Produtores de vinho do Brasil pretendem brindar mais vendas globais

Uma reportagem publicada pelos jornalistas Luana Ferreira e Will Smale na BBC News Business traça caminhos e possibilidades para o vinho brasileiro pelo mundo e aponta a percepção de qualidade que os estrangeiros que bebem o vinho produzido aqui têm a partir do primeiro gole.

Campanhas de exportação, paciência e tempo são importantes, e quando temos a chance de mostrar nosso produto, surpreendemos.

 

Confira abaixo nossa tradução informal do texto. A matéria original, em inglês, pode ser lida clicando aqui.

 

Produtores de vinho do  Brasil pretendem brindar mais vendas globais

 

Giorgia Mezacasa (foto) diz que os bebedores estrangeiros costumam ficar surpresos com o alto padrão dos vinhos que seus colegas produzem.

“O cliente compra a primeira garrafa porque tem curiosidade e se surpreende com a qualidade”, diz Giorgia, supervisora ​​de exportação da Aurora, a maior vinícola do Brasil.

“Então a segunda garrafa que compram é a confirmação de que estamos produzindo vinho de alta qualidade.”

O Brasil não é o primeiro país que a maioria das pessoas associa ao vinho. Grande parte da vasta nação tem clima tropical que é muito quente e úmido para o cultivo de videiras.

No entanto, no extremo sul do Brasil, perto das fronteiras da Argentina e do Uruguai, o clima é muito mais ameno. E é aqui no Rio Grande do Sul que o Brasil tem hoje uma próspera indústria, com mais de mil vinícolas.

No ano passado, o país produziu coletivamente 3,6 milhões de hectolitros de vinho, segundo dados da Organização Internacional da Vinha e do Vinho. Isso é certamente o suficiente para uma boa festa, mas é pouco em comparação com os gigantes do mundo do vinho.

A Itália, o maior produtor, fez 50,2 milhões de hectolitros em 2021; a França, segunda colocada, ficou com 37,6 milhões. Enquanto isso, a Argentina, que tem o maior setor vitivinícola da América do Sul, totalizou 12,5 milhões de hectolitros.

Para recuperar o atraso, o Brasil agora continua com uma campanha de exportação, na esperança de incentivar os fãs de vinho de todo o mundo a experimentar seus rótulos – mas atualmente exporta apenas 2% de sua produção.

Rafael Romagna, gerente da Wines of Brazil, explica que a agência de exportação tem uma abordagem estratégica desde que foi criada em 2004 pela União Brasileira de Viticultura para trabalhar com o governo na introdução de rótulos brasileiros em feiras de vinho ao redor do mundo.

Então, ao invés de cada vinícola brasileira ter que fazer promoção no exterior sozinha, a Wines of Brazil faria isso para todas elas. “Dificilmente uma vinícola brasileira teria como arcar com os custos de ir sozinha a esses eventos”, diz Romagna.

“Como parte da estratégia, a Wines of Brazil inscreve vinhos brasileiros em degustações às cegas, muitas vezes com resultados positivos. Nosso país ainda não é reconhecido como produtor, então as pessoas se surpreendem quando descobrem que acabaram de provar um vinho brasileiro, mais do que isso: um produto de alta qualidade.”

Giorgia argumenta que é preciso paciência para construir um negócio de exportação. “As coisas não acontecem da noite para o dia, e há todo um estudo necessário para definir que um produto é bem recebido entre os clientes no exterior.”

Ela acrescenta ainda que, embora o vinho brasileiro provavelmente seja comparado com o de seus vizinhos Argentina e Uruguai, seu foco é principalmente nos tintos, enquanto o Brasil desenvolveu uma especialização para vinhos espumantes feitos da mesma forma que o champanhe.

“Preferimos focar no que fazemos melhor – espumante”, diz ela.

A Aurora agora exporta seu vinho – espumante, além de tinto, branco e rosé – para mais de 20 países, incluindo China e Japão. A própria vinícola foi fundada na década de 1930 e continua sendo uma cooperativa de propriedade de cerca de 1.100 famílias que cultivam suas próprias uvas.

Flavio Pizzato, sócio da vinícola brasileira Pizzato, diz que o país – sede da Copa do Mundo de 2014 e das Olimpíadas de 2016 – ajudou a impulsionar as exportações de vinho, já que os dois eventos aumentaram o interesse global por todas as coisas do Brasil.

Sua empresa exporta para a Inglaterra, Alemanha e Estados Unidos, e Pizzato concorda que é preciso ter tempo para aumentar a demanda no exterior.

“Exportar é um projeto de longo prazo. Não é uma aventura de quem quer exportar uma vez, é um trabalho constante. E o vinho brasileiro evoluiu muito, não só na qualidade dos nossos produtos, mas também comercialmente.”

Rafael Boscaini, analista de exportação da Miolo diz que as vendas no exterior são impulsionadas por vinhos que obtêm boas notas em degustações profissionais internacionais, o que faz com que os compradores tomem conhecimento dos rótulos.

Boscaini acrescenta que as vinícolas brasileiras agora produzem vinhos com preços variados. “Alguns países procuram vinhos mais acessíveis, outros preferem vinhos mais caros, por isso é muito particular.”

Mas enquanto os produtores de vinho do Brasil inevitavelmente dizem que seus vinhos são excelentes, o que pensam os especialistas em vinho do exterior?

Evan Goldstein, um master sommelier de São Francisco, diz que a qualidade pode ser muito alta. “Embora o Brasil possa ser um novo participante para muitos no cenário mundial do vinho, quando as pessoas experimentam vinhos mais especiais das vinícolas elas ficam agradavelmente surpresos e encantados.”

A master of wine do Reino Unido, Rebecca Gibb, diz que o problema para os vinicultores brasileiros é incentivar os bebedores estrangeiros a experimentá-los.

“Embora não haja nada que diga que o Brasil não pode encontrar um pequeno nicho no mercado no Reino Unido, o sucesso de grande volume é difícil de imaginar, mas existem alguns importadores de mente aberta que poderiam defendê-lo”, diz ela.

“Teria que haver preço atraente, nível de qualidade ou estilo de vinho exclusivo como o Sauvignon Blanc da Nova Zelândia ou o Malbec argentino para ganhar força real. Os espumantes do Brasil, por exemplo, são bons, mas por que um bebedor de champanhe, prosecco ou cava regularmente vai optar por bolhas brasileiras?”

De volta ao Brasil, Giorgia espera que os bebedores britânicos e de outros lugares deem uma chance ao vinho brasileiro.

“Quando o assunto é vinho o Brasil ainda é relativamente desconhecido, então nossos vinhos parecem exóticos”, diz ela. “E é isso que chama a atenção das pessoas.”

imagem: reprodução BBC news.

Em abril de 2022, uma matéria assinada pelo jornalista Roger Kimball, para o site Spectator World, relatava a dificuldade de encontrar vinhos brasileiros nos Estados Unidos e a oportunidade que as marcas produzidas no Brasil têm por lá.

Relembre esta reportagem, clicando aqui

 

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