Os Beaujolais de Jean-Claude Lapalu

Jean-Claude Lapalu é considerado um dos grandes nomes da vinicultura de baixa intervenção do Beaujolais. Polivalente, ele segrega seus vinhos em dois grupos: vinhos para beber em pé (aqueles mais leves e despojados) ou vinhos para beber sentado (vinhos mais “sérios”, com maior potencial de evolução). Como enquadrá-los? Nada melhor do que uma degustação com diversas cuvées, todas elas com uvas de cultivo orgânico certificado e uso exclusivo de leveduras indígenas na fermentação. Importados para o Brasil pela Delacroix.

Beaujolais Villages Ce Blanc 2020, 12% R$ 273

Monovarietal de Chardonnay, fermentação e maceração divididas entre barricas usadas (cerca de 2/3) e o restante em cubas de concreto. Foi engarrafado sem filtração e após leve adição de sulfitos. Mostrou coloração amarelo palha e olfativo delicado, com aromas de ervas secas, frutas brancas, cítrico e um curioso toque de óleo de fígado de bacalhau. Relativamente simples em termos de estrutura, chamou a atenção pela tensão e qualidade. Delicioso e leve, lembrou mais um Aligoté que um Chardonnay.

Tentation 2021, 12% R$ 271

Corte de 50% Syrah e 50% Gamay, engarrafado como Vin de France. “Um vinho para beber em pé”, um verdadeiro vin de soif, com olfativo marcado por frutinhas picantes, especiarias e pimenta branca. Na boca, alta acidez, taninos verdes, corpo médio a baixo e fruta menos madura.

Brouilly Vieilles Vignes 2021, 12% R$ 337

Elaborado a partir de vinhas velhas (mais de 50 anos), as uvas passaram por maceração pré-fermentativa de um dia, seguida por maceração carbônica de 12 a 14 dias. O vinho foi mantido por cinco a seis meses em tanques de concreto e engarrafado sem colagem ou filtração, com baixos sulfitos. Delicioso e leve, com notas de engaço, fruta vermelha fresca (cereja) e menta no nariz; palato de alta acidez, corpo médio e taninos presentes. Um Beaujolais sedutor, equilibrado, de boa textura e muita fruta.

Alma Mater 2020, 13% R$ 542

As uvas são provenientes de vinhas mais jovens (com menos de 45 anos) de Beaujolais-Villages e Brouilly, daí a classificação de Vin de France. Fermentação/maceração carbônica em cubas de concreto com cachos inteiros e sete meses em ânfora, engarrafado sem sulfitos. Um Gamay de concentração média/alta, com nariz fechado, notas terrosas e fruta menos fresca. Alta acidez e corpo médio, com taninos presentes, porém, o palato foi gradualmente absorvido por notas de mousiness. Seu importador nos Estados Unidos considera este vinho “uma criação distinta por si só e um ponto fora da curva na linha Lapalu”. Assino embaixo, esta garrafa, em particular, não seria nem para beber em pé, nem sentado.

Eau Forte 2020, 14% R$ 381

Outro Vin de France, com uvas de vinhas mais jovens (até 45 anos) de Beaujolais-Villages e Brouilly. Vinificação muito próxima à anterior, porém ao invés de ânforas, o vinho foi mantido em barricas usadas por seis meses. Para tomar de pé e bater palmas, um vinho que faz jus ao talento de Lapalu. Coloração rubi média a alta, com nariz complexo (fruta mais madura, cânfora, especiarias, favo de mel). No gustativo, boa acidez, corpo médio, um vinho sedoso e denso, fruta bem presente, equilibrado e longo.

Brouilly La Croix des Rameaux 2020, 13,5% R$ 379

Elaborado a partir de vinhas de mais de 50 anos. Vinificado em tanque de concreto, com maceração/fermentação semicarbônica de três semanas (mais longo que o Brouilly VV). O vinho passou seis a oito meses em barril neutro, seguido por mais um mês em tanque. Engarrafado após adição de 10 mg de SO2. Lindo vinho, mais sério e profundo. Coloração violácea de alta concetração, com notas de frutas negras, azeitona preta e flores (violeta) no nariz. Alta acidez, corpo médio (mais extração, para beber sentado), taninos finos, intenso e elegante, com fruta muito pura. WOTN entre os vinhos de safras recentes.

Côte de Brouilly 2020, 14% R$ 355

Vinificado da mesma forma que o La Croix des Rameaux, mas com uvas do Cru vizinho de Côte de Brouilly, com seus solos vulcânicos. Rubi violáceo bem concentrado, com fruta negra e notas de brett (yes, mais funky). Na boca, alta acidez (inclusive certa volátil), com corpo médio, taninos mais rústicos e muita vivacidade. Puristas não beberão, quem gosta de tensão e energia poderá gastar agradáveis minutos sentados.  

Cuvée des Fous 2020, 15% R$ 474

Elaborado com uvas proveniente de duas parcelas com vinhas mais velhas (80+ anos, inclusive uma parcela de videiras plantadas em 1900) em áreas mais quentes de Brouilly. Fermentação semicarbônica e estágio de seis a oito meses em barris neutros, mais um mês em tanques. Zero adição de sulfitos. Um vinho para degustar confortavelmente sentado, de preferência vários anos no futuro. Rubi violáceo de muita concentração, com fruta negra generosa e aromas de uva passa e melaço. Denso e untuoso, com taninos presentes, é uma representação de um Beaujolais de antigamente, mais Rhône do que Borgonha.

Les Croix des Rameau 2012, 13%

O “extra” da noite, que evidencia como um Beaujolais de qualidade evolui muito bem, obrigado. Granada de média concentração, com fruta madura e notas terrosas e sanguíneas; palato marcado por alta acidez, corpo médio e taninos granulosos. Um vinho fresco, elegante, direto e vertical, deixou aquela sensação de quero mais, mesmo sendo degustado após todo o painel acima. 

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