Há muita discussão em torno do que seja e para que serve o terroir, esta palavra francesa, que não encontramos uma tradução literal em nossa língua. Vou apelar para um enólogo, dos mais competentes que conheço que é o Marcelo Retamal, responsável por muitos anos pela De Martino no Chile: “Terroir, para mim, é uma somatória da geologia; solo; clima; vinhedo e manejo”.
Grafei vinhedo e manejo em negrito, pois é aqui que eu quero me apegar um pouco mais nesta minha consideração sobre o tema. Quando temos vinhedos diferentes, uvas distintas e em parcelas diversas, para mim fica claro, que uma “parte” daquele terroir, está se expressando! A mesma coisa se aplica, quanto ao manejo.
Natureza e ação do homem
Terroir no meu entendimento, além é claro, de expressar com nitidez, para quem queira ver, uma característica local, deve ter muito nítida em que condições de manejo e com quais uvas e vinhedos estamos trabalhando. Claro que podemos assumir de pronto que poderemos, e que temos vários terroirs em uma mesma propriedade. O solo não se modifica independentemente de divisas?
Por que será que os mais antigos, que nada ou quase nada entendiam de terroir, cientificamente falando, procuravam vinificar seus melhores caldos, com “aquelas parreiras”, que formavam uma parte diferenciada dentro da parcela? Eram melhores que outras, e eles ao longo de anos e mesmo de gerações, sabiam disso, e delas faziam seus vinhos mais tops.
O clima teria mudado em torno delas? Talvez o manejo, visto serem as queridinhas? Agora, muito provavelmente a geologia e solo, não eram os mesmos, pois eram diferenciadas no meio das outras parreiras, estas que se destacavam como excepcionais. Acredito que tenhamos que buscar uma tipicidade maior, que nos permita identificar os vinhos daquela região ou mesmo, daquela parcela de tal produtor, busca essa feita com critérios. Aí vem a pergunta: Mas tipicidade é mais importante do que gosto?
As melhores condições
Ou seja, deixar de fazer um vinho que ao longo do tempo já tenha caído no agrado, para buscar-se uma tipicidade, que muitas vezes irá pedir mudanças de manejo? Ou será melhor começar do zero com um novo vinho? Vou colocar mais uma pitadinha nesta questão: Se o manejo da propriedade tender ao orgânico, ou mesmo ao biodinâmico, isto não muda tudo?
Eu, particularmente, não por saudosismo, mas por constatação, vejo que os mais antigos é que sabiam respeitar os limites, no trato à terra, aos animais e a natureza. Ou seja, já praticavam a biodinâmica, com bons resultados para a época, sem saberem que o nome da cultura, gerações mais tarde, seria “biodinâmica”.
Então, mãos à obra, e busquemos esta expressão individual, esta tipicidade, mas pensando mais holisticamente no todo, pois ai poderemos extrair verdadeiramente as melhores condições de cada parcela do parreiral, o terroir de origem!
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Fotos: Álvaro Cézar Galvão, arquivo pessoal
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