Montepulciano é um nome que causa uma certa confusão no mundo do vinho. Esta cidade com menos de 15 mil habitantes, situada no sul da Toscana, é o coração da denominação de origem Nobile de Montepulciano. Os vinhos desta área, elaborados com a variedade Sangiovese, atraíram a atenção de enófilos ao redor do mundo, frequentemente disputando com Brunello di Montalcino o título de melhor expressão da uva mais plantada da Itália.
Porém, Montepulciano não é somente um vilarejo ou uma denominação de origem. Existe também uma uva com este nome, que tem uma enorme área plantada na Itália e começa timidamente a ganhar presença em outros países. A origem da confusão? Tanto o nome da denominação como da uva têm sua origem no nome do vilarejo. E o mais estranho é que atualmente, a Montepulciano não é plantada em Montepulciano…
História e origem
Embora a uva tenha adotado o nome Montepulciano por conta do vilarejo, não há comprovação científica sobre sua origem. Há relatos que indicam que ela tenha sido trazida para a Itália pelos gregos, porém sem comprovação. O mais provável, porém, é que ela seja uma uva autóctone do centro da Itália, onde tem uma longa história.
Um relato chama a atenção. Uma obra do escritor Políbio narra que o general cartaginês Aníbal, durante sua invasão da Itália durante a Segunda Guerra Púnica, teria obtido vantagens militares por conta do uso de vinhos produzidos na região onde atualmente fica a cidade de Pescara. Por conta das propriedades do vinho, tanto seus soldados lutaram melhor como seus cavalos foram curados da sarna.
Embora este relato seja curioso, não há comprovação de sua veracidade ou que seja efetivamente a mesma uva. De fato, existe uma dificuldade em identificar menções à Montepulciano na Antiguidade. O principal motivo é que, por muito tempo, ela foi confundida com a Sangiovese, por conta de diversas características em comum. Foi somente a partir de meados do século XVIII que aparecem os primeiros testemunhos escritos sobre a presença da uva Montepulciano, sobretudo na região de Abruzzo. Relatórios de 1821 mencionam a produção e comercialização do “vinho Montepulciano”.
Área plantada
A grande maioria da área plantada da Montepulciano fica na Itália, com especial destaque para sua parte central, sobretudo nas regiões de Abruzzo, Puglia, Basilicata, Emilia-Romagna, Marche, Molise, Umbria e, em menor escala, Toscana. Estimativas de 2010 indicavam cerca de 35.000 hectares plantados, o que fazia da Montepulciano a segunda uva tinta mais plantada da Itália, somente atrás da Sangiovese.
Sua presença fora da Itália, porém, é bem menos relevante, com concentração maior em países do Novo Mundo. Os destaques ficam com os vinhedos plantados na Argentina (82 hectares), Austrália (60 ha) e Estados Unidos, sobretudo na California (58 ha). Outros países com plantações desta variedade são Brasil (1 ha), Chile (2 ha), Nova Zelândia (8 ha) e Espanha (menos de 1 ha). Considerando sua área plantada ao redor do mundo, ela fica entre as 30 uvas de maior relevância.
Principais denominações de origem
Na Itália, a Montepulciano é a uva principal em diversas denominações de origem. Na região de Abruzzo, onde essa variedade, com quase 18 mil hectares plantados, representava mais de 50% da área total de videiras, é a uva principal de várias DOCs e DOGCs. Exemplos são Colline Teramane (mínimo de 90% na composição), Montepulciano d’Abruzzo (mínimo 95%), Controguerra (mínimo 70%), Ortona (mínimo 85%), Villamagna (mínimo 95%) e Cerasuolo (mínimo 85%).
Em Marche, a Montepulciano se destaca na DOC Rosso Conero (mínimo 85%), Rosso Piceno (entre 35% e 85%) e Offida Rosso (mínimo 50%). Ela também é presente, entre outros, nos vinhos de denominações de origem em Molise (Biferno e Pentro d’Isernia), Umbria (Lago di Corbara e Rosso Orvietano), Lazio (Castelli Romani, Velletri, Cerveteri e Tarquinia), Puglia (San Severo Rosso) e Emilia-Romagna (Colli di Rimini).
Características
A Montepulciano é uma variedade que se adaptou muito bem às condições do centro-sul da Itália, com clima quente e baixa umidade. Mostrando vigor intermediário e maturação tardia, é uma uva de cachos médios e compactos, com grãos também de médio porte, com cascas grossas e de coloração bem escura e reflexos azulados. Além de dar origem a monovarietais, frequentemente é usada em cortes, principalmente com a Sangiovese.
Seus vinhos, em sua grande maioria tintos, são apreciados por seus sabores macios e frutados, coloração intensa e taninos delicados. Na Itália, dois estilos de tintos são mais comuns: um mais frutado e outro com uso mais intenso de carvalho. Há também exemplos de vinificação em rosé, como na denominação Cerasuolo d’Abruzzo. Tanto para os tintos como para os rosés, um produtor em especial merece destaque: Emidio Pepe.
Nomes alternativos
Por conta de sua concentração em uma região relativamente pequena na Itália, esta variedade não recebe uma grande quantidade de outros nomes. Segundo o catálogo da Universidade da California – Davis, são eles: Cordisco, Cordisio, Montepulciano d’Abruzzo, Montepulciano di Torre de Passeri, Morellone, Primaticcio, Primitivo, Sangiovese Cardisco, Sangiovese Cordisco, Torre dei Passeri, Uva Abruzzese e Uva Abruzzi.
Fontes: Foundation Plants Services Grapes, UC Davis; Distribution of the World´s Grapevine Varieties, OIV; Quatrocalici; Registro Nazionale Varietà di Viti; Winefolly; Wein Plus;
Imagem: Foundation Plants Services Grapes, UC Davis
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