Savennières: muita tradição e excelência com a Chenin Blanc

Savennières carrega a reputação de produzir os melhores vinhos brancos secos da região de Anjou, no Loire. Com uma longa tradição, esta área sofreu diversas mudanças nos últimos séculos, inclusive no que diz respeito ao estilo de vinho produzido e sua área demarcada. Porém, ao contrário de muitas denominações de origem vizinhas, se manteve fiel à Chenin Blanc, única variedade atualmente permitida.

O nome do vilarejo e da denominação de origem, porém, não se relaciona com vinho. Esta região, desde a época romana era conhecida pela presença de uma planta chamada Saponaria, cujas raízes e folhas contém uma substância usada para a elaboração de sabonetes. Lembrando que a palavra francesa para sabão é savon, foi natural a evolução do nome, de Vicus Saponaria para Savonnières e, posteriormente, Savennières.

Localização da denominação de origem Savennières

O vinho e as ordens religiosas

Porém, o vinho sempre desempenhou papel central na região. Acredita-se que os romanos tenham sido os primeiros a cultivar videiras na margem direita do Loire, porém o impulso definitivo veio após a chegada das ordens religiosas à área. Em 1130, o Cavaleiro de Béhuard doou suas terras para Abadia de Saint-Nicolas de Angers e rapidamente os monges começaram a plantar videiras nas encostas. Estas parcelas ganharam o nome de Roche aux Moines, que se traduz como “rocha dos monges”.

Em 1140 foi inaugurado um monastério cercado por vinhedos no vilarejo vizinho de La Poissonnière, chamado de La Priéure.  Também datadas do século XII estão as primeiras evidências de vinhedos em outra área local, até hoje chamada de Coulée de Serrant. A vinicultura na região prosperou e atingiu seu auge nos séculos XVII e XVIII, com a produção de vinhos brancos doces, aproveitando as condições locais, que favoreciam o desenvolvimento da botrytis. Existe uma detalhada descrição dos principais vinhedos datada de 1749.

Porém, o século XIX foi desastroso para a região. O bloqueio do comércio com holandeses e ingleses (grandes clientes dos vinhos locais), a popularização da chaptalização, a chegada de novas variedades à região de Anjou e a filoxera foram cruciais para um rápido declínio. A recuperação começou somente no século XX após as Grandes Guerras Mundiais e a busca por reconhecimento através de uma denominação de origem.

A denominação de origem e suas transformações

Em 1946 deu-se a aprovação da denominação de origem Anjou-Coteaux de la Loire, incluindo toda a área de Savennières. Esta sub-região, porém, receberia sua denominação própria em dezembro de 1952. Duas áreas dentro da nova AOC já mereciam destaque especial, de modo que Roche aux Moines e Coulée de Serrant podiam usar seus nomes nos rótulos, como indicações geográficas dentro da Savennières AOC. Foi somente em 2011 que as duas passaram a contar com denominações de origem próprias.

A Savennières AOC atualmente conta com cerca de 140 hectares de vinhedos, produzindo 3.647 hectolitros de vinho em 2019, o que correspondia a cerca de 485 mil garrafas. A denominação de origem se espalha pela área de três municípios (Savennières, Bouchemaine e La Possonnière) e permite apenas o cultivo da Chenin Blanc.

No passado, os vinhos doces predominavam, inclusive com as regras iniciais da AOC, divulgadas em 1952, deixando isso claro. Atualmente, porém, prevalecem os vinhos secos, embora as regras da denominação permitam também a elaboração de vinhos moelleux e doux, sempre sem chaptalização. O rendimento máximo nos vinhedos é de 50 hectolitros por hectare para os vinhos secos, caindo para 35 hl/ha nos demais. No geral, porém, os produtores dificilmente superam 30 hectolitros por hectare em quaisquer dos estilos.

Localização e terroir

Savennières fica na margem direita do Loire, cerca de 15 quilômetros a sudoeste de Angers. A denominação de origem se estende por uma faixa de aproximadamente seis quilômetros ao longo do rio, espalhada por cinco colinas de orientação sul-sudeste. Seus solos são muito antigos e metamórficos, compostos por xisto (chamado na região de schiste gréseaux) com pequenos bolsões de rochas vulcânicas.

Os vinhedos de Savennières

O clima é predominantemente oceânico, apesar da distância de 120 quilômetros do Oceano Atlântico. A região recebe influência direta do mar através do curso do Loire, garantindo boa pluviometria (650 mm/ano em média) e temperaturas médias (12 ºC) mais altas que áreas próximas. Os vinhedos se concentram nas encostas, que são cortadas por pequenos vales longitudinais ao rio, conforme mapa abaixo.

Perfil geológico de Savennières

Estilos de vinhos

Os vinhos de Savennières refletem suas condições de terroir, sobretudo a composição de seus solos. Por ser pobre, raso e de coloração escura, o solo de xisto absorve água e bastante calor, principalmente nos vinhedos com maior exposição solar, garantindo uvas de maior concentração. Isso resulta, geralmente, em vinhos mais densos e concentrados, em um estilo que pode ser chamado de tradicional. Se no passado a botrytis era mais comum, hoje ela se restringe a áreas específicas, ajudando a explicar a predominância de vinhos secos.

No entanto, é uma região que vem passando por profundas transformações no que diz respeito às técnicas de vinificação. Isso resultou, sobretudo a partir de mudanças nas regras da denominação de origem em 1996, em vinhos de diferentes estilos. De um lado, existem produtores apostando em vinhos mais ricos e densos, no estilo tradicional. Por sua vez, outros buscam brancos mais verticais e diretos, inclusive com uso exclusivo de aço inox e interrupção da fermentação maloláctica.

Mantendo as características da Chenin Blanc, independentemente do estilo adotado, são vinhos de alta acidez e grande capacidade de evolução. Mostram aromas cítricos, florais e de frutas brancas quando jovens, que evoluem para mel, frutas e flores secas após maior evolução. Dentre os vinhos brancos do Loire, ficam dentre aqueles com maior potencial de guarda.

Principais produtores

Em uma região com tanta tradição e vinhos de alta qualidade, há uma grande qualidade de produtores de destaque. Entre aqueles sediados na região, vale a pena mencionar Clément Baraut, Thibaud Boudignon, Domaine du Closel, Nicolas Joly (uma de suas cuvéesLe Vieux Clos – é engarrafada como Savennières AOC), Château d’Epiré, Damien Laureau, Domaine aux Moines e Eric Morgat.

Há também muitos produtores sediados em outras áreas, mas que elaboram vinhos a partir dos vinhedos de Savennières. Dentre eles, vale a pena conferir Patrick Baudouin, Domaine des Baumard, Domaine Belargus, Domaine de la Bergerie, Domaine des Deux Vallées, Domaine FL, Domaine des Forges, Le Clos Galerne, Loïc Mahé, Domaine Mosse, Domaine Ogereau, Château Pierre-Bise e Château Soucherie.

Fontes: Loire Master Level Study Manual, Wine Scholar Guild; The Wine Doctor; Cahier des Charges de L’appellation d’origine Savennières; Loire Valley Wine Economic Report, Vins de Loire – appelation Savennières

Imagem: jamesonf, CC BY 2.0 https://creativecommons.org/licenses/by/2.0, via Wikimedia Commons

Mapas: Vins du Val de Loire e Vins Savennières

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