Passopisciaro e seus brancos e tintos do Etna

Andrea Franchetti, um romano que se firmou como um dos pioneiros da redescoberta da vinicultura do Etna, criou a Passopisciaro em 2000. Elaborou seu primeiro vinho no ano seguinte, a partir de vinhas velhas de Nerello Mascalese provenientes de um vinhedo adquirido na Contrada Rampante. Já nos anos seguintes plantou novos vinhedos, com foco em uvas não autóctones da região, como Chardonnay, Petit Verdot e Cesanese d’Affile. Por conta disso, seu portfólio de vinhos é bastante diversificado para os padrões da região.

Tive o prazer de degustar a linha completa na vinícola, e segue abaixo minha impressão sobre os vinhos, todos da safra 2020, com a exceção do Franchetti, este sendo da colheita 2017. Vamos começar pelos brancos.

Vinhos brancos

São duas cuvées de Chardonnay, com processo de elaboração similar, a diferença entre elas sendo a seleção de uvas. Após colheita manual, houve refrigeração das uvas a 10 graus por uma noite, a maioria delas com cachos inteiros. A fermentação ocorreu em tanques de inox, com uso de leveduras selecionadas. O vinho foi transferido para botti e tanques de cimento, onde passou nove meses em cada formato. Após estabilização (sem filtração) seguiu para garrafas, onde ficou por seis meses antes do lançamento.

Passobianco 2020, 13% – anteriormente chamado de Passopisciaro Bianco, foi elaborado a partir de cerca de oito hectares de vinhedos plantados por Franchetti, em altitudes entre 900 e 1.000 metros. Um vinho de entrada (produção de cerca de 40 mil garrafas/ano) de ótimo custo-benefício, com olfativo marcado por aromas cítricos e de frutas brancas, com notas de pedra molhada. Na boca, um Chardonnay de boa acidez e corpo médio, daqueles vinhos mais diretos e verticais, em uma linha que lembra mais Chablis.

PC Contrada 2020, 13% – lançado pela primeira vez em 2018, conta somente com uvas de parcelas selecionadas que, antes disso, faziam parte do vinho anterior. Com produção de 6.000 garrafas/ano, um vinho equilibrado e mineral, com aromas de mousse de limão, fruta branca e leve madeira no olfativo. Já na boca, trouxe alta acidez, corpo médio e frescor, um vinho mais intenso, elegante, profundo e complexo que o anterior.

Vinhos tintos

No total, são sete vinhos tintos, seis dos quais elaborados a partir de vinhas velhas de Nerello Mascalese, com pequena participação de outras uvas locais. Destes, um é o vinho de entrada (Passorosso, anteriormente chamado Passopisciaro) e os outros cinco são de Contrade específicas. O sétimo vinho é o Franchetti, um corte de Petit Verdot e Cesanese, em proporções que mudam de acordo com a safra.

Franchetti 2017, 15% – embora tenha sido o último a ser degustado, vale a pena a pena ser descrito primeiro, por ter características únicas, inclusive no envelhecimento (passa por barricas novas e usadas). Nesta safra foi um corte de 60% Petit Verdot e 40% Cesanese, com olfativo rico e intenso, marcado por aromas de violeta e frutas negras, com notas de alcaçuz, erva verde e eucalipto. Ao contrário de diversas experiências prévias com a Petit Verdot, no palato mostrou taninos aveludados e doces. Um vinho intenso e encorpado, de boa acidez e frescor, com toque de menta ao lado da forte presença de frutas maduras. Uma expressão completamente distinta do Etna, para quem aprecia vinhos mais volumosos e densos.

Passorosso 2020, 15% – O Nerello Mascalese de entrada (assim como no caso do branco, com produção na faixa de 40.000 garrafas/ano) trouxe presença marcante de frutas maduras, especiarias, couro e terra queimada no nariz. No gustativo, um vinho de boa acidez, corpo médio, intenso e untuoso, com discreto toque de álcool no retrogosto. Representou bem o estilo da Passopisciaro, um vinho que deve ganhar com mais alguns anos em garrafa  

Tintos das Contradas mais baixas

A vinificação de todos os vinhos de Contrada é a mesma, com as diferenças entre eles refletindo somente as distinções entre os vinhedos. A colheita das uvas foi em ponto ótimo de maturação e houve 100% de desengace, com fermentação em inox e passagem de 18 meses em grandes formatos de carvalho. Dois deles foram elaborados a partir de Contrade de menor altitude

Contrada C 2020, 14,5% – elaborado a partir de uvas da Contrada Chiappemacine (entre 450 e 550 metros de altitude). Curiosamente, apesar de uma camada de cerca de 20 cm de solo vulcânico, o subsolo tem alta proporção de calcário, que traz mais potência e intensidade. Com aromas explosivos florais e de frutas vermelhas (cereja), mostrou boa acidez, fruta bem presente, taninos finos e mais estrutura.

Contrada P 2020, 14,5% – as uvas provêm da parcela chamada Porcaria, que fica dentro da Contrada Feudo di Mezzo, a 650 metros de altitude. Refletiu muito bem o seu solo 100% vulcânico, com notas florais mais intensas no olfativo, acidez alta e tensão maior no palato. Mais seco, direto e vertical, trouxe taninos mais direitos.

Os tintos de montanha

A própria Passopisciaro denomina as três cuvées seguintes, todas da safra 2020 e com teor alcóolico de 14,5%, como “vinhos de montanha”. Isso ocorre por conta da maior altitude destes vinhedos. O Contrada G 2020 tem suas uvas provenientes da Contrada Guardiola, a 800 metros de altitude, se mostrando um vinho de coloração mais clara que os anteriores e com olfativo marcado por frutas vermelhas e especiarias. Com alta acidez e muito frescor, é um vinho elegante, com boa potência e estrutura.

Já o Contrada S 2020 recebeu este nome em função da origem de suas uvas, da Contrada Sciaranuova, a 850 metros de altitude. Um vinho delicioso, com aromas florais e de frutas vermelhas, além de notas de menta, mostrando alta acidez e muita precisão. Um vinho elegante, leve e delicado. Por fim, o Contrada R 2020, com uvas provenientes da Contrada Rampante, é aquele de maior altitude, na faixa de 1.000 metros. Ainda mais leve que o anterior, é elegante e sutil, com taninos finos e leve presença de notas mais verdes no palato.

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