O aquecimento global é responsável pelo aumento significativo na ocorrência de eventos climáticos extremos ao redor do mundo. E este cenário não poderia ser diferente em algumas das principais regiões produtoras de vinhos do mundo, como evidenciado pela recente chuva de granizo registrada na Borgonha durante esta semana.
Na noite de 11 de julho, uma violenta tempestade atingiu diversas partes da Borgonha, com destaque para áreas na Côte Chalonnaise e na Côte de Beaune. Mesmo em uma região relativamente acostumada com tempestades de verão, a intensidade chamou a atenção. Em entrevista para a publicação francesa Vitisphere, Aurore Devillard, co-proprietária do Château de Chamirey, mostrou sua preocupação. “Normalmente, as chuvas de granizo são mais localizadas”. Ela, infelizmente, espera danos significativos. “Tinha acabado de realizar poda verde, necessária para reduzir a carga excepcional de uvas deste ano”.
Côte Chalonnaise e outras áreas
Na Côte Chalonnaise, Mercurey seria a área mais afetada. “De acordo com uma primeira estimativa, chegamos a 50% de dano em nossas parcelas de Chardonnay; cerca de 20% nas de Pinot Noir“, lamenta Devillard. A violência da tempestade foi impressionante, assim como sua extensão. Segundo informações postadas em redes sociais, a aldeia vizinha de Givry também teria sido castigada.
Na Côte de Beaune, os vinhedos de Volnay e Beaune também foram afetados, mas em menor grau. No sul, no Mâconnais, “tivemos especialmente muito vento e acumulações significativas de água em alguns lugares. Mas, na sua grande maioria, a vinha escapou ao granizo”, informou Jérôme Chevalier, presidente do Sindicato dos Produtores de Vinho Mâcon (UPVM). Um alívio em relação ao quadro inicialmente traçado pelos alertas meteorológicos, que previam danos ainda maiores.
Foco em Meursault
A região mais afetada na Côte de Beaune, por outro lado, foi a denominação de origem Meursault. “Vimos pedras de granizo do tamanho de bolinhas de gude, que rapidamente cresceram para formar aglomerados do tamanho de bolas de pingue-pongue”. Estas são as palavras, também em entrevista à Vitisphere, de Émilien Millot, produtor que “nunca tinha visto isso”.
Depois de uma visita aos seus vinhedos, o viticultor estima prejuízos que variam entre “5% a 40% dependendo do setor”, com uma média geral “entre 10 e 20%”. Mas ele continua otimista. “A veraison ainda não começou, as uvas ainda estão duras e estou bastante confiante nas possibilidades de cura. Se a as chuvas forem suficientes no resto do verão, os danos podem ser compensados por conta do inchaço das bagas.”
De acordo com informações do site Winehog, a maior parte dos danos parece estar na área central da aldeia de Meursault, sobretudo nos lieux-dits village, onde até 40% das uvas teriam danificadas. Esta foi a área mais atingida, já que, para Meursault como um todo, os danos seriam menores, com estimativas preliminares na faixa de 20%.
Consequências da chuva de granizo
Chuvas de granizo trazem impactos distintos sobre as uvas e os vinhos. Em primeiro lugar, há a perda de parte da produção, já que muitas uvas acabam sendo danificadas. No caso da safra 2023, a boa notícia é que os rendimentos estão bastante altos na Borgonha, o que necessariamente obrigaria os produtores a reduzirem a quantidade de cachos, a chamada poda verde. Neste caso, o impacto desta tempestade de granizo pode ser diferente para cada produtor, dependendo se ele havia ou não feito a poda verde.
Porém, quantidade de uvas não é a única preocupação. Uvas atingidas diretamente pelo granizo podem se tornar mais vulneráveis, representando um ponto de entrada para doenças fúngicas, com consequências sérias se a questão não for manejada com cuidado. As uvas danificadas pelo granizo precisam ser manuseadas corretamente, caso contrário podem afetar a pureza do vinho e, nos piores exemplos, ser a causa do chamado goût de grêle (grêle é granizo, em francês). Este é um defeito no vinho geralmente associado a maior amargor, que pode tornar o vinho, na pior das hipóteses, difícil de beber.
Fontes: Vitisphere; Winehog
Imagem: Tobias Hämmer via Pixabay
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