Oídio: conheça a praga que afeta videiras ao redor do mundo

O século XIX marcou profundas transformações na viticultura ao redor do mundo, principalmente na Europa. A chegada de diversas enfermidades afetando as videiras, sobretudo originárias da América do Norte, causou enormes perdas nos vinhedos europeus. O mundo do vinho nunca mais seria o mesmo, com consequências sentidas até hoje.

De todas estas doenças, certamente a que desperta mais familiaridade é a filoxera. Causada por um pulgão, ela pode levar as videiras à morte e dizimar os vinhedos, caso medidas extremas não sejam tomadas. Porém, ela não foi nem a primeira nem a mais letal praga a atingir os vinhedos europeus no século XIX. Estas duas “honrarias” cabem ao oídio, que destruiu uma parte significativa dos vinhedos europeus cerca de 20 anos antes da filoxera.

Impacto dramático

Originário das áreas centrais e leste dos Estados Unidos, o oídio apareceu pela primeira vez na Europa em 1845, na Inglaterra. Foi quando um jardineiro inglês chamado Tucker notou que videiras estavam contaminadas por uma estranha praga em Margate, próximo da foz do rio Tâmisa. Dois anos depois, a doença atingiu estufas na França e na Bélgica e, a partir daí, seu impacto sobre a viticultura francesa foi dramático.  

A partir deste momento, espalhou-se rapidamente pelo continente, até que em 1851 atingiu todos os países produtores de uvas da Europa. As perdas causadas pela doença foram enormes e crescentes na França até 1854. Neste ano, o oídio derrubou a colheita francesa de uvas em cerca de 75%, dizimando a viticultura em algumas regiões. O preço do vinho dobrou e, também, a qualidade caiu. O quadro somente mudou com a descoberta da melhor forma de prevenção e cura.

O que é o oídio?

O oídio é uma doença fúngica que afeta as áreas verdes da videira, causada pelo fungo Erysiphe necator, anteriormente conhecido como Oidium tuckeri. Sua transmissão ocorre de duas formas. A primeira é pelo vento, a partir de plantas contaminadas, com o fungo se alojando em gemas da videira. A detecção, porém, ocorre somente quando o novo broto nasce. A segunda é de forma sexuada, sendo o mais perigoso, pois isso pode resultar em fungos mais resistentes.

A planta infectada apresenta diversos sintomas. O fungo forma uma rede de esporos brancos ou acinzentados, notada como manchas brancas nas partes superior e inferior das folhas. Ele atinge também as uvas, que apresentam diminuição do tamanho, lesões mais escuras e, posteriormente, rachaduras e podridões. Além do impacto sobre a videira, há consequências também sobre a produção de vinho, resultando em mostos ácidos com odor de mofo e problemas na fermentação.

Prevenção e cura

Ao contrário de diversas outras doenças fúngicas, como o míldio, o oídio afeta também vinhedos em áreas mais secas. Ele não se adapta bem nas regiões onde a umidade é maior ou os climas são mais frios, sendo mais efetivo e perigoso em regiões de clima moderado e com menos chuvas. No entanto, há algo que ele não gosta: luz ultra-violeta, de forma que maior exposição das videiras ao sol, o que pode ser feito através do controle da folhagem, pode ajudar no seu controle.

Mas a principal forma de combater o oídio é através do uso de enxofre, geralmente pulverizado sobre a videira. Curiosamente, esta solução já havia sido aplicada por Tucker na Inglaterra de 1845. Ele seguiu o exemplo de um produtor de pêssegos, que havia notado os mesmos sintomas em suas plantas e feito a aplicação, com sucesso. Infelizmente, porém, isso demorou para ser adotado no França, ganhando popularidade somente a partir de 1854. Mas foi efetivo: em 1858 a produção francesa de uvas conseguiu retornar aos níveis de 1847.

A aplicação direta de enxofre é ainda utilizada atualmente, sobretudo por produtores orgânicos e biodinâmicos. Porém, existem também diversos fungicidas sintéticos. Tanto a aplicação de enxofre como fungicidas deve ser por contato, cobrindo todas as áreas verdes da planta e sendo repetida periodicamente. Por conta de diversos mecanismos do próprio fungo, as videiras não desenvolvem resistência natural.

Impacto depende da variedade

Todas as variedades da Vitis vinifera são suscetíveis, em graus variados, ao oídio. Dentre as s variedades mais sensíveis a este fungo, destaque para Chardonnay, Chenin Blanc, Riesling, Sémillon, Moscatel, Verdelho e Cabernet Sauvignon. Por outro lado, uvas como Syrah e Grenache são menos suscetíveis.

Por conta de todas estas características, a prevenção e o combate ao oídio até hoje ocupam um espaço importante nas tarefas de viticultores ao redor do mundo.

Fontes: Oidium or Powdery Mildew of the Vine. University of California, Agricultural Experiment Station Bulletin, Bioletti, Frederic; Grape Fungal Disease – Mildew, Wine Grape Growing in South Africa; Wineanorak; Embrapa; Department of Primary Industries and Regional Development’s Agriculture and Food of Western Australia

Imagens: Farmers Weekly; Department of Primary Industries and Regional Development’s Agriculture and Food of Western Australia

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