Surpresa na China: o que está acontecendo com o consumo e produção de vinho do gigante asiático?

Nas últimas décadas, a China ganhou status de superpotência. Com uma população superando 1,4 bilhão de pessoas, o gigante asiático se tornou o principal importador de commodities do mundo e um importante exportador de produtos manufaturados. Estima-se que somente sua classe média supere 340 milhões de pessoas, mais do que toda a população dos Estados Unidos.

Com um mercado deste tamanho, não foram poucos os que apostaram que a China passaria em breve a ser um grande player no mercado internacional de vinhos. Seja como produtor, consumidor ou importador, as perspectivas indicavam um papel equivalente no mundo do vinho ao que a China desempenha em outras áreas. E os sinais, por muito tempo, foram animadores.

Área plantada, produção e consumo

Em 2014, a China atingiu a posição de segunda maior área plantada com vinhedos do mundo, somente atrás da Espanha. Apesar de uma parte importante desta área ser dedicada à produção de suco e uva passa, em 2012 o país asiático garantiu a quinta posição em termos de produção de vinhos. Com uma produção de 13,8 milhões de hectolitros, ficou somente atrás dos três gigantes europeus (Itália, França e Espanha) e dos Estados Unidos.

Em termos de consumo, a China fechou 2012 também como o quinto maior mercado do mundo, abaixo somente de Estados Unidos, França, Itália e Alemanha. Com cerca de 17 milhões de hectolitros consumidos, deixou para trás mercados tradicionais como Reino Unido (13 mhl), Espanha e Argentina (10 mhl). Com importador de vinhos, também fechou o ano na quinta posição. Além destas posições de destaque, mostrava uma trajetória de rápido crescimento, indicando que o céu parecia ser o limte para o vinho na China.

O quadro atual

Nada como o tempo para corrigir distorções. De acordo com dados divulgados pelo Escritório Nacional de Estatísticas da China, a produção doméstica de vinho em 2022 foi de 214 mil quilolitros, representando um declínio de 21,9% frente ao ano anterior. O volume de vinho importado também despencou, caindo 21,1%, para 340 milhões de litros. Estes números, porém, não foram um ponto fora da curva.

O declínio na indústria vinícola da China tornou-se uma tendência nos últimos anos. De um pico de 1,382 milhões de quilolitros em 2012, desde então a produção chinesa de vinho registra queda contínua e acelerada. Em 2017, por exemplo, ela estava no patamar de 679 mil quilolitros. Vários fatores explicam esta tendência. Os impactos da COVID-19, combinados com as tarifas antidumping aplicadas ao vinho australiano impactaram ainda mais o mercado chinês em 2019 e 2020. Mesmo antes da forte queda do ano passado, em 2021 a produção de vinho nacional já havia voltado ao mesmo patamar do início dos anos 2000.

Substitutos e perspectivas

Um outro fator importante sacudiu o mercado chinês de bebidas alcoólicas, entre elas o vinho. Em paralelo com o declínio do consumo de vinho, o que se viu foi um crescimento dos gastos com baijiu. Considerada como a bebida nacional de China, é possivelmente o destilado mais consumido do mundo, rivalizando com o uísque.

E o que esperar do mercado de vinhos na China? Apesar dos números desanimadores nos últimos anos, há otimismo quanto a uma possível recuperação. Curiosamente, mesmo apesar da queda na produção e consumo, a área de vinhedos segue como uma das maiores do mundo. São mais de 780 mil hectares em 2021, pouco abaixo da França, segunda no ranking, somente atrás da Espanha.

Além disso, não há como negar que a China ainda tem uma posição de destaque no vinho mundial, sobretudo para algumas regiões produtoras. Quando se fala em vinhos de Bordeaux, somente o mercado francês supera o volume destinado à China. Em 2021, o mercado chinês (incluindo China, Hong Kong e Macau) foi o maior importador de vinhos de Bordeaux, com cerca de 54 milhões das 252 milhões garrafas exportadas no mesmo período. Estes números mostram que a elitização do mercado do vinho certamente chegou também ao mercado chinês.

Fontes: OIV, State of the Vitiviniculture World Market; The Drinks Business; WineNews; Vins de Bordeaux

Imagem: Till Ahrens via Pixabay

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