Barolo viveu uma verdadeira revolução em meados da década de 1980, quando alguns jovens produtores decidiram romper com diversas tradições locais e buscar vinhos mais alinhados com o perfil dos consumidores da época. E um dos líderes deste movimento foi Domenico Clerico. Cerca de dez anos antes, ele já havia revolucionado a propriedade da família, que passou a focar somente na elaboração de vinhos.
No passado, seria fácil colocar a vinícola criada por Clerico em um lado do debate entre dois grupos de produtores do Barolo. Atualmente, porém, embora ainda mantenha práticas dos chamados modernisti, a Domenico Clerico retomou diversas técnicas e procedimentos dos produtores tradizionalisti. O objetivo é claro: elaborar os melhores vinhos possíveis, adaptando seu estilo de produção aos novos tempos, tanto no que diz respeito às condições climáticas, quanto aos padrões de consumo contemporâneos.
Uma vinícola relativamente jovem
Foi a partir de 1976, quando Domenico Clerico assumiu o controle, que os rumos mudaram na propriedade da família. Antes dele, cerca de 70% das terras eram dedicadas a outras atividades, como criação de animais e cultivo de ameixas e pêssegos. Na época com 26 anos, Clerico alterou esta condição radicalmente. Plantou novos vinhedos e colocou o vinho como foco principal dos negócios da família.
Não satisfeito com as terras da família, partiu para um ambicioso programa de aquisição de parcelas em outros vinhedos de prestígio da região. Em 1977 comprou parcelas no Cru Bussia, seguidas por áreas em Ginestra (Ciabot em 1982, Pajana em 1991). O ano de 1995 marcou a aquisição de parcelas no Cru Mosconi, até hoje a joia da coroa entre os vinhedos dos Clerico.
Domenico Clerico se estabeleceu com um dos grandes nomes do Barolo, porém, infelizmente, desenvolveu uma enfermidade que acabaria tirando sua vida em 2017. Desde então, a vinícola é controlada por sua família, sobretudo a viúva Giuliana, e administrada pelo enólogo Oscar Arrivabene, que começou a trabalhar com Domenico a partir de 2014.
Agricultura e vinhedos
Atualmente são 22 hectares de vinhedos em produção, número que irá aumentar em breve por conta da aquisição de três hectares adicionais, ainda com videiras muito jovens. A Nebbiolo é a variedade preponderante, respondendo por 15 hectares, seguida por Dolcetto (5 ha) e Barbera (2 ha). Os vinhedos possuem uma elevada proporção de vinhas velhas, com idade média em torno de 50 anos (sem contar a nova aquisição), com algumas videiras superando 80 anos de idade.
No momento, a Domenico Clerico está trabalhando na conversão de seus vinhedos para a agricultura orgânica certificada, processo que deve levar à certificação em 2024. Por conta disso, aumentaram de forma significativa os cuidados com os vinhedos, que já eram cultivados sem herbicidas ou pesticidas. A vinícola continua controlando rendimentos, sobretudo usando técnicas como a poda verde, com o objetivo de colher uvas de maior concentração.
Boa parte da área de vinhedos está concentrada a nordeste de Monforte d’Alba, sobretudo nos Crus Ginestra (8 hectares) e Mosconi (4 hectares), de onde saem as uvas para seus vinhos de vinhedo único. Há áreas menores em Bussia e Bricco San Pietro, usadas para os blends e vinhos de outras varietais, como Dolcetto e Barbera.
Vinificação
Os processos de vinificação da Domenico Clerico seguem em constante evolução, resultado da estratégia de posicionamento de mercado adotada, elaborando vinhos mais próximos da preferência dos consumidores. O foco atual é na elaboração de vinhos mais elegantes, sem excessos em termos concentração ou uso de madeira.
Os vinhos são elaborados com fermentação usando leveduras indígenas (sem pied de cuve) em tanques de inox, com macerações em torno de 20 dias. Ao contrário do passado, quando predominavam as barricas francesas no envelhecimento, agora são os grandes formatos (botti) que respondem por cerca de 90% da produção (variando de acordo com a safra). Cada parcela é vinificada individualmente, sem muita extração e o blend é feito somente após o envelhecimento.
Vinhos
No total, a Domenico Clerico elabora nove cuvées distintas. A linha de entrada inclui um Langhe Dolcetto, chamado Visadí, um Barbera d’Alba (Trevigne), um Langhe Nebbiolo (Capisme-e) e um Langhe Rosso (Arte, um corte de 90% Nebbiolo e 10% Barbera). O foco principal, porém, fica com os Barolos, quatro dos quais elaborados a partir dos vinhedos próprios em Monforte d’Alba e um com uvas de parcelas arrendadas em Serralunga d’Alba.
O Barolo del Commune di Monforte D’Alba busca, na opinião do produtor, ser uma espécie de cartão de visitas de Monforte D’Alba. Cuvée de maior produção da vinícola (cerca de 30 mil garrafas/ano), é elaborado com uvas de três Crus diferentes (70% Ginestra, 25% Mosconi e 5% Bussia). Sua vinificação é de menor extração, buscando mais frescor e taninos mais macios, ideal para consumo rápido. Assim como os demais Barolos, é mantido no carvalho por 24 meses. Já a partir das parcelas em Ginestra, são elaboradas duas cuvées diferentes.
O Pajana é mais fresco e floral, enquanto o Ciabot Mentin é mais austero e complexo. O vinho de mais alta gama da linha é o Per Cristina, lançado somente 10 anos após sua safra, um vinho clássico e refinado, próximo da tradição dos Barolos de antigamente. As uvas são provenientes de uma parcela de apenas 0,4 hectare de face sul, no Cru Mosconi. Por fim, há o Aeroplanservaj, único Barolo de outra comuna (Serralunga d’Alba), com uvas do Cru Baudana.
Nome da VinícolaDomenico ClericoEstabelecida1976 Website https://domenicoclerico.com/en/ EnólogoOscar Arrivabene UvasNebbiolo, Dolcetto, Barbera Área de Vinhedos22 haRegiãoMonforte D’Alba (Piemonte)DenominaçõesBarolo DOCG, Barbera D’Alba DOC, Langhe Dolcetto DOC, Langhe Nebbiolo DOC, Langhe Rosso DOC PaísItáliaAgriculturaOrgânica em certificaçãoVinificaçãoConvencional
Fontes: Website da vinícola; entrevista com o enólogo
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