Degustar vinhos de uma mesma região lado a lado é sempre interessante. No que pesem as diferenças de safras, de vinhedos ou de estilo dos produtores, a comparação é sempre válida, até para poder identificar elementos comuns ou dissonantes. Este foi o objetivo de uma pequena prova com cinco vinhos da denominação de origem Beaune, no coração da Borgonha.
Os cinco vinhos degustados foram, em ordem de serviço:
Beaune 1er Cru Les Aigrots 2018, Sébastien Magnien 13,5%
Com origem em Meloisey e sem relação com os Magnien de Nuits-Saint-Georges, Sébastien Magnien conta com cerca de 12 hectares de vinhedos, inclusive uma parcela de pouco mais de 1 hectare no climat Les Aigrots, vizinho de Les Clos des Mouches.
Um vinho que bem representou a safra 2018. No visual, mostrou coloração rubi violácea, de concentração média a alta, com um olfativo marcado por aromas de frutas negras e vermelhas mais maduras, com toque de madeira. Na boca, um Pinot Noir clássico, de boa acidez, taninos finos e presentes, corpo médio e textura sedosa. Ficou devendo um pouco em termos de vivacidade e chega ao Brasil pela Anima Vinun, porém sem menção em seu website.
Beaune 1er Cru Les Montrevenots 2019, Guillaume Baduel 13,5%
Guillaume Baduel, embora parte de uma família com longa tradição, é um produtor da nova geração da Borgonha, lançando seus primeiros vinhos em 2012. Baseado em Pommard, na viticultura usa princípios biodinâmicos, com baixa intervenção na adega.
Um vinho interessante, com uvas provenientes de um dos vinhedos Premier Cru mais altos de Beaune, já na divisa com Pommard. De coloração rubi de baixa concentração, mostrou aromas de frutas vermelhas picantes, com notas de acerola e suor. No palato, um vinho leve e fresco, que trouxe alta acidez e taninos picantes, com boa vivacidade e tensão. Não chega ao Brasil, na Europa custa cerca de € 48.
Beaune Les Prevolles 2019, Renaud Boyer 12,4%
Outro jovem produtor, Renaud Boyer está baseado em Meursault e elabora seus vinhos a partir de vinhedos certificados biodinâmicos e uso práticas de mínima intervenção na adega, inclusive no que diz respeito a não adição de sulfitos. Les Prévoles é um vinhedo village na parte sul da denominação de origem Beaune, próximo da Rota D974
Um vinho mais puro e selvagem (“pegada” de vinho natural), com coloração rubi de média a alta concentração e nariz marcado por notas de frutinhas azedas, com discreta nota mais verde, lembrando engaço, e uma pitada de acidez volátil. Na boca, alta acidez, taninos picantes, um Pinot Noir muito vivo com frutinha azedinha também no palato. É importado pela Cave Leman, mas já estava esgotado. Na Europa, é vendido na faixa de € 48.
Beaune 1er Clos de la Mousse 2015, Bouchard 13,5%
A Bouchard Père et Fills dispensa apresentações, é um dos maiores produtores de vinho, em termos de volume, de toda a Borgonha. Clos de la Mousse (não confundir com Clos des Mouches) é um monopole de 3,36 hectares e a elaboração do vinho contou com uvas parcialmente desengaçadas, com estágio em barricas 30% a 40% novas
Um vinho de estilo tradicional, com olfativo marcado por aromas de frutas negras e vermelhas, notas florais e de especiarias, com uma presença mais marcante de carvalho. Na boca, boa acidez, corpo médio a alto e taninos presentes. Um vinho mais “gordo” e menos linear, com mais estrutura e mais profundo, mas menos tensão. Também no palato a madeira se fez presente. Não consegui obter valores para o mercado brasileiro, na Europa seu preço é em torno de € 70.
Beaune 1er Cru Les Bressandes 2017, Rateau 13,5%
Jean-Claude Rateau foi um dos precursores da agricultura biodinâmica na Borgonha no final dos anos 1970. Seus vinhos refletem muito bem sua incansável luta por uma vinicultura sem produtos químicos e um trabalho de adega de baixa intervenção. Les Bressandes é um vinhedo na parte centro-norte de Beaune, logo ao norte de Les Gréves.
Um vinho que chamou a atenção pela pureza e tensão. Com coloração rubi média a alta, abriu no olfativo com uma nota de redução, que, felizmente gradualmente se dissipou. Isso abriu lugar para aromas de frutas vermelhas puras, com notas florais e de especiarias (pimenta branca). No gustativo, trouxe alta acidez, taninos presentes com leve rusticidade, e corpo médio. Um vinho delicioso, com fruta explosiva, textura arenosa e muita tensão. Os vinhos de Jean-Claude Rateau são trazidos ao Brasil pela Delacroix, mas esta cuvée não estava disponível no site da importadora. Na Europa, negocia na faixa de € 42.
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