Coteaux de Layon Premier Cru Chaume conta com um total de cerca de 70 hectares. Destes, 56 hectares estão em uso, resultando em uma produção anual média de 1.000 hectolitros, o que equivale a aproximadamente 133 mil garrafas ao ano.  São elaborados somente vinhos doces (ou moelleux, em francês) a partir da Chenin Blanc. Caso os vinhos sejam elaborados como secos ou fora de outras regras, são desclassificados para outras denominações, entre elas Anjou Blanc ou Vin de France.

Regras mais rigorosas

Além do terroir privilegiado em relação à denominação Coteaux du Layon, os vinhos de Coteaux de Layon Premier Cru Chaume devem cumprir requisitos mais rígidos. O rendimentos máximo dos vinhedos classificados como Premier Cru é de 25 hectolitros por hectare e o álcool potencial mínimo é de 16,5%. Na comparação, eles são, respectivamente, 35 hl/ha e 14% em Coteaux du Layon e 30 hl/ha e 15% nos Coteaux du Layon Villages. Esta última denominação inclui os seis vilarejos de melhor reputação nas margens do rio Layon.

Além disso, a concentração de açúcar no mosto não fermentado deve ser de pelo menos 272 gramas por litro. Na comparação, o requisito é de 221 g/l para Coteaux du Layon e 238 g/l para os seis vilarejos. A partir da safra de 2020, na elaboração dos vinhos Coteaux de Layon Premier Cru Chaume não foi mais permitido o uso da técnica de crio-extração (usada para aumentar a proporção de açúcar no mosto). A chaptalização também é proibida.  A densidade dos vinhedos (em verde no mapa abaixo) deve ser maior, com um mínimo de 4.500 plantas por hectare, contra 4.000 em Coteaux du Layon.

Os lieux-dits de Chaume e Quarts de Chaume

Vinhos e produtores

A elaboração dos moelleux de Coteaux de Layon Premier Cru Chaume é a partir de uvas botritizadas, comuns nesta região onde a combinação entre proximidade do rio, névoa pela manhã e ventos a tarde favorece o desenvolvimento da podridão nobre. Por conta disso, são vinhos complexos, intensos e untuosos, porém equilibrados em função da alta acidez da Chenin Blanc e mineralidade decorrente deste terroir privilegiado.

No total, são cerca de 30 produtores diferentes trabalhando nesta denominação de origem. O destaque fica para as cuvées elaboradas por Château Pierre Bise, Domaine Ogereau, Domaine de la Bergerie, Domaine Cady e Domaine des Forges. Vale a pena também checar os vinhos de Domaine FL, Château de la Guimonière, Domaine du Petit Metris, Domaine du Petit Val, Château de Plaisance, Château de la Roulerie e Château Soucherie.

Fontes: Loire Master Level Study Manual, Wine Scholar Guild; Vins du Val de Loire; The Wine Doctor; Cahier des Charges de L’appellation d’origine Coteaux du Layon

Imagem: Arquivo pessoal

Mapas: Vins du Val de Loire; Fédération Viticole Anjou-Saumur

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