Medindo o impacto de tempo: oito vinhos acima de 30 anos

“José é como o vinho, só melhora com o tempo” Você já deve ter ouvido este ditado, mas sabemos que ele não é necessariamente verdadeiro. E isso não tem a ver com José. Qualquer vinho tem uma curva de evolução: começa jovem, atinge seu ápice e começa um processo de decadência. Isso, porém, suscita uma série de perguntas.  O que caracteriza um vinho de guarda? Qual o limite de tempo de adega até que um vinho perca sua tipicidade? Vale a pena guardar grandes vinhos para uma experiência única?  Quais vinhos podem ser estocados por muito tempo?

Responder algumas destas perguntas e embarcar em uma verdadeira viagem no tempo. Estes foram os objetivos de uma degustação às cegas envolvendo oito vinhos tintos, todos eles com mais de 30 anos. E o foco acabou sendo a década de 1980, com seis países e regiões diferentes. A seguir um curto relato dos vinhos degustados.

Marqués de Riscal 1981, Rioja, 13%

Os Riojas, muitas vezes, ficam entre os campeões de longevidade. Não é incomum se deparar com vinhos de produtores de qualidade e grandes safras em perfeitas condições, mesmo com mais de 50 anos de adega. Infelizmente, porém, não foi o caso aqui. Um vinho que perdeu sua tipicidade, restando apenas acidez e uma discreta fruta adocicada.

Merlot 1980, Weinert, Mendoza, 13,5%

Embora fosse o vinho mais velho do painel, em nada perdeu sua tipicidade. Um Merlot com notas de estrebaria, couro e brett no olfativo, mostrou no palato acidez média, fruta madura, taninos redondos e muita densidade e corpo. Às cegas, lembrou um corte bordalês do Novo Mundo de menos idade (15 anos?) em um estilo mais representativo dos anos 2000 do que a década de 1980.

Reserva 1989, Casa Ferreirinha, Douro, 12,5%

Geralmente um campeão de longevidade, se mostrou 100% íntegro, mas talvez não distante de seu limite. Com coloração bem intensa, às cegas realmente parecia “um vinho português com certeza”. Olfativo rico e intenso, com chá preto, uva passa, chocolate e notas terrosas, já na boca mais seco e austero, com corpo médio e taninos bem presentes. Um corte do Douro menos elegante do que outras ocasiões, fruto de uma safra mediana. Ficou fora do pódio, mas sem comprometer.

Reservado 1986, Concha y Toro, Valle Central Chile, 11,5%

Vinho que entrou no painel “de última hora” para substituir um ausente. Uma prova que vinho de entrada, ainda mais de produtor de grande porte, não é para guardar. Espero que este Cabernet Sauvignon tenha visto dias melhores. RIP.

Campo Giovanni Brunello di Montalcino 1987, San Felice 13%

Um Brunello de Montalcino “de antigamente”, com a tradicional acidez, fruta de qualidade, equilíbrio e discreta rusticidade que por muito tempo caracterizou esta denominação de origem. Parecia muito mais jovem, com nariz marcado por frutas vermelhas frescas, sottobosco e notas florais. No palato, um Sangiovese de alta acidez, corpo médio e fruta presente. Um vinho elegante, fresco e vertical, fechou como um dos destaques da noite.

Château Le Clos du Notaire, Côte de Bourg 1985, 14,5%

Um vinho enigmático, mesmo após revelada sua identidade parecia difícil acreditar que fosse um Bordeaux. Já além de seu limite, este corte bordalês mostrou um nariz mais químico, com notas de iodo, uva passa e erva seca. A ausência de fruta seguiu na boca e, embora com boa acidez, foi decaindo rapidamente. Mesmo de uma boa safra, não resistiu ao passar do tempo como deveria.

Château Haut Beychevelle Gloria, Saint Julien 1982, 12%

Um vinho incrível, daqueles que encantam os saudosistas do Bordeaux pré-Parker. Não conhecia o produtor, investigando notei que é uma pequena propriedade do mesmo grupo proprietário do Château Gloria. Chris Kissack (que não cobre esta vinícola, mas sim o Château Gloria) foi preciso ao descrever os vinhos deste último: “Tasting older examples, such as the 1982, showed that not only was the requisite quality there, but also the ability to age“. Tipicidade total de margem esquerda, um vinho no seu ápice e com muita vibração e equilíbrio.

Viña Tondonia 1987, Lopez Heredia, Rioja 12%

Falando em tipicidade, um Rioja “de carteirinha” e alta gama. O segundo vinho da safra 1987 do painel, o segundo em perfeitas condições e com muita vivacidade. Olfativo típico e classudo de Rioja antigo, com boca marcada por alta acidez, corpo médio e taninos arenosos e resolvidos. Um vinho já bem terciário, com a madeira integrada e fruta picante, delicioso. López Heredia e seus encantores vinhos de muita personalidade.

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