Crémant de Loire: espumantes que ganham espaço e buscam maior reconhecimento

Falar em espumantes na França imediatamente remete à Champagne. Líder de produção e com uma reputação que ultrapassa barreiras geográficas, esta região francesa elabora grande parte dos melhores espumantes do mundo. Porém, mesmo dentro da França, existem alternativas. Diversas outras áreas da França elaboram espumantes pelo método tradicional, sendo aqueles classificados como Crémant os mais populares.

Se os Crémant d’Alsace são aqueles de maior produção, uma outra área vem rapidamente ganhando espaço nas últimas décadas. Dentre as oito regiões produtoras de Crémant na França (Alsace, Bordeaux, Bourgogne, Die, Jura, Limoux, Loire e Savoie), os Crémant de Loire mostram o crescimento mais acelerado. Recentemente colocou os Crémant de Bourgogne em terceiro lugar no ranking de produção e, cada dia mais avançam, também em termos de qualidade.

As origens

O cultivo de videiras tem longo histórico no Loire, com evidências indicando a produção de vinhos já durante a época romana. No entanto, a história dos vinhos espumantes é bem mais recente. A produção de espumantes teve origem no início do século XIX, com base na percepção de que os vinhos elaborados a partir da Chenin Blanc, sobretudo nas regiões de Saumur e Touraine, tinham grande potencial para este estilo de vinificação.

Um nome que marcou época foi o do belga Jean-Baptiste Ackerman que, a partir de 1811, desenvolveu a produção de espumantes seguindo o método tradicional.  Seus espumantes rapidamente chamaram a atenção. Em 1838, uma comissão encarregada de examinar vinhos em uma mostra em Angers declarou: “Estes vinhos são perfeitamente claros e límpidos; sua espuma é branca, brilhante e cintilante. A possibilidade de fazer vinhos iguais aos de Champagne foi demonstrada.” Em menos de meio século, os espumantes ganharam enorme espaço na região. Nasciam as Grandes Maisons, como Veuve Amiot, Bouvet-Ladubay, Langlois-Château e Monmousseau.

Consolidação e denominação de origem

Além dos vinhedos, a área de Saumur e Touraine contava também com uma vantagem significativa para a elaboração de espumantes. Os solos calcários, chamados localmente de tuffeaux, são de fácil manipulação, o que explica a grande quantidade de castelos suntuosos na área. Esta condição facilitou também a construção de adegas subterrâneas, fundamentais para a produção e conservação de espumantes.

O período entre 1845 e 1875 foi de rápido crescimento. Por conta da melhora do nível de vida dos franceses e ao desenvolvimento das ferrovias, foram os anos de abertura de novos horizontes comerciais para os produtores de espumantes do Loire. Em 1874, quatro milhões de garrafas foram embarcadas para toda a Europa e o século XX viu um significativo ganho de reputação dos espumantes do Vale do Loire.

A denominações de origem Crémant de Loire recebeu reconhecimento por decreto de 17 de outubro de 1975. Em uma região onde a produção de espumantes assume outras formas (existem diversas denominações de origem com foco em espumantes), os Crémant de Loire são aqueles com regras mais rígidas, sempre com foco na qualidade.

Variedades e regras de produção

Em uma região com grande diversidade de uvas cultivadas, os Crémant de Loire podem utilizar uma ampla gama de variedades. Embora a grande maioria tenha Chenin Blanc e Chardonnay  como uvas principais, também é permitido o uso de Orbois, Cabernet Franc, Cabernet Sauvignon, Grolleau Noir, Grolleau Gris, Pineau d’Aunis e Pinot Noir. A regras permitem tantos espumantes brancos como rosés, embora os primeiros respondam por mais de 90% da produção.

São diversas regras de cultivo e produção, com o intuito de diferenciar estes espumantes pela sua qualidade. Os rendimentos são limitados a 74 hectolitros por hectare e a colheita deve ser sempre manual. A prensagem de cachos de inteiros tem limite máximo de 100 litros de sumo para cada 150 quilos de uvas. Por fim, a elaboração deve ser sempre pelo método tradicional (os vinhos são chamados de Fines Bulles no Loire quando produzidos com este método), com pelo menos nove meses sur lattes.

Localização e terroir

No total, a denominação de origem Crémant de Loire se estende por 373 communes (similar aos municípios). Elas se espalham por um planalto ondulado formado pelo sopé do Maciço Armoricano e que vai até o sudoeste da Bacia de Paris. A área de vinhedos percorre cerca de 200 quilômetros, entre Anjou e a região de Cheverny.

A denominação de origem Crémant de Loire

Na parte ocidental, mais próximo do Oceano Atlântico e do Pays Nantais, são solos de xisto ou argilo-xisto, embora a maior área de vinhedos esteja concentrada na parte ocidental, com solos argilo-calcários, com destaque para aqueles de tuffeaux. Na área mais a oeste, onde a influência oceânica é mais forte, as temperaturas são regulares, os invernos amenos e os verões moderados. No leste, devido à influência continental, a precipitação acumulada é menor e é muito mais seca, enquanto a amplitude térmica também tende a aumentar.

Vinhedos e produção

Dividida entre as áreas de Anjou, Touraine e Cheverny, a área de vinhedos atingiu cerca de 3.000 hectares em 2022. Isso marcou um significativo crescimento em relação às décadas anteriores. Por conta disso, a produção também vem crescendo de forma acelerada, com cerca de 195 mil hectolitros em 2022, o equivalente a mais de 23 milhões de garrafas. A título de comparação, em 2009 a produção anual foi de 13 milhões de garrafas.

Apesar do crescimento na quantidade de pequenos produtores, ainda são as Grandes Maisons que dominam o mercado, ao menos em termos de produção. Estes trinta grandes produtores/négociants respondem por cerca de 80% do volume produzido, com os demais 600 produtores independentes responsáveis por apenas 20%. É uma região onde os mercados externos têm um peso importante, com cerca de 61% do volume produzido destinado à exportação.

Vinhos e produtores

Sendo uma denominação de origem bastante ampla e com significativas diferenças nas uvas utilizadas para a elaboração de espumantes, é difícil traçar uma descrição genérica de seus vinhos. Os brancos, em geral, trazem notas cítricas e de frutas brancas, com toque de frutas secas. Já os rosés mostram taninos sutis, com notas de frutas vermelhas.

Uma iniciativa interessante foi a criação, em 2018, da categoria Prestige de Loire, que inclui vinhos com regras de produção ainda mais estritas. Permite somente o uso de Chenin Blanc, Chardonnay, Pinot Noir e Cabernet Franc, com um período mínimo de envelhecimento de 24 meses. No que diz respeito aos produtores de destaque, vale a pena conferir nomes como Domaine de la Taille aux Loups, Philippe Foreau, Château de Plaisance, Arnaud Lambert, Domaine Ogereau, Château Pierre-Bise, Domaine des Baumard, Domaine Langlois-Château, Baumard-Cray, Berger, Bouvet-Ladubay, Château Langlois, Delhumeau, Gratien & Meyer, Nerleux, Oisly & Thésée, Prince Alexandre e Château de Passavant.

Fontes: Loire Master Level Study Manual, Wine Scholar Guild; The Wine Doctor; Cahier des Charges de L’appellation d’origine Crémant de Loire; Loire Valley Wine Economic Report, Vins de Loire; Fédération Nationale des Producteurs et Élaborateurs de Crémant; Decanter

Imagem: Reiner via Pixabay

Mapas: Vins du Val de Loire

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