Savennières Roche aux Moines: foco em Chenin Blanc e alta qualidade

Roche aux Moines é uma das áreas com tradição mais longa de vinicultura na região do Loire. Embora acredite-se que uvas já eram cultivadas na época romana, os primeiros registros datam de 1130, quando os monges cistercienses da Abadia de Saint-Nicolas de Angers receberam terras e rapidamente se dedicaram a o plantio de videiras e produção de vinho. Começava uma tradição que dura até hoje, com vinhos de alta gama elaborados a partir da Chenin Blanc.

Anteriormente parte da denominação de origem Savennières, desde 2011 Savennières Roche aux Moines é uma AOC independente. Seu foco é exclusivo em vinhos brancos secos, semi-secos e doces e, ao lado de sua denominação “irmã” Coulee de Serrant, dá origem a alguns dos mais disputados Chenin Blanc do mundo.

A denominação de origem Savennières Roche aux Moines

Monges e nobreza

Além da presença de ordens religiosas, é uma região também com vínculos estreitos com a realeza. Sua posição geográfica privilegiada (é uma encosta íngreme na margem leste do Loire) levou à construção de um castelo que entrou para os anais da história. Foi nos arredores do castelo de Roche aux Moines que as tropas francesas lideradas pelo príncipe Louis resistiram aos ataques dos ingleses em 1214. Após a derrota e perda de seus territórios na França, o derrotado rei inglês recebeu o nome João Sem Terra.

Embora os monges mantivessem o cultivo das videiras, nos séculos seguintes o controle dos vinhedos de Roche aux Moines passou para a nobreza, começando com Guillaume I de Craon. Posteriormente, Louis I, filho de Jean II Le Bon de Valois (fundador da dinastia Angevin), passou a controlar das terras. Elevado a Duc d’Anjou em 1360, a área passou a ser chamada de Château de la Roche-au-Duc.

Após várias gerações nas mãos da nobreza real, Roche aux Moines e o futuro Clos de la Coulée de Serrant, ainda plantados com videiras, passaram para a posse dos senhorios de Serrant até 1636. Foi quando Guillaume II de Bautru, um associado ao Cardeal Richelieu e fundador da Académie Française, assumiu o controle. François Jacques Walsh adquiriu a propriedade em 1750, mantida na família (que recebeu o título de Conte de Serrant) até o século XIX.

Rumos distintos e nova denominação de origem

Até então, Roche aux Moines e Coulée de Serrant estavam ligadas. Mas isso mudou no início do século XIX, quando houve a divisão da propriedade, inclusive Roche aux Moines, segmentada em várias parcelas. Por conta disso, hoje existem cerca de 12 proprietários distintos, com destaque para a família Laroche, que controla cerca de um quarto da área.

A história da denominação de origem Roche aux Moines é mais curta. Durante muitos anos, as vinhas de Roche aux Moines fizeram parte da denominação de origem Savennières (criada em 1952). Porém, o nome Roche aux Moines podia ser adicionado aos rótulos Savennières, designando o seu status de Cru. Foi  somente em 23 de novembro de 2011 que esta parte de Savennières se tornou uma denominação independente, com o nome de Savennières Roche aux Moines.

Localização e terroir

Roche aux Moines fica na margem direita do Loire, cerca de 12 quilômetros a sudoeste de Angers. A denominação de origem tem como centro uma colina correspondendo a um afloramento rochoso, com solos de xisto (chamados na região de schiste gréseaux) bem representativos do Maciço Armoricano. Seu limite a leste é o Coulée de Serrant, já a oeste é um vale, chamado Les Forges, que a separa da encosta do Moulin du Gué, já na denominação de origem Savennières.

Localização dos vinhedos de Roche aux Moines

Por conta de sua geologia, os solos são geralmente rasos, pouco férteis e muito pedregosos. Eles têm uma grande capacidade de drenagem e sua capacidade de reter água é baixa. O clima em Roche aux Moines reflete o prevalescente em Anjou, do tipo oceânico. O maciço de Mauges, localizado a oeste, garante esta característica oceânica por conta do efeito foehn (ventos secos e relativamente quentes que vem do topo da encosta). A precipitação é de cerca de 600 mm/ano, menor que áreas próximas, em função do impacto do maciço de Mauges.

Área de vinhedos e produção

Com cerca de 35 hectares de área delimitada, a denominação de origem Savennières Roche aux Moines conta com 25 hectares de videiras. Isso resulta em uma produção anual média de aproximadamente 490 hectolitros, que corresponde a 65.000 garrafas/ano. Existem apenas seis produtores sediados dentro da área delimitada, embora o número total de produtores atuando na região fique um pouco acima do dobro disso. Isso ocorre por conta de vinicultores com vinhedos na área, mas sede em outras denominações de origem.

A Chenin Blanc é a única variedade permitida, com destaque para vinhos secos, embora sejam também autorizados vinhos semi-secos e doces. O teor máximo de açúcar residual permitido para vinhos secos é de quatro gramas por litro, em linha com as denominações vizinhas de Savennières e Coulée de Serrant, porém metade das oito gramas autorizadas em Vouvray.

Localização de Savennières Roche aux Moines

Vinhos e principais produtores

Assim como em Savennières, não há um único estilo que tipifique a denominação Savennières Roche aux Moines. De forma geral, porém, costumam ser Chenin Blancs de alta concentração, pureza e mineralidade destacadas. São vinhos sem excesso de álcool ou influência exagerada de botrytis, com textura untuosa e grande equilíbrio.

Dois nomes sediados em Roche aux Moines chamam a atenção. De um lado, a Domaine aux Moines, controlada pela família Laroche, com vinhos mais secos e diretos. Por sua vez, Nicolas Joly, apesar de ser mais conhecido por ser o único proprietário na denominação Coulée de Serrant, tem sua sede (o Château de La Roche aux Moines, antiga propriedade dos monges cistercienses), em Roche aux Moines. Um de seus vinhos, Clos de la Bergerie, por conta disso, faz parte desta denominação de origem

Entre os produtores sediados fora de Roche aux Moines, um nome se destaca. Damien Laureau produz alguns dos melhores vinhos da região e aparece como principal nome, junto com a Domaine aux Moines. Outros nomes que merecem atenção são Domaine FL, Domaine des Forges, Château Pierre-Bise e Eric Morgat.

Fontes: Loire Master Level Study Manual, Wine Scholar Guild; The Wine Doctor; Cahier des Charges de L’appellation d’origine Savennières Roche aux Moines; Loire Valley Wine Economic Report, Vins de Loire – appelation Savennières Roche aux Moines

Imagens: Arquivo pessoal

Mapas: Vins du Val de Loire

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