Montagny: conheça a Côte Chalonnaise onde a Chardonnay é rainha absoluta

A Borgonha tem muito a oferecer, boa parte ainda fora do radar de muita gente. Dentre as cinco denominações de origem da Côte Chalonnaise, duas delas se concentram exclusivamente em vinhos brancos. A menor delas e aquela mais ao norte, Bouzeron, tem foco na Aligoté. Já Montagny, justamente no extremo oposto em termos geográficos, fazendo divisa com o Mâconnais, tem na Chardonnay sua uva principal.

É uma região com longa história, embora o foco exclusivo na Chardonnay seja algo relativamente recente. E, por conta de um evento particular de sua história, possui uma das maiores concentrações de vinhedos Premier Cru de toda a Borgonha. Para muitos, este excesso de Premiers Cru evidencia uma falta de seletividade, assim como ocorre com a denominação Beaune. Isso, porém, em nada prejudica a qualidade de seus vinhos, conhecidos por sua excelente relação custo-benefício.

Localização e história

Montagny está localizada no sul da Côte Chalonnaise, próxima do Mâconnais (fica a apenas 24 quilômetros de Tournus).  A região tem longa tradição na viticultura, com evidências de ocupação já no período galo-romana. É desta época que surgiu seu nome, derivado da palavra latina montanius, refletindo o relevo acidentado da região. Porém, foi a partir da presença das ordens religiosas, sobretudo as abadias de Tournus, Cluny e La Ferté, que a produção de vinhos ganhou maior impulso.

Na Idade Média a região era conhecida por seus vinhos brancos e tintos, vendidos como Côte de Buxy. Porém, ao contrário de outras regiões da Côte Chalonnaise, sobretudo Rully e Givry, não prosperou economicamente. Foi também a última região da Côte Chalonnaise atingida pela filoxera, em 1879. Os vinhedos foram replantados mantendo um equilíbrio entre uvas tintas, como Pinot Noir e Gamay; e brancas, como Chardonnay e Aligoté.

Transformação dos vinhedos e Premiers Crus

Mesmo após a fundação de uma importante cooperativa em 1931 (Cave des Vignerons de Buxy, até hoje ativa) e da criação da denominação de origem (1936), as uvas tintas seguiram com papel relevante. Foi somente nas últimas décadas que a Chardonnay gradualmente passou a controlar os vinhedos, resultado do maior preço de seus vinhos e das condições de terroir.

Um fato interessante moldou os vinhedos de Montagny. Esta parte da Côte Chalonnaise era o limite entre a França ocupada e a França livre, na Segunda Guerra Mundial. Nas áreas controladas, havia um acordo pelo qual os alemães não poderiam confiscar vinhos classificados como Premier ou Grand Cru. Por conta disso, todos os vinhedos de Montagny regulamentados na época receberam classificação Premier Cru. Mesmo após adição de novas áreas e reclassificação em 1989, é até hoje uma das mais altas proporções de Premier Crus em toda a Borgonha.

Denominação de origem e geologia

A área delimitada da denominação de origem Montagny, criada em setembro de 1936, soma cerca de 415 hectares, distribuídos por quatro communes: Montagny-Les-Buxy (a maior, com cerca de 40% dos vinhedos), Bissey-Sous-Cruchaud, Jaully-les-Buxy e Saint-Vallerin. Do total da denominação de origem, 174,8 hectares (42%) têm classificação Village e 239,9 hectares (58%) Premier Cru, a maior proporção entre as cinco AOCs da Côte Chalonnaise. A área plantada, de 352 hectares, é completamente dominada pela Chardonnay, com 60% dos vinhedos Premier Cru.

A produção total média entre 2014 e 2018 atingiu 18,4 mil hectolitros, cerca de 23% da produção dos cinco villages da Côte Chalonnaise. Isso equivale a 2,4 milhões de garrafas/ano, pouco superior ao produzido anualmente em Rully. A parcela maior era de vinhos Premier Cru (58%), com os demais 42% recebendo a classificação Villages.

Os solos de Montagny apresentam uma combinação de fatores que explica o domínio da Chardonnay, sendo distintos de outras áreas da Côte Chalonnaise. Em primeiro lugar, há uma composição dominante de margas brancas, calcário e faixas rasas de argila. Além disso, parte da área conta com subsolos do período Kimmeridgiano, similar àqueles encontrados em Chablis, o que acentua as similaridades entre as duas regiões.

Vinhedos e principais climats

No total, são 49 climats classificados como Premier Cru, representados em laranja brilhante no mapa abaixo. Os vinhedos podem ser segmentados em três blocos distintos. O primeiro fica ao norte de Buxy, com muitos vinhedos (grande parte deles Premier Crus) de orientação sul e solos com alta proporção de calcário. Os principais destaques são os climats de Cornevent, Le Vieux Château e Les Pidances.

A denominação Montagny

O segundo grupo fica a sudoeste de Buxy, com diversos vinhedos de orientação sudoeste, incluindo Les Burnins. Com inclinação significativa, solos com alta proporção de calcário e ótima drenagem, é considerado um dos melhores climats desta denominação de origem. Por fim, o terceiro grupo fica mais ao sul, em Saint-Vallerin e Jully, onde predominam os vinhedos Village. Nesta área, o destaque fica com Les Coéres, o maior Premier Cru da denominação de origem (área de quase 30 hectares) e solos mais argilosos.

Vinhos e principais produtores

Com foco exclusivo em vinhos brancos elaborados a partir da Chardonnay, não existe um único estilo em Montagny. De um lado, há vinhos que chegam a lembrar os de Chablis, com muita tensão e mineralidade. Por sua vez, muitos outros lembram o estilo predominante da Côte d’Or, embora com um perfil de frutas que remete a outros brancos da Côte Chalonnaise.

Com uma presença importante da Cave des Vignerons de Buxy, Montagny ainda tem uma participação mais tímida de produtores independentes. Entre eles, o principal destaque fica com a Domaine Stephane Aladame, sem esquecer também da Domaine Feuillat-Juillot, Domaine Berthenet e Domaine Laurent Cognard. Porém, é uma região que atrai diversos produtores de outras áreas da Borgonha. Entre eles, podemos destacar Domaine Leroy, Jean-Marc Boillot, Jean-Marc Pillot, Maison de Montille e Bruno Lorenzon.

Fontes: Vins de Bourgogne; Wine Scholar Guild; Inside Burgundy, Jasper Morris; La Côte Chalonnaise – Atlas et Histoire des Noms de Climats et de Lieux, Marie-Hélene Landrieu-Lussigny e Sylvain Pitiot

Mapas: Vins de Bourgogne

Imagens: Arquivo pessoal

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