O mundo do vinho vive um período de valorização das uvas autóctones, que bem representam o terroir de suas regiões de origem. E a Itália tem muito a oferecer em termos de quantidade e qualidade destas variedades, com uma imensa diversidade de uvas espelhando as significativas diferenças entre suas várias regiões. E quando se fala do Trentino, no Nordeste italiano, uma uva chama a atenção: a Teroldego, apelidada localmente de “Príncipe do Trentino”.
Esta variedade é considerada autóctone desta região, mais especificamente da Piana Rotaliana ou Campo Rotaliano, uma planície cercada pela cadeia de montanhas das Dolomiti. É a variedade tinta mais cultivada na região, mas se espalhou também por outras partes da Itália. Além disso, ganhou uma discreta presença internacional, ainda restrita, porém, a pequenas áreas nos Estados Unidos, Austrália e, também, no Brasil.
Origem, parentescos genéticos e nome
As primeiras menções da Teroldego datam de 1383, mais especificamente nos campos entre Trento e Povo. Foi nesta época que um documento descreveu o uso de um barril de vinum teroldegum para pagar os juros de um empréstimo. Acredita-se que, neste período histórico, a uva era cultivada entre Rovereto e o Campo Rotaliano. Há evidências de sua expansão no norte da Itália nos séculos seguintes, como na região de Valtellina, onde é conhecida como Merlina desde o século XV.
A análise genética parece confirmar sua origem no Trentino, como resultado de cruzamentos entre uvas locais com variedades de origem estrangeira. Seu DNA mostra que a Teroldego é uma “tia” da Syrah, por conta de sua relação direta com a uva Dureza, considerada como “pai” da variedade típica do vale do Rhône. Esta relação com a Dureza a coloca também como descendente da Pinot Noir. Há também uma relação genética direta com a Lagrein, também muito cultivada no norte da Itália.
Há diversas hipóteses para a origem do nome Teroldego. Uma das mais usadas é aquela que associa a palavra com o termo Tiroler Gold, que traz uma direta associação entre sua qualidade e sua presença na região do Tirol. Porém, a explicação mais provável é aquela que associa a uva com o vilarejo de Teroldeghe, que fica na comuna de Mezzolombardo, que engloba parte da área do Campo Rotaliano.
Características e vinhos
A Teroldego é uma uva que apresenta cachos de tamanho médio a grande, em formato alongado e piramidal. Seus grãos são de tamanho médio, formato esférico, cascas grossas e coloração negra azulada. É uma variedade de alto vigor, com produção e rendimento médios e constantes, porém com pouca resistência contra doenças fúngicas, especialmente o oídio.
Seus vinhos normalmente mostram coloração rubi com alta concentração (a depender da extração adotada por cada produtor). O olfativo geralmente traz aromas intensos de cereja, mirtilo, violeta e, com mais tempo de evolução, notas de café, alcaçuz e couro. No palato, costuma ser um vinho intenso, encorpado e seco, com boa acidez, fruta abundante, taninos bem presentes e um leve amargor no retrogosto, lembrando amêndoas.
Área plantada e nome alternativos
As estatísticas da OIV, referentes a área plantada da Teroldego em 2015 colocam a Itália com cerca de 627 hectares, seguida pelos Estados Unidos, com 124 hectares. Dados mais detalhados dos vinhedos italianos, porém, mostram uma maior área plantada, com forte crescimento entre 1990 e 2010, para cerca de 800 hectares. Não há estimativas detalhadas para as áreas em outros países, como Austrália e Brasil.
Considerando sua relativamente pequena presença fora do Trentino, não há muitos nomes alternativos para a Teroldego. Segundo o catálogo da Universidade da California – Davis, são eles: Teroldego Rotaliano, Teroldigo, Teroldega, Teroldico, Teroldila, Tiraldega, Tiraldola e Tiroldico.
Fontes: Foundation Plants Services Grapes, UC Davis; Distribution of the World´s Grapevine Varieties, OIV; Foradori; Catalogo Nazionale delle Varietà de Vite; Quattro Calici; Piana Rotaliana
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