Domaine Ferret: tradição, inovação e qualidade em Pouilly-Fuissé

A região do Mâconnais concentra cerca de 25% de todos os vinhedos da Borgonha, e tem na denominação de origem Pouilly-Fuissé sua grande estrela. Com 800 hectares de vinhedos, é a segunda maior denominação de origem da Borgonha, somente atrás de Chablis. Cada dia mais ganha destaque pela qualidade de seus vinhos brancos, elaborados exclusivamente a partir da Chardonnay.

E falar de vinicultura em Pouilly-Fuissé é praticamente impossível sem falar da Domaine Ferrret. Com longa tradição, foi pioneira em diversos sentidos nesta área do sul da Borgonha. Em paralelo, desempenhou um importante papel da divulgação dos vinhos locais e no reconhecimento da própria denominação de origem, que a partir de 2020 passou a contar com 22 vinhedos Premier Cru.

Uma história de inovações

A Domaine Ferret foi criada em 1840, por obra de Jean-Alfred e Antoine Ferret (seu nome oficial segue sendo Domaine J.A. Ferret).  Assumiu posição pioneira na década de 1930 na vinificação de parcelas separadas em Pouilly-Fuissé e foi nesta época também que começou um capítulo especial de sua história. Foi quando Jeanne Ferret, conhecida como Madame Ferret, assumiu o comando da vinícola.

Foi também a primeira vinícola da região a engarrafar seus vinhos em instalações próprias em 1942 e, sempre sob a liderança de Madame Ferret, lançou mais uma inovação na década de 1970. Ela classificou seus vinhos em três categorias: Classic, Tête de Cru e Hors Classé. Em uma região que não contava com vinhedos oficialmente classificados como Premier Cru ou Grand Cru, buscou replicar a pirâmide hierárquica da Borgonha. Para ela, o topo seria os Hors Classé.

Uma nova fase

Madame Ferret manteve sua liderança até 1993, quando faleceu aos 85 anos. A sucessora foi sua filha Colette, que, sem experiência na vitivinicultura, teve que tomar uma decisão difícil em 2008. Sem herdeiros, optou por vender o controle da Domaine Ferret para um parceiro de longa data. Em 2009 foi anunciada a venda da vinícola para a Louis Jadot, um dos grandes négociants da Borgonha.

Rapidamente e sob a tutela da competente enóloga Audrey Braccini, a Domaine Ferret passou por uma remodelação tanto no que diz respeito ao cultivo dos vinhedos como estrutura de produção. Um passo importante foi a construção de uma nova adega, concluída em 2012. Desde então, o progresso é contínuo, garantindo esta tradicional vinícola como um dos grandes nomes do vinho do sul da Borgonha.

Audrey Braccini na nova vinícola

Vinhedos e práticas agrícolas

No total, são 18 hectares, dos quais 17 deles situados dentro da área da denominação Pouilly-Fuissé. O hectare restante representa parcelas situadas em Mâcon-Solutré, Mâcon-Fuissé e Saint-Véran. São cerca de 50 parcelas, aproveitando a diversidade do terroir da região, que conta com diferentes tipos de solos e orientações distintas.

Em uma região onde 70% da colheita é mecanizada, a Domaine Ferret trabalha 100% com colheita manual, o que garante uvas mais frescas e de melhor qualidade. Ela iniciou a conversão para a certificação orgânica em 2020 (concussão em 2023), sem ter que fazer grandes mudanças. Os vinhedos já tinham cultivo sustentável anteriormente, agora com uso de algumas práticas biodinâmicas tanto nos vinhedos como na vinificação.

Vinificação

De forma geral, a Domaine Ferret se define como uma vinícola de baixa intervenção. Dependendo da safra, usam somente leveduras indígenas, com a técnica de pieds de cuve. Caso seja necessário, sobretudo em safras quentes, inoculam leveduras quando há risco de interrupção da fermentação. Em termos de uso de sulfitos, evitam excessos, com seus vinhos mostrando SO2 total abaixo dos limites exigidos, por exemplo, pela certificação biodinâmica.

O processo de elaboração varia pouco entre as diversas cuvées. Após colheita manual, as uvas são fermentadas e mantidas em barris de carvalho por cerca de 10 meses, com suas lias. Cerca de 20% a 25% são barricas novas, proporção que caiu dos 33% usados na época da Madame Ferret. Após o fim da fermentação maloláctica, os vinhos seguem para tanques de inox, onde ficam por seis a oito meses antes do engarrafamento, para garantir maior tensão e frescor.

Produção e vinhos de entrada

A produção total varia bastante dependendo da safra, mas na média fica entre 40 e 50 mil garrafas ao ano. Atualmente, a Domaine Ferret elabora dez cuvées distintas, três delas disponíveis somente no mercado francês, por conta das baixas quantidades produzidas: Mâcon-Solutré, Mâcon-Fuissé e Saint-Véran. Das sete demais, duas são blends de diversos vinhedos e as cinco restantes (três Tête de Cru e dois Hors Classe), são produzidos a partir de vinhedos distintos, todos localizados na denominação de origem Pouilly-Fuissé.

O Pouilly-Fuissé é aquele de maior produção, considerado o vinho de entrada e o “cartão de apresentação” da vinícola. É um blend de diferentes vinhedos com características distintas, desde solos de granito e xisto com orientação oeste (cerca de um terço das uvas), com os demais provenientes de vinhedos de face leste com alta proporção de calcário e marga. Na vinificação, parte do vinho passa por fermentação e envelhecimento em inox, sem uso de barricas novas. O Autor de la Roche, por sua vez, resulta de 12 parcelas diferentes, todas em Vergisson.

Os vinhedos de Vergisson

Tête de Cru e Hors Classé

Entre as cuvées de vinhedos específicos, três são consideradas Tête de Cru. O Les Perrières, apesar dos solos de argila de um vinhedo de orientação sul e sudeste, é um vinho elegante e com muita tensão. Este vinhedo ganhou classificação Premier Cru a partir de 2020. O Le Clos des Prouges é um vinho mais encorpado, denso e de maior estrutura, enquanto o Le Clos de Jeanne é o de menor produção deste grupo.

Por fim, são duas cuvées consideradas como Hors Classe. São vinhos de excepcional qualidade e grande potencial de guarda. As uvas do Les Ménétrières vêm de uma mistura de solos diferentes, resultando em um vinho elegante e mais longo. Este vinhedo também foi classificado como Premier Cru a partir de 2020 e aparece como um dos mais interessantes da região, algo que Madame Ferret notou há décadas.

Já o Tournant de Pouilly é um vinho de muita tensão e elegância, elaborado a partir de videiras plantadas em parcelas de exposição norte e alta proporção de calcário. As uvas são originárias do vinhedo Premier Cru Les Reisses. Porém, a vinícola relegou esta informação ao contrarótulo, um sinal de respeito à tradição de uma vinícola que é liderada por mulheres por quase 90 anos.

Nome da VinícolaDomaine J.A. Ferret Estabelecida1840 Website https://www.domaine-ferret.com/en/EnólogaAudrey BracciniUvaChardonnayÁrea de Vinhedos Próprios18 hectaresSede da VinícolaFuissé (Saône-et-Loire)DenominaçõesPouilly-Fuissé, Saint-Véran, Mâcon-Solutré, Mâcon-FuisséPaísFrançaAgriculturaOrgânica certificada (a partir de 2023)VinificaçãoBaixa Intervenção

Fontes: Entrevista com a enóloga; Site da vinícola; Inside Burgundy, Jasper Morris

Imagens: Domaine J.A. Ferret 

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