Ribolla Gialla ou Rebula: a uva branca que une a Itália e a Eslovênia

A Itália é o país do mundo com maior quantidade de variedades autóctones. Porém, no caso de algumas uvas, elas romperam as fronteiras e ganharam destaque também em outros países. Este é certamente o caso da Ribolla Gialla, conhecida como Rebula na vizinha Eslovênia, onde se tornou uma das uvas-símbolo desta pequena nação.

A Ribolla Gialla tem uma longa tradição na área que engloba o nordeste da Itália e a Eslovênia, territórios que ao longo dos séculos fizeram parte da República de Veneza e do Império Austríaco. Após altos e baixos, sobretudo do lado italiano, esta uva extremamente versátil vem rapidamente ganhando espaço nos vinhedos dos dois países e, também, começando a mostrar maior projeção internacional.

Origem e genética

Não existe ainda comprovação científica de qual seria a região de origem da Ribolla Gialla. Porém, as evidências parecem apontar exatamente para as áreas onde hoje ela tem maior presença. Por ser uma variedade que se adapta bem a terrenos de baixa fertilidade, a hipótese que tenha surgido nas regiões do Collio italiano e Brda eslovena ganha cada dia mais corpo.

Em termos genéticos, foi provado por técnicas envolvendo a análise de DNA que a Ribolla Gialla é descendente direta da Gouais Blanc (ou Heunisch Weiss, como é conhecida na Europa Central). Deste modo, mesmo sem saber quem seria o outro ascendente direto, isso coloca a Ribolla Gialla como “meio irmã” de uvas como Chardonnay, Gamay ou Aligoté. Vale lembrar que estas variedades também têm a Gouais Blanc como ascendente direta.

Longa história

O nordeste da Itália e a Eslovênia têm uma longa tradição na viticultura, que data ao menos do Império Romano. E há quem acredite que esta variedade já pudesse ser cultivada nesta época. Para alguns autores, a Ribolla Gialla corresponde à uva Avola da época romana. Para outros, foi usada para produzir o vinho Pucinum mencionado por Plínio, o Velho. No entanto, não há evidências históricas para essas hipóteses.

Suas primeiras menções datam da Idade Média. Na Eslovênia, mais especificamente na região de Brda, o registro mais antigo conhecido menciona a produção de Rebula em 1336. Ele indicou a venda de um vinhedo que declarava a produção de seis baldes de Rebula a cada ano. Já na Itália, a primeira evidência escrita data de 6 de junho de 1409, quando um banquete foi realizado em Cividale del Friuli. Esta homenagem ao Papa Gregório XII teria sido regada pelo ‘Ribolla’ da Abadia de Rosazzo.

Rumos distintos

A Ribolla Gialla seguiu sendo uma uva importante nestas áreas por muitos séculos, inclusive durante os períodos de dominação veneziana e austríaca. Na região do Friuli, dividida entre as duas potências da época, documentos evidenciam que ela era a variedade mais plantada, ao menos até a chegada da Picolit na década de 1770.

Com o final da Segunda Guerra Mundial e divisão dos territórios entre Itália e Eslovênia (na época Iugoslávia), os rumos começaram a divergir. Na Itália, a área plantada começou a cair a partir da década de 1960, sobretudo por conta do plantio de variedades internacionais, como Sauvignon Blanc e Merlot. O resultado foi uma forte redução da área plantada, que no início da década de 1980 seria inferior a 100 hectares.

Por outro lado, os vinhedos de Rebula ganharam impulso na antiga Iugoslávia, da qual a atual Eslovênia fazia parte. Por ser uma uva de alta produtividade e rendimentos elevados, ganhou a simpatia do regime de Tito e de seus planos quinquenais. Este legado se manteve após a independência da Eslovênia, declarada em 1991.

Renascimento e reconhecimento

Na Itália, porém, a situação mudou a partir da década de 2000. A forte demanda por Prosecco e Pinot Grigio criou condições para outras variedades brancas, com o renascimento da Ribolla Gialla no nordeste da Itália. Novamente por conta de sua alta produtividade e versatilidade (pode ser usada para espumantes), sua área plantada cresceu rapidamente. Em 2010, os dados indicavam mais de 435 hectares plantados, número que, segundo estimativas, pode superar 1.200 hectares atualmente.

Já na Eslovênia, a área de vinhedos se manteve mais estável, dividida principalmente em duas regiões. Na área de Brda (que faz fronteira com a Itália) a área plantada fica em torno de 370 hectares, correspondendo a cerca de 21% dos vinhedos totais. Já no vale de Vipava, são cerca de 225 hectares de vinhedos, ou 10% da área plantada.

Características

A Ribolla Gialla é uma variedade com cachos de pequeno porte, formato cilíndrico piramidal e relativamente compactos. Seus grãos são tamanho médio, com cascas pouco espessas de coloração amarela. Ela mostra boa resistência a doenças fúngicas e, por conta de sua brotação tardia, é pouco sujeita às geadas de primavera.

Com boa adaptação a terrenos pobres, pode mostrar alta produtividade quando plantada em solos mais ricos, sobretudo em planícies. Ela tem um bom perfil de acidez e é aromaticamente bastante neutra, o que confere muita versatilidade, sendo usada tanto para a produção de vinhos tranquilos, como, de forma crescente, para espumantes.

Vinhos brancos

O estilo dos vinhos tranquilos elaborados a partir da Ribolla Gialla varia bastante. Em regiões de solos mais pobres, como Collio italiano e Brda eslovena, dá origem a vinhos brancos de corpo médio, boa estrutura e destacada mineralidade, que alguns autores comparam com Albariño e Grüner Veltliner. Com maior uso de madeira na vinificação, adquire um estilo mais encorpado, que chega a lembrar a Chardonnay e até mesmo variedades brancas do Rhône.

Já em regiões planas e de maior fertilidade a qualidade dos vinhos, assim como em quase todas as uvas, acaba prejudicada. Este é um dos temores atuais dos produtores tradicionais de Ribolla Gialla, que enxergam a forte expansão recente dos vinhedos na Itália como um risco para a reputação desta variedade.

Espumantes e vinhos laranja

Além de vinhos brancos tranquilos, o perfil de alta acidez torna a Ribolla Gialla apta para a produção de espumantes. Isso ajuda a explicar o forte crescimento recente da área plantada na Itália. Porém, há um estilo de vinho que talvez tenha sido o principal responsável pelo renascimento da Ribolla Gialla, ao menos entre os apreciadores de bons vinhos.

São os vinhos brancos de maceração, também conhecidos como vinhos laranja. O sucesso de produtores como Gravner e Radikon são marcos fundamentais na projeção que esta uva ganhou nas últimas décadas. Este estilo segue com muitos adeptos no Collio e em Brda, muitos dos quais usando a Ribolla Gialla como variedade principal.

Áreas produtoras

Embora a Ribolla Gialla não conste no banco de dados da OIV (Organização Internacional da Vinha e do Vinho), as estimativas mais recentes trazem uma boa perspectiva desta uva. Dados recolhidos junto aos conselhos de várias denominações de origem mostram que a grande maioria dos vinhedos está distribuída entre o nordeste da Itália (mais especificamente as regiões de Friuli-Venezia Giulia e Veneto) e a Eslovênia.

Existem também pequenas áreas plantadas ao longo do litoral da Croácia e, também, na região grega de Kefalonia. Nesta ilha, que passou cerca de 300 anos sob domínio veneziano, a uva recebe o nome de Robola. Há também pequenas parcelas na Áustria e França, além de países do Novo Mundo, como África do Sul, Austrália e Brasil. Nos Estados Unidos, curiosamente, ela é plantada, embora em pequena escala, tanto na Costa Oeste (California) como Leste (em Long Island, próximo a Nova York).

Nomes alternativos

Apesar da pequena diversidade de regiões produtoras, esta variedade acabou recebendo uma grande quantidade de outros nomes, além de seus mais conhecidos, Ribolla Gialla e Rebula. Segundo o catálogo da Universidade da California – Davis, são eles: Avola, Ribollat, Ribuole, Gargania, Pignolo, Rabiola, Rabola, Rabolla, Rabolla Dzhalla di Rozatsio, Rabuele, Raibola, Rebolla, Rebula Bela, Ribola Djiala, Ribolla, Ribolla Bianca, Ribolla Dzhalla, Ribolla Gialla di Rosazz, Ribolla Gialla di Rosazzo, Ribollat, Riboule, Ribuela, Ribuele Zale, Ribula Zuta, Robola e Robolla.

Fontes: Foundation Plants Services Grapes, UC Davis; Genetic investigation of grapevine varieties ‘Ribolla Gialla’ (Italy), ‘Rebula’ (Slovenia) and ‘Robola’ (Ionian Islands), Imazio et al; Jancis Robinson; Unraveling the genetic origin of ‘Glera’, ‘Ribolla Gialla’ and other autochthonous grapevine varieties from Friuli Venezia Giulia (northeastern Italy), Crepan et al; The Greek Wine Experience; Catalogo Nazionale delle Varietá de Vigne

O post Ribolla Gialla ou Rebula: a uva branca que une a Itália e a Eslovênia apareceu primeiro em Wine Fun.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *