O papel de fatores subjetivos na avaliação de safras: um exemplo empírico

Assim como avaliações de vinhos necessariamente incluem elementos subjetivos, o mesmo parece acontecer com avaliações de safras. Analisando algumas das principais publicações e críticos que avaliam safras ao redor do mundo, é muito comum encontrar enormes disparidades. E, curiosamente, esta falta de consenso parece ter origem no mesmo fator: o gosto pessoal.

Em sua obra Inside Burgudy, Jasper Morris, por muitos considerado a maior autoridade do mundo na avaliação de vinhos da Borgonha, entra nesta discussão. Ao discutir os fatores que usa para avaliar as safras, este simpático britânico destaca um elemento central: o gosto pessoal e a expectativa que cada um tem com os vinhos de uma safra. E lança um interessante exercício.

Múltiplas opiniões

Ao invés de simplesmente classificar as safras da Borgonha de acordo com sua visão, Morris usa um exemplo para evidenciar a disparidade que pode existir nas tabelas de safras. Ele recrutou quatro amigos (imagino que com amplos conhecimentos de vinhos e safras da Borgonha) para avaliar as safras entre 2000 e 2019 da região. O critério foi simples: avalie a safra em uma escala de 0 a 10, de acordo com sua percepção de qualidade.

O avaliador A deixou claras suas preferências: vinhos tintos mais robustos e encorpados; nas suas palavras “me dê vinhos nos quais eu possa cravar meus dentes”. Já o degustador B prefere o lado etéreo da Pinot Noir: “delicadeza é o que estou buscando”. O avaliador C, por sua vez, prefere vinhos brancos mais encorpados e com fruta mais madura, como um Chardonnay da California. Por fim, o degustador D usa, entre seus descritivos favoritos, expressões como “tensão”, “mineralidade”, “precisão” e “vinhos elétricos”.

Os resultados

A tabela abaixo mostra a diferença que o gosto pessoal pode fazer na hora de avaliar uma safra. Mas um alerta. Me parece óbvio que, quando falamos de uma publicação de maior circulação, há um modo de atuação mais profissional. Na hora de classificar safras, elas possivelmente trabalham com opiniões mais consensuais, incluindo mais que uma opinião. Isso, porém, raramente é visto entre críticos individuais. As opiniões destes, assim, tendem a ser mais heterogêneas.

SafraAvaliador AAvaliador BAvaliador CAvaliador D201996972018867720176789201678642015968620145791020134754201267682011466720108986200995862008486720074747200666752005107862004255720038563200268672001786720005676

Sabendo usar as tabelas de safras

Para você que gosta de Borgonha, vale a pena analisar os dados acima e tentar identificar qual estilo melhor te representa. Mesmo quem não aprecia os vinhos desta região (se é que existe alguém), vale a lição: entenda o gosto do avaliador antes de seguir suas recomendações. Há elementos bastante subjetivos envolvidos e eles podem fazer uma enorme diferença.

Ciente destas diferenças, a WineFun desde seu início tenta mostrar e respeitar as diferentes opiniões na avaliação de safras. Nossas tabelas de safras buscam compilar o maior número possível de avaliações, não somente de conselhos de denominações de origem e outros órgãos oficiais, como também de publicações e críticos e respeitados.   Cabe a você escolher a publicação ou crítico cujo estilo mais se aproxima do seu, ou usar nossa avaliação agregada, que leva em conta a média das diferentes opiniões.

Fonte: Inside Burgundy, Second Edition, Jasper Morris

Imagem: Gerd Altmann via Pixabay

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