Salvo Foti: o guardião da tradição do Etna

É impossível traçar a trajetória da vinicultura do Etna nos últimos 30 anos sem falar de Salvo Foti. Um dos responsáveis pelo enorme avanço na qualidade dos vinhos desta região da Sicília nestas três décadas, Foti mantém intactas suas raízes. Seus vinhos buscam trazer uma expressão não somente do terroir e das variedades autóctones da região, mas também o respeito pela natureza e pelas centenárias tradições de seu povo.

Em um mundo marcado por tantas classificações e pré-julgamentos, Foti busca se enquadrar de forma distinta. Ele prefere definir seus vinhos como “vinhos humanos” ao invés de classificações mais comuns como vinho natural ou “de baixa intervenção”. Nesta definição, ele valoriza a continuação das práticas agrícolas e vitícolas de seus antepassados. Destaque para a utilização da condução das videiras em alberello e o papel do Palmento, nome das antigas estruturas de vinificação espalhadas por todo o Etna.

Trajetória e novos caminhos

Salvo Foti tem um longo histórico no Etna, incluindo participação central em projetos pioneiros na região. Um exemplo é a vinícola Benanti, onde foi enólogo-chefe por vários anos a partir de sua criação em 1988. Em 2010 resolver começar seu projeto pessoal, chamado I Vigneri, em homenagem a uma associação de vinhateiros criada em Catania em 1435. Em paralelo, segue atuando como consultor para diversos novos produtores.

Sempre com foco na preservação das tradições locais, é seletivo mesmo no seu papel de consultor. Somente trabalha com novos produtores que adquirem vinhedos no Etna, sobretudo aqueles com vinhas velhas, deixando para segundo plano vinicultores que arrendam vinhedos ou adquirem uvas de terceiros. Para ele, esta estratégia permite a transmissão do conhecimento ancestral, chave para o futuro da vinicultura na região.

No seu projeto pessoal agora conta também com a participação de seus dois filhos, ambos abaixo dos trinta anos e com formação em enologia. Simone estudou viticultura e enologia em Beaune por dois anos e tem experiência em vinícolas na Inglaterra, Califórnia, França e Itália. Já Andrea, o mais jovem, formou-se em viticultura e enologia em Milão. Com isso, Foti garante a continuação da tradição local também em sua vinícola.

Agricultura e vinhedos

No total, são pouco mais de cinco hectares de vinhedos próprios atualmente em produção. Há expectativa de ampliação, por conta de novas áreas plantadas nos últimos anos. Todos os vinhedos são cultivados e contam com certificação orgânica, algo que ele considera importante, mas não fundamental. Para ele, mais importante que a certificação em si fica o profundo respeito à natureza e ao terroir local.

Os vinhedos estão distribuídos por três áreas (ou versanti, como são chamados localmente) do Etna. A cantina e a maior área de vinhedos se concentram em Milo, no versante Leste, na área de produção dos vinhos classificados como Etna Bianco Superiore. São cerca de 3 hectares na Contrada Casella, situada a cerca de 750 metros de altitude. São vinhedos plantados com as brancas Carricante e Minnella, além de outros varietais em pequena quantidade.

No Etna Norte são cerca de 1,5 hectares de vinhedos na subzona Caldera da Contrada Porcaria (atualmente chamada de Feudo di Mezzo), em Castiglione di Sicilia. Plantadas a cerca de 580 metros, as uvas principais são as tintas Nerello Mascalese, Nerello Cappuccio e Garnacha (chamada localmente de Alicante).

Já no versante noroeste, fora da área da denominação de origem Etna, são duas áreas distintas. Em Bronte, na Contrada Nave, há 0,5 hectare de vinhedos a 1.250 metros de altitude. Já na Contrada Tartaraci Soprano, também em Bronte, a área é de apenas 0,2 hectare, a 1.050 metros de altitude.

Vinhos brancos

Atualmente, Salvo Foti elabora três vinhos brancos. Neles, todos classificados como Etna Bianco Superiore, a Carricante tem papel central. São eles: Aurora, Vigna de Millo e Palmento Caselle. Elaborados com uvas de cultivo orgânico plantadas a 750 metros de altitude, representam muito bem o terroir de Milo, historicamente conhecida pela qualidade de seus brancos elaborados a partir da Carricante.

O primeiro é seu branco de entrada, enquanto os dois seguintes ficam entre os mais interessantes vinhos brancos do Etna, com destaque para o Palmento Caselle, um vinho profundo e de muita complexidade.

Tintos e rosé

São quatro tintos, três deles cortes onde a Nerello Mascalese é majoritária. O I Vigneri é o vinho de entrada e totalmente tradicional, elaborado em Palmento Etneico, no modo ancestral da região. Os outros dois são o Vinupetra e o Vinupetra Viti Centenaire, com uvas de vinhas velhas provenientes da Contrada Porcaria, em Castiglione di Sicilia.

Por fim, há um tinto elaborado a partir de vinhas velhas de Grenache (chamado Radica) e um rosé (Vinudilice), com uvas provenientes da face oeste do Etna, plantadas em altitudes superiores a 1.000 metros.  A produção total da vinícola fica ligeiramente acima de 35 mil garrafas ao ano, evidenciando sua característica artesanal.

Nome da VinícolaI Vigneri di Salvo FotiEstabelecida2010 Website https://www.ivigneri.it/ EnólogoAndrea, Simone e Salvo Foti UvaNerello Mascalese, Nerello Capuccio, Garnache, Carricante, Minella Área de Vinhedos5 haSede da VinícolaMilo (Sicilia)DenominaçõesEtna Rosso, Etna Bianco Superiore, Vino RossoPaísItáliaAgriculturaOrgânica certificadaVinificaçãoBaixa Intervenção

Fontes: Website da vinícola; entrevista com o produtor

Imagem: Arquivo pessoal

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