Rioja Oriental: uma nova era, com foco maior na valorização do seu terroir

A Rioja, possivelmente a mais aclamada denominação de origem da Espanha, pode ser segmentada em três sub-regiões: Rioja Alta, Rioja Alavesa e Rioja Oriental. Se as duas primeiras concentram grande parte das atenções e as principais vinícolas da região, a Rioja Oriental passa por uma importante transformação, destacando suas diferenças em relação às demais.

Chamada até 2018 de Rioja Baja, ela apresenta características geográficas e climáticas distintas tanto da Rioja Alta como Alavesa. Por muito tempo, a postura adotada pela maioria de seus produtores foi tentar replicar os procedimentos que deram certo nas demais. Mas isso está mudando. Dentro da tendência de maior valorização do terroir regional, chegou a hora da Rioja Oriental assumir identidade própria e partir para caminhos alternativos.

Localização e geografia

A sub-região da Rioja Oriental (em verde, no mapa acima) inclui as áreas leste e sudoeste da Rioja, concentrando cerca de 37% dos vinhedos da região. Em termos administrativos, boa parte de seu território (cerca de 72%) é situada na comunidade autônoma de La Rioja, com os demais 28% sendo parte de Navarra. Abrange um total de 49 municípios, dos quais 41 situados em La Rioja e os oito restantes na comunidade autônoma de Navarra.

É uma área de altitudes entre 300 e 720 metros acima do nível do mar, o que a faz a mais baixa entre as três sub-regiões da Rioja. Este detalhe explica o seu nome anterior (Rioja Baja), que foi alterado a partir de 2018. Diversos produtores pressionaram pela mudança junto ao Conselho Regulador. A justificativa? Havia a percepção que a expressão baja fosse associada à qualidade do vinho, ao invés da altitude.

Clima e solo

A área da Rioja Oriental é considerada como quente e seca, com verões escaldantes. Seu clima lembra mais um semiárido do que o perfil mais temperado, visto na Rioja Alavesa e Alta. A principal diferença fica em termos de temperaturas, mais altas. Se em Elciego (Rioja Alavesa), a temperatura média anual é de 11,7 graus, em Alfaro (um dos principais vilarejos da Rioja Oriental), ela é de 14 graus, uma diferença significativa e que afeta o perfil de maturação das uvas.

A Rioja Oriental, que conta com cerca de 25 mil hectares de vinhedos, é também uma área com maior influência Mediterrânea do que Atlântica. Em paralelo, é muito afetada pelo Cierzo, um vento forte que sopra através dos vinhedos e cadeias de montanhas da região, algo que ocorre com intensidade muito menor na Rioja Alta ou Alavesa. Nestas sub-regiões, predominam os ventos frios oceânicos, provenientes do norte.

Ao contrário das duas outras sub-regiões da Rioja, quase não há presença de solos calcários na Rioja Oriental. O perfil de solo, desta forma, é composto sobretudo por depósitos aluviais e argilas com alta proporção de ferro. É uma área com maior proporção de depósitos aluviais do que a Rioja Alta, o que acaba favorecendo algumas variedades, como Garnacha e Graciano.

Uvas

A Tempranillo é a uva tinta mais plantada na Rioja como um todo, com cerca de 80% da área de vinhedos. Mas isso é diferente na Rioja Oriental. Nesta sub-região a variedade mais comum é a Garnacha, com aproximadamente 44% da área plantada, seguida pela Tempranillo, com 38%. As uvas brancas respondem por cerca de 8% dos vinhedos, abaixo da Rioja Alta (12%), mas acima da Rioja Alavesa (7%).

A alta proporção de Garnacha reflete o terroir desta área, mais adequado a esta variedade. A Garnacha é muito mais versátil e pode ser cultivada em toda a Rioja, em altitudes distintas e em quase todos os tipos de solos. Se adapta bem a climas mais quentes, até porque, algumas vezes, não consegue alcançar a maturação total em áreas muito frias.  

No passado era de longe, a uva com maior área plantada na Rioja Oriental. Porém, parte dos vinhedos acabou sendo substituída pela Tempranillo entre as décadas de 1980 e 1990, por motivos comerciais. Mais recentemente, todavia, a área da Garnacha voltou a crescer, em função da percepção de qualidade de seus vinhos. Vale lembrar que alguns dos ícones da Rioja, como o Viña Ardanza, da La Rioja Alta, têm a sua parcela de Garnacha no corte provenientes de vinhedos da Rioja Oridental.

Vinhedos, vinhos e produtores

A Rioja Oriental apresenta uma grande diversidade de terroirs. Ela vai desde as cercanias de Logroño até Alfaro, a cerca de 80 quilômetros a sudeste, seguindo o curso do rio Ebro. Porém, algumas áreas chamam a atenção, sobretudo aquelas de maior altitude (embora ainda inferiores àquelas na Rioja Alta ou Alavesa), onde a Garnacha consegue atingir sua melhor expressão. Entre elas, destaque para Tudelilla e Monte Yerga.

Nesta última, Alvaro Palacios, usando sua longa experiência no Priorat, estabeleceu novos padrões para a Garnacha na Rioja. Tendo removido a Tempranillo dos blends, sua vinícola Palacios Remondo é uma das únicas vinícolas da região explorando quase que exclusivamente a Garnacha. Porém, produtores independentes locais ainda são minoria da Rioja Oriental, ainda dominada por cooperativas e por produtores sediados na Rioja Alavesa ou Alta, que usam uvas de suas parcelas da Rioja Oriental para seus blends. Além da Bodegas Palacios Remondo, vale a pena conhecer também os vinhos da Bodega Vico, Vinícola Real e Bodegas Marqués de Reinosa.

A Rioja Oriental, porém, não se resume aos vinhos tintos. Há uma produção pequena de vinhos brancos (sobretudo a partir da Viura) e uma crescente participação de rosés. Estes últimos, elaborados geralmente com alta proporção de Garnacha, se beneficiam da alta qualidade das uvas da região. Vale lembrar que a Garnacha é um importante componente dos principais vinhos rosés da Rioja, inclusive no icônico Tondonia Rosado Gran Reserva, elaborado pela López Heredia na sub-região da Rioja Alta.

Fontes: Rioja Wine; The Wines of Spain, Julian Jeffs; Spanish Wine Scholar Manual; Guia Peñin; Rioja – Introducing Spain´s Most Famous Wine Region, Sarah Ewans MW; Vinos y Bodegas de Rioja; Decanter; Muriel Wines

Mapas: Rioja DOCa; Rioja – Introducing Spain´s Most Famous Wine Region, Sarah Ewans MW

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