Tenute delle Terre Nere: pioneirismo e qualidade na beira do vulcão

Embora o Etna tenha uma longa tradição na viticultura, os maiores avanços em termos de qualidade têm menos de 30 anos. Foi partir do início da década de 2000 que um grupo de enólogos e produtores passaram a melhor valorizar o incrível terroir desta região. E um dos nomes de destaque é o de Marco di Grazia. Este ítalo-americano, anteriormente importador de vinhos de pequenos produtores italianos para os Estados Unidos, chegou ao Etna em 2000 e criou a Tenuta delle Terre Nere.

Sua aquisição inicial foi uma parcela de 0,5 hectare na Contrada Guardiola, de onde saiu a primeira safra em 2001. Porém, a produção passou a crescer de forma mais significativa a partir de 2004, com outros vinhedos e a inauguração de instalações próprias. No local de instalação da vinícola, entre o vilarejo de Solicchiata e a cidade de Randazzo, já havia vinhedos, que foram recuperados. Boa parte desta área conta com vinhas velhas, incluindo uma parcela com videiras de mais de 140 anos. Em resumo: uma nova vinícola, mas com viticultura centenária.

A estratégia de di Grazia foi apostar em parcelas localizadas em diversas Contrade do Etna, visando diversificar sua produção e minimizar seus riscos. Isso é fundamental em uma região onde a natureza é tão imprevisível como no Etna. Por exemplo, a erupção de 1981 destruiu mais 200 hectares de vinhas antigas na região, com a lava chegando perigosamente perto de Randazzo.

Um uso interessante de lava petrificada

Vinhedos

Atualmente são cerca de 50 hectares de vinhedos, espalhados pelas encostas do vulcão. Há uma grande concentração na face norte, onde predominam as uvas tintas. Por conta disso, cerca de 70% dos vinhedos são plantados com variedades como Nerello Mascalese e Nerello Cappuccio. As uvas brancas são Carricante, Catarratto, Inzolia, Grecanico e Minnella. Desde o início, o cultivo dos vinhedos é de acordo com princípios orgânicos e isso segue até hoje, com certificação orgânica obtida em 2010.

Boa parte dos vinhedos é de vinhas velhas, entre 50 e 100 anos, além de uma parcela de cerca de mais de 140 anos (Vigna di Don Peppino), que sobreviveu à filoxera e é até hoje em pé-franco. Além de acesso a vinhedos antigos, a proximidade com o vulcão traz duas características distintas: solos vulcânicos e vinhedos em altitude, começando a cerca de 400 metros até 1.000 metros. Vale lembrar que o Etna, com 3.350 metros de altitude, é o maior vulcão ativo da Europa, uma enorme montanha que cobre uma parte significativa do leste da Sicília.

A Tenuta delle Terre Nere possui vinhedos em diversas Contrade na face norte do Etna, com destaque para sete delas, onde elabora vinhos tintos com uvas provenientes exclusivamente destas áreas. São elas: Calderara Sottana (altitude entre 600 e 650 metros), Feudo di Mezzo (650 mts), Moganazzi (700-750 mts), Santo Spirito (700-750 mts), San Lorenzo (700-750 mts), Bocca d’Orzo (800 mts) e Guardiola (850-900 mts). Além disso, cultiva áreas em duas Contrade com foco em vinhos brancos: Montalto (900-975 mts) e Salice (850 mts), na face sul e leste (Milo) do vulcão, respectivamente.

Vinificação

Pode-se dizer que a Tenute delle Terre Nere não trabalha com modelos rígidos no que diz respeito às técnicas de vinificação. Em função das diferentes altitudes de seus vinhedos e da grande variabilidade entre as safras no Etna, há mudanças nos processos adotados para cada cuvée. O objetivo final é garantir a melhor qualidade possível.

No caso dos vinhos tintos, há diversos pontos em comum, porém. As uvas são sempre 100% desengaçadas e as fermentações feitas com leveduras desenvolvidas na vinícola, em geral de forma natural, mas com adição se necessário. As macerações e fermentações duram entre 10 e 15 dias, sempre com temperatura controladas, seguidas por fermentação maloláctica.

O tempo de permanência em carvalho e o formato utilizado, todavia, variam bastante entre os diferentes vinhos e de acordo com as safras. Há utilização tanto de barricas como de formatos maiores, como botti, mais utilizados para os vinhos de entrada. Também a proporção de carvalho novo varia, geralmente na faixa de 20% para os vinhos de Contrada.

Vinhos de entrada e brancos de Contrada

Com uma produção anual na casa de 300 mil garrafas, a Tenute delle Terre Nere tem a maior parte de sua produção concentrada nos seus três vinhos de entrada. Etna Rosso (quase metade da produção), Etna Rosato (40 mil) e Etna Bianco (60 mil) são os vinhos de maior volume. A produção de cada um deles, porém, varia bastante ao longo das safras, tanto pelas condições como pela decisão de produzir mais ou menos dos vinhos de Contrada.

Já os vinhos brancos de Contrada contam com quatro cuvées distintas, com produções entre três e cinco mil garrafas ao ano cada. A partir de vinhedos na face norte do vulcão são elaborados Le Vigne Niche – Calderara Sottana e Le Vigne Niche – Santo Spirito. Já com uvas provenientes de parcelas na parte sul surge o Le Vigne Niche – Montalto. Por fim, há um Etna Bianco Superiore, o Le Vigne Niche – Salice, com uvas da região de Milo.

Vinhos tintos de Contrada

Apesar da qualidade de seus demais vinhos, foram os tintos de Contrada que deram à Tenuta delle Terre Nere a reputação que ela disfruta hoje. Atualmente são oito cuvées diferentes, provenientes de sete Contrade. Embora não haja no Etna uma pirâmide hierárquica de qualidade de vinhedos, a vinícola trabalha com uma escala interna, dividindo seus tintos de Contrada entre Premier e Grand Crus.  

Na categoria Premier Cru são quatro vinhos: Feudo di Mezzo, Moganazzi, Santo Spirito e Guardiola. Os quatros demais são engarrafados como Grand Cru: Calderara Sottana, San Lorenzo, Dagala di Bocca d’Orzo e Prephylloxera La Vigna di Don Peppino. Por sua pequena produção e peculiaridades, os dois últimos merecem uma atenção à parte.

Um de seus rótulos

O Dagala di Bocca d’Orzo é elaborado a partir de uma parcela de 0,5 hectare que, milagrosamente, sobreviveu à erupção de 1981. É uma pequena ilha (daí o nome Dagala) no meio da lava petrificada, que teve sua primeira safra em 2019. Já o Prephylloxera La Vigna di Don Peppino conta com videiras com mais de 140 anos, em uma parcela de 0,8 hectare dentro da Contrada Calderara Sottana, próxima à sede da vinícola.

Nome da VinícolaTenuta delle Terre NereEstabelecida2001Website http://www.tenutaterrenere.com/it/index.phpEnólogoCalogero Statella UvasNerello Mascalese, Nerello Cappuccio, Carricante, Catarratto,
Inzolia, Grecanico, MinnellaÁrea de Vinhedos50 haSede da VinícolaRandazzo (Sicília)Denominações de OrigemEtna Rosso, Etna Bianco, Etna Rosato, Etna Bianco SuperiorePaísItáliaAgriculturaOrgânica certificadaVinificaçãoConvencional

Fontes: Entrevista com o produtor, website da vinícola; Skurnik Wines (seu importador nos Estados Unidos)

Imagens: Arquivo pessoal

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