Safra 2023: após recorde do ano anterior, Nova Zelândia sofre com desastre nacional

A produção de vinhos na Nova Zelândia parece viver um constante vai-e-vem nos últimos anos. Após um crescimento de 11% no volume de uvas colhidas em 2020, a safra seguinte mostrou forte queda de 19%, impactada, entre outros fatores, pelos efeitos da COVID-19. Por conta desta significativa redução na produção, o que se viu foi um significativo descompasso entre a crescente demanda por vinhos da Nova Zelândia e a oferta, pressionando os preços.

O forte crescimento de 44% no volume de uvas colhidas em 2022, assim, foi recebido com alívio, tanto por produtores como consumidores. A principal região produtora de vinhos do país, Marlborough, localizada na Ilha Sul, registrou uma safra 54% maior, ampliando sua participação no total de 75,2% para 80,6%. Já o desempenho das duas regiões seguintes em termos de produção, ambas na Ilha Norte, ficou bem abaixo.

Hawke’s Bay, por conta de uma queda de 2% do volume colhido em 2022, viu sua parcela no total cair de 11,5% para 7,8%, enquanto Gisborne, mesmo com uma colheita 11% maior, também perdeu espaço, de 4,9% para 3,8% da produção de uvas da Nova Zelândia. Dentro deste contexto, a expectativa para a safra 2023, que já está sendo colhida, era muito positiva. Mas um fenômeno natural alterou radicalmente este quadro.

Emergência Nacional

Em meados de fevereiro a Nova Zelândia decretou estado de Emergência Nacional, por conta do impacto da passagem do ciclone Gabrielle. O ciclone atravessou a Ilha Norte e deixou um rastro de destruição. Onze pessoas faleceram, dezenas ficaram feridas e cerca de 10.000 ficaram desabrigadas, de acordo com estimativas iniciais. O primeiro-ministro Chris Hipkins chamou o ciclone de “maior desastre natural” do século XXI, com danos estimados em NZ$ 13 bilhões (US$ 8 bilhões).

Esta tragédia atingiu duramente também diversas áreas vinícolas da Ilha Norte, com danos mais extensos sendo registrados em Hawke´s Bay e Gisborne. E o timing não poderia ser pior, algo que Philip Gregan, CEO da New Zealand Winegrowers, deixou bem claro. “O ciclone Gabrielle chegou perto da época mais movimentada do ano para a indústria, quando a safra de 2023 estava prestes a começar. Foi um grande golpe para os produtores e vinícolas afetados em Hawke’s Bay e Gisborne. Temos trabalhado com nossas associações regionais e agências governamentais para apoiá-los e ajudá-los a acessar os recursos de que precisam para garantir a viabilidade futura de seus vinhedos”.

Possibilidade de perdas significativas

Ainda não há estimativas precisas sobre as perdas. Gregan, porém, acredita que o impacto não será uniforme. “Temos muitos vinhedos, em ambas as regiões, que não foram tão impactados pelo ciclone. Esses viticultores estavam começando a colheita, com muitos produtores ainda se mostrando otimistas com uma safra de alta qualidade. Por outro lado, havia outros que sofreram enormes danos nas suas videiras e adegas, e estes viticultores devastados precisavam de ajuda para iniciar o processo de recuperação e reabilitação”.

Por outro lado, a Ilha Sul foi pouco afetada pelo ciclone, incluindo a região de Marlborough, líder de produção. John Forrest, proprietário da Forrest Estate, foi otimista em entrevista ao site The Real Review. “Marlborough teve muita sorte; praticamente não foi afetado por Gabrielle. Tivemos cerca de uma a duas polegadas de chuva nos últimos dois dias, o que ajudou a “engordar” as uvas de Sauvignon Blanc, algo que não gerou problemas. Estamos, porém, com a colheita sete a dez dias atrasada em relação aos últimos anos”. Esta área sofreu com o impacto do fenômeno La Niña durante todo o período de maturação das uvas, por conta de chuvas em quantidade e volume maiores do que o normal.

Fontes: New Zealand Wine; Decanter; The Real Review

Imagem: David Mark via Pixabay

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