Non-Vintage (NV) de Champagne

Podemos dizer, sem medo de errar, que o glamour na região de Champagne reside nas Cuvées Prestige, que aliás foi tema da nossa coluna aqui no WineFun em novembro de 2022. Porém, há muito mais o que investigar nesta região.

Na coluna desse mês iremos explorar uma outra face do Champagne: os Non Vintage (não safrado, em português). Eles concentram o grande volume da região, nas pequenas e grandes marcas, e faz dessa área uma grande potência econômica. Ao final, iremos listar alguns rótulos que ilustram os diferentes estilos do Champagne NV.

Alguns Champagne NV

O business Champagne

A produção de vinhos de Champagne é uma atividade importante no cenário econômico da França. Em 2021 o volume de vendas atingiu cerca de € 5,0 bilhões, o que fez que o vinho fosse a atividade mais relevante a região que empresta o nome.

Os números de Champagne impressionam. Ocupa apenas 4% da área cultivada de vinhedo na França, 34,3 mil hectares no total, mas 20% do total da receita oriunda de vinhos país e 22% nos valores da exportação do setor. Os NV representam cerca de 90% das receitas da região.

Busca de consistência

O propósito do Champagne “não safrado” é entregar consistência ao longo do tempo. Composto pela mistura de diferentes safras, o enólogo tem como desafio disponibilizar ao consumidor a mesma experiência, independente do ano em que é produzido.

Dessa forma, não faz muito sentido, num encontro de uma confraria, organizar uma horizontal de uma determinada marca de um Champagne NV. A não ser se for para constatar se o enólogo foi capaz de fazer bem o seu trabalho, pois o que se espera é exatamente consistência ao longo das diferentes safras.

Quando beber?

Também não faria sentido comparar os “NV” de diferentes safras, pelo simples motivo, de que eles não foram feitos para serem armazenados. Um “NV” deve ser consumido assim que engarrafado. Não significa que eles possuem uma data de validade curta, muito ao contrário. A questão é que um “NV” pouco se beneficiará com a guarda.

E nesse contexto, vale citar a Master of Wine Anne Krebiehl MW que escreveu o seguinte na Decanter Magazine de janeiro de 2021: “… um NV é recomendado para aqueles que pretendem manter uma garrafa na geladeira, em caso de uma necessidade inesperada…”. Se bem que no Brasil, vale dizer que o preço de um NV torna proibitivo essa “casualidade”, mas isso é uma outra conversa.

O fato é que, enquanto um Champagne Vintage (safrado) e um Cuvée Prestige ganham com a guarda, o mesmo não ocorre com os NV.

Cada produtor, um estilo

Num mundo em que todos os produtores de espumantes se espelham em Champagne – e muitos poucos conseguem –  podemos dizer que há uma tipicidade nos vinhos produzidos nessa região. E dentro de Champagne, mesmo sabendo da tipicidade que envolve todos os seus vinhos, podemos dizer que há diferentes estilos.

E são diversas as variáveis que definem o estilo de um NV de cada produtor. O mais óbvio é o blend de uvas. Champagne admite sete variedades em sua formulação. Três delas, porém, dominam o cenário, respondendo pela imensa maioria da uva cultivada: Chardonnay, Pinot Noir e Pinot Meunier.

Porém, na elaboração de seus vinhos, cada Maison é livre para escolher a composição do blend, podendo inclusive usar apenas uma delas.

Processo de vinificação

Além disso, há outras variáveis  no processo de vinificação que definem o estilo do NV produzido:

Reserva técnica – O NV é uma mistura de várias safras. A reserva técnica é o vinho armazenado ao longo do tempo por cada produtor e que será adicionado com a safra mais recente para ser engarrafado. Constitui num elemento fundamental para dar o “estilo da casa”.

Tempo de envelhecimento em garrafa em contato com as leveduras. Apesar da regulamentação definir um prazo mínimo, cada produtor é livre para envelhecer por um período superior.

Por fim, e talvez mais importante, é o terroir de origem do NV. A região de Champagne abriga quatro sub-regiões geográficas: Montagne & Val de Reims, Vallée de la Marne, Côte de Blancs e Côte de Bar. Cada uma dessas quatro sub-regiões subdividem-se em diferentes terroirs.

Alguns exemplos de Champagne NV com estilos de vinificação distintos

A lista de rótulos que iremos apresentar a seguir não tem a pretensão de ser exaustiva. Ela foi construída a partir da experiência pessoal do autor que, infelizmente (ou felizmente), até o momento foi capaz de provar apenas uma pequena parte dos rótulos da região.

Estilo redutivo, jovem e fermentado em tanque: Taittinger Brut Reserve NV e Ruinart R. Brut NV
Fermentado em madeira, com estilo mais oxidado: Boillinger Special Cuvée NV
Grande quantidade de reserva técnica com idade elevada: Charles Heidsieck Brut Reserve NV.
Champagne muito seco: Drappier Brut Nature NV e Pol Roger Brut Nature NV .
Sem fermentação malolática – Gosset Brut Reserve NV
Rosé elaborado através de maceração (apenas uvas tintas) – Laurent-Perrier Cuvée Rosé NV
Rosé feito através do blend de uvas brancas e tintas – Veuve Clicquot Rosé NV e Ruinart Rosé NV

São muito os estilos de Champagne NV e muitos motivos para, como diria Don Perignon “beber estrelas”. Santé !

Renato Nahas é um grande apreciador de vinhos que adora se aprofundar no tema. Concluiu as certificações de Bourgogne Master Level da WSG, e também de Bordeaux ML.  É formador homologado pelo Consejo Regulador de Jerez e Italian Wine Specialist – IWS e Spanish Wine Specialist – SWS pela WSG. Sommelier formado pela ABS-SP, possui também as seguintes certificações: WSET3, FWE e CWS, este último pela Society Wine Educators.

Disclaimer: Os conteúdos publicados nesta coluna são da inteira responsabilidade do seu autor. O WineFun não se responsabiliza por esses conteúdos nem por ações que resultem dos mesmos ou comentários emitidos pelos leitores.

Foto da capa: Renato Nahas, arquivo pessoal

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