Se beber vinho é fácil, o mesmo não pode ser dito em relação a conhecer este assunto a fundo. E uma das maiores dificuldades é entender o amplo vocabulário existente a respeito deste líquido maravilhoso. São tantos os termos associados ao vinho, que são necessários cuidados para não confundir alguns deles.
Quando se fala da elaboração de vinhos, surgem muitas dúvidas, até por conta de uma certa “liberdade” no uso dos termos. Uma delas diz respeito à definição da composição dos vinhos. Ele é feito apenas com uma variedade de uva? Neste caso, estamos falando de um vinho varietal. Porém, esta definição não é tão objetiva como parece.
Na maioria das regiões vinícolas do mundo é legal chamar de varietal também os vinhos que contenham uma pequena proporção de outra uva. O máximo varia entre 25% e 15%, dependendo do país. Ou seja, nestes casos, um vinho com duas uvas (desde que uma seja maioria esmagadora) pode ser chamado de varietal.
Para que facilitar se é possível complicar….
Se um vinho com duas uvas pode ser chamado de varietal nestes casos específicos, como podemos chamar outros vinhos com duas ou mais uvas em proporções mais equilibradas? Em português, o termo mais usado é vinho de corte, ou simplesmente corte. Já no francês, que é certamente a língua que mais contribuiu com expressões para o dicionário do vinho, existe um debate sobre o uso destes termos.
Assemblage ou coupage? Alguns autores entendem que estes dois termos sejam praticamente sinônimos. Para eles, ambos significam a mistura de uvas, mostos ou vinhos de diferentes origens, variedades distintas ou mesmo anos de colheitas (como na Champagne, onde é comum misturar safras diferentes). Porém, esta definição está longe ser consenso.
Para outros especialistas, os dois termos podem até ser parecidos, mas são fundamentalmente diferentes. Coupage (cuja tradução em português seria corte) indica a mistura de uvas, mostos ou vinhos de origens variadas. Já assemblage também significa misturar uvas, mostos ou vinhos, porém provenientes da mesma denominação de origem. Para eles, a assemblage tem como objetivo aprimorar o vinho, o que não ocorre na coupage. Esta última seria simplesmente um procedimento de uso de uvas de denominações diferentes, por isso rendendo, inclusive, uma conotação negativa.
E onde fica o blend?
Outra expressão muito usada é blend, originária da língua inglesa, mas cada dia mais globalizada como o termo mais usado para designar misturas de bebidas alcóolicas. É o termo usado, por exemplo, para indicar a mistura de diversos uísques para compor um blended whisky. Quando não há mistura, ou blend, estamos falando de um single malt. Se aplicarmos esta definição para o mundo do vinho, fica claro que o conceito está muito mais próximo de coupage do que assemblage.
No entanto, a grande maioria usa o termo blend como sinônimo de assemblage. Por exemplo, o Bordeaux blend, ou corte bordalês, é feito na região de Bordeaux usando diversas uvas locais com o claro objetivo de obter vinhos de melhor qualidade. Focando apenas nas três uvas principais, a Cabernet Sauvignon contribui com estrutura e potencial de evolução, a Merlot traz presença de fruta e suavidade para o corte, enquanto a Cabernet Franc aporta aromas. Cabe ao enólogo definir qual a melhor combinação.
Assim, com tantas definições diferentes e até mesmo conflitantes, vale sempre um pouco de cautela. Seja usando ou se deparando com termos em português, inglês ou francês, é importante conhecer melhor as diferenças.
Imagem: Ulrike Leone via Pixabay
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