Leroy: conheça o nome por trás de alguns dos melhores vinhos do mundo

Leroy é um dos nomes mais tradicionais da Borgonha, despertando paixões para quem aprecia os grandes vinhos da região. É um nome associado a vinhos exclusivos, de alta qualidade e que, como consequência, ficam entre os vinhos mais raros e caros do mundo. Além de três ramos com atividades distintas, a família Leroy também controla 50% da Domaine de la Romanée-Conti, ou seja, é quase impossível dissociar os melhores vinhos desta região do nome Leroy.

Apesar de um longo histórico como négociant, boa parte da fama adquirida pela Leroy nas últimas décadas se deve a uma decisão específica. O mundo dos vinhos da Borgonha não seria o mesmo se Lalou Bize-Leroy não tivesse decidido mudar os rumos da empresa familiar e adquirir parcelas em alguns dos melhores vinhedos da região, a partir de 1998. Nascia a Domaine Leroy e o vinho da Borgonha nunca mais seria o mesmo.

A tradição da Maison Leroy

Mas o histórico dos Leroy e sua relação com os grandes vinhos da Borgonha começou muito antes disso. Os primeiros passos foram dados por François Leroy, vinhateiro e proprietário de vinhedos em Auxey-Duresses, onde vivia. Além dos vinhedos em sua terra natal, ele possuía também parcelas em áreas nobres da Côte d’Or, como Meursault, Pommard, Chambertin, Musigny, Clos Vougeot e Richebourg. Mas não vendia seus vinhos com sua marca, mas sim através do Comptoir des Propriétaires de la Côte d’Or.

Com o objetivo de expandir suas atividades, passou a atuar também como négociant, fundando a Maison Leroy em 1868. Seus descendentes expandiram ainda mais os negócios da família, passando a trabalhar também na produção e distribuição de destilados e licores, com produção tanto em Cognac como em Champagne.

O ano de 1942 foi também simbólico para os Leroy. Foi quando Henri Leroy adquiriu a parcela de Jacques Chambon na Domaine de la Romanée Conti (DRC), projeto que Henri abraçou a fundo. Juntamente com a família de Villaine, foi o responsável por colocar a vinícola sediada em Vosne-Romanée na posição que conhecemos hoje.

Rótulo da Maison Leroy (destaque para a expressão négociants)

Madame Lalou e a Domaine Leroy

A filha de Henri, Marcelle, juntou-se à empresa da família em 1955. Conhecida como Lalou Bize-Leroy, tornou-se Diretora Geral em 1971 e dedicou grande parte de seu tempo também à co-gestão da DRC, juntamente com Aubert de Villaine. Em 1992, porém, isso veio a mudar.  A Domaine Leroy perdeu os direitos de distribuir os vinhos da DRC e Madame Lalou deixou a gestão da empresa.

O pivô destes eventos foi a decisão da própria Madame Lalou de elaborar e comercializar vinhos próprios. Em 1988, a loja de departamentos japonesa Takashimaya adquiriu um terço da Maison Leroy. Com os recursos, Madame Lalou decidiu investir em aquisições de vinícolas e vinhedos e criar a Domaine Leroy. No mesmo ano, ela adquiriu as vinícolas de Charles Nöellat em Vosne-Romanée e de Philippe-Rémy em Gevrey-Chambertin. A partir de então, o nome Leroy estaria presente em algumas das mais disputadas garrafas de vinhos do mundo, não somente como négociant.

Agricultura biodinâmica

Uma das primeiras decisões de Madame Lalou após a criação da Domaine Leroy foi a de converter os vinhedos para a agricultura biodinâmica. Assim, a partir de setembro de 1988, o cultivo de todas as parcelas usa princípios biodinâmicos. Na época, esta decisão foi vista como revolucionária, porém o futuro mostraria que foi na direção correta. Esta estratégia foi adotada, anos depois, por muitas das mais prestigiadas Domaines da Borgonha.

Na viticultura, houva a adoção também de outras práticas inovadoras. A Domaine Leroy nunca substitui vinhedos inteiros, apenas videira por videira, conforme necessário. As vinhas extraídas são substituídas por plantas jovens, cultivadas a partir de botões de videiras irmãs da mesma parcela. Além disso, o sistema de poda foi alterado, sem o corte dos galhos mais longos, para evitar o estresse das videiras.

Vinificação tradicional

Na vinificação, porém, a Domaine Leroy mantém, em linhas gerais, muitas das tradições da Borgonha. As uvas são cuidadosamente selecionadas e passam por fermentação com cachos inteiros em grandes tanques de carvalho, com o uso de leveduras indígenas. Durante o período longo de fermentação e maceração, ocorre o uso de técnicas tradicionais, como pigéage e remontage.

Os vinhos passam por fermentação maloláctica em uma primeira adega subterrânea e, novamente com uso somente de gravidade, seguem para uma adega ainda mais profunda. Neste ambiente são mantidos em barris de carvalho François Frères até seu engarrafamento, quando não passam por colagem ou filtração. Uma característica que diferencia a Domaine Leroy das demais, porém, é que não existe um enólogo responsável, pois Madame Lalou não acredita no conceito de winemaker.

Três ramos distintos

A Domaine Leroy concentra boa parte dos vinhedos da família, porém existem mais dois ramos integralmente controlados pelos Leroy. De um lado, a Maison Leroy, sediada em Auxey-Duresses, segue trabalhando como négociant. De outro, a Domaine d’Auvenay, que concentra os vinhedos de posse direta de Madame Lalou, em parte concentrados em torno de sua propriedade (também em Auxey-Duresses), além de vinhedos em outras áreas, herdados diretamente de Henri Leroy.

A Domaine d’Auvernay conta com cerca de 3,5 hectares de vinhedos, espalhados por 10 denominações de origem distintas. São pequenas parcelas (a maior, no climat Meursault Les Narvaux, tem apenas 0,73 hectare) e, por conta disso, as quantidades produzidas são mínimas. A consequência é que seus vinhos ficam entre os mais raros da Borgonha, com óbvio impacto nos preços pelos quais são comercializados no mercado secundário.

Rótulo da Domaine d’Auvernay

Já Domaine Leroy conta com 22 hectares de vinhedos, divididos em pequenas parcelas entre os alguns dos melhores climats da Borgonha. São nove Grands Crus (Corton-Charlemagne, Corton-Renardes, Richebourg, Romanée-Saint-Vivant, Clos de Vougeot, Musigny, Clos de la Roche, Latricières-Chambertin e Chambertin), além de oito Premiers Crus (Volnay Santenots du Milieu, Savigny Les Beaune Les Narbantons, Nuits-Saint-Georges Aux Vignerondes, Nuits-Saint-Georges Aux Boudots, Vosne-Romanée Aux Brûlées, Vosne-Romanée Les Beaux Monts, Chambolle-Musigny Les Charmes e Gevrey Chambertin Les Combottes. Os vinhedos incluem também nove lieux-dits Villages, além de áreas em cinco denominações regionais

Vinhos raros e caros

De forma geral, são vinhos de altíssima qualidade e um estilo bastante peculiar, sendo mais intensos, extraídos e encorpados que a média. Alguns críticos os colocam como excessivos, em um estilo que não representa bem a elegância e delicadeza da Pinot Noir na Borgonha. Por conta de sua limitada quantidade, são vinhos raros e caros. Mesmo aqueles com maior produção, como o Bourgogne Aligoté, (por conta dos 2,6 hectares de vinhedos) são de difícil aquisição.

Rótulo do Musigny Grand Cru, seu vinho mais caro

Além dos Grands Crus, dentre os vinhos particularmente ligados à Madame Lalou, destaque para o Vosne-Romanée Les Beaux Monts, e o Pommard Les Vignots, cujas videiras pertenciam a seu bisavô. O grande impeditivo para todos os seus vinhos, porém é o preço. Desde seu Aligoté (na faixa de € 360 por garrafa na Europa) até os Grands Crus (que chega a € 35 mil para o Musigny) são vinhos, infelizmente, fora de alcance para a esmagadora maioria dos amantes de bons vinhos.

Fontes: Domaine Leroy; Inside Burgundy, Jasper Morris; La Revue du Vin de France

Imagens: Arquivo pessoal

O post Leroy: conheça o nome por trás de alguns dos melhores vinhos do mundo apareceu primeiro em Wine Fun.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *