Barbaresco muitas vezes é apontado como uma espécie de “irmão mais novo” de Barolo. E dois fatores ajudam a explicar esta percepção. Apesar de estar situada a cerca de 15 quilômetros de Barolo, a denominação de origem Barbaresco é uma região menos conhecida fora dos meios especializados e de menor produção (o volume de vinhos produzidos é cerca de um terço de Barolo).
Porém, quando se fala em qualidade de vinhos, não existe uma hierarquia definida, até porque são vinhos de características distintas. Origem de alguns dos vinhos mais elegantes e delicados do Piemonte, Barbaresco conta também com diversos produtores de alta gama. E, ao lado de nomes mais conhecidos como Angelo Gaja e Bruno Giacosa, não há como deixar de lembrar dos expressivos vinhos de Alfredo e Luca Roagna.
Vinhedos de alta qualidade e baixa intervenção
Controlando diretamente cerca de 20 hectares, dos quais 12 deles plantados com videiras, a Roagna tem acesso a alguns dos melhores vinhedos de Barbaresco e Barolo. Além disso, passou também a administrar e utilizar parcelas de alguns vinhedos de terceiros. Exemplos são Albesani e Gallina, dois Crus adjacentes localizados na comuna de Neive. Independentemente da posse ou não, adotam os mesmos princípios nos vinhedos,. Não há uso de herbicidas, pesticidas ou fertilizantes, com foco principal em vinhas velhas.
Na adega, a Roagna trabalha de acordo com os princípios de baixa intervenção e uso de técnicas tradicionais do Piemonte. As fermentações e macerações são longas (muitas vezes entre 60 e 100 dias), com uso exclusivo de leveduras indígenas, geralmente usando pé de cuva. Os vinhos passam por longos períodos de maturação em botti, sendo engarrafados sem filtração ou colagem, com baixo adição de sulfitos.
Dois Barbarescos
Pela primeira vez, alguns de seus vinhos chegaram oficialmente ao Brasil, trazidos pela Clarets. Tive a oportunidade de provar alguns deles em evento organizado pela importadora. A degustação começou com o Barbaresco Albesana 2016, apenas em sua terceira safra, já que as uvas provêm de vinhedos arrendados. Albesana é um dos Crus mais interessantes de Barbaresco e parcelas dele formaram por muito tempo a base da famosa cuvée Santo Stefano, de Bruno Giacosa.
Um vinho elegante e delicado, com aromas intensos onde se destacaram cerejas selvagens e notas florais (rosa) muito presentes, deixando em segundo plano discretos toques de menta e madeira. Sublime e sedutor na boca, mostrou alta acidez, fruta muito pura, corpo médio, além de taninos finos e presentes. Sedoso, leve, elegante e complexo, muito agradável para consumo imediato. Com poder de evolução (sim, é Nebbiolo), está sendo oferecido, já considerando o desconto, a R$ 1.399,80.
O segundo vinho degustado foi o Barbaresco Gallina, também da safra 2016 e com o mesmo teor alcoólico do anterior (14,5%). Um vinho muito mais aromático e intenso, com o olfativo marcado por aromas de frutas vermelhas (cereja e ameixa), notas de especiarias (pimenta branca e leve gengibre), além de discretos toques de piche e terra molhada. Na boca, também se mostrou mais intenso e com mais textura, com alta acidez, corpo médio e taninos com leve rusticidade. Talvez não tão sedoso e envolvente com o anterior, mas certamente outro Barbaresco de alta gama, que também não deu qualquer indicação de seu elevado teor alcóolico. Seu preço é de R$ 1.299,60.
Barolo Pira e conclusão
Este monopole de cerca de 11 hectares de área total, com 7 hectares de videiras, é o maior vinhedo de posse da Roagna e origem de seus Barolos. Situado logo abaixo do Cru Rocche di Castiglione, em Castiglione Falletto, é um vinhedo onde há uma diversidade maior de solos. Também da safra 2006, o Barolo Pira pode ser considerado o Barolo de entrada da Roagna, com tipicidade e ótima construção.
No olfativo, maior destaque para aromas de frutas vermelhas e negras, juntamente com notas de alcatrão, couro e discreto piche. Já na boca, um Nebbiolo de alta acidez, corpo médio a alto e taninos bem presentes, com textura destacada. Intenso e equilibrado, certamente precisa de mais tempo em garrafa. Deve premiar quem tiver a paciência para aguardar o momento certo e está sendo oferecido a R$ 1.599,60.
Resumindo, uma degustação que evidenciou a qualidade e precisão dos vinhos de Roagna. Meu destaque ficou com os dois Barbarescos, sobretudo para a elegância e delicadeza do Barbaresco Albesana. Se os valores dos vinhos podem assustar, vale sempre lembrar que Roagna é reconhecido cada vez mais como um dos grandes produtores do Piemonte e seus vinhos são escassos e historicamente avidamente disputados fora do Brasil.
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